A prática do esquema de rachadinha que ronda a família do presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou à tona nesta sexta-feira (6), após a revista Veja divulgar áudios e mensagens de um antigo funcionário do clã, Marcelo Nogueira dos Santos. Ex-assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, entre 2003 e 2007, e caseiro até o ano passado da advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher do atual presidente, Nogueira afirma ter provas do envolvimento da família no esquema de corrupção que podem ser embaraçosas para todos os seus membros.
Segundo a publicação, ele estaria exigindo dinheiro de Ana Cristina para não revelar tudo o que viu, ouviu e participou aos longos dos mais de 10 anos em que trabalhou com a família. O ex-caseiro afirma possuir imagens que mostram a advogada contabilizando o dinheiro arrecadado com o recolhimento de parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro. Em entrevista à colunista do portal UOL Juliana Dal Piva, em setembro do ano passado, Marcelo Nogueira já havia acusado a ex-mulher de Bolsonaro de comandar o esquema de rachadinha no gabinete do 'filho 01' e replicá-lo no mandato do vereador Carlos Bolsonaro.
Segundo ele, os funcionários repassavam à advogada entre 80% e 90% dos seus vencimentos. E, conforme mostra a publicação, ela ainda era casada na época com Jair Bolsonaro – o que também indica um favorecimento, ainda que indireto.
Troca de acusações
Nogueira também diz ter reunido conversas reveladoras sobre a real participação de alguns dos principais personagens envolvidos na trama. A chantagem teria começado no ano passado, depois que ele se desentendeu com Ana Cristina e deixou o emprego. Mas o clima foi piorando nas últimas semanas, segundo a revista Veja, quando as ameaças resvalaram no filho e no próprio presidente da República.
Em um dos diálogos obtidos pelo veículo, o ex-funcionário pede R$ 200 mil para não contar o que sabe às autoridades. Em outra, deixa claro que, se não for atendido, tornará todo o material público. E, em uma terceira mensagem, Nogueira afirma que, se não for atendido, a desavença vai terminar em morte.
À entrevista, a ex-mulher de Bolsonaro disse que as pessoas querem a prejudicar para atingir o mandatário. “O alvo é o presidente, como está acontecendo agora”. Ana Cristina, que pretende se candidatar a deputada pelo PL, disse também temer as ameaças de Nogueira.
Procurado pela revista, o caseiro reafirmou que dispõe das provas sobre as rachadinhas mas que aguarda “momento estratégico” para mostrá-las. O objetivo, segundo ele, é inviabilizar a campanha da ex-patroa. O caseiro também negou as ameaças, apesar dos áudios. À reportagem, ele disse que os R$ 200 mil cobrados se referem a direitos trabalhistas que lhe são devidos. E que as extorsões e intimidações “nunca existiram”. Marcelo Nogueira também disse temer pela sua vida e que estava tentando ingressar em um programa de proteção a testemunhas.
Relação próxima
A Veja afirma que outro filho do presidente, Jair Renan, chegou a acionar o Gabinete de Segurança Institucional após ver o que parecia ser o vulto de um homem nos fundos da casa. Renan pensou que poderia ser Marcelo Nogueira ou alguém relacionado a ele. Em uma mensagem de aniversário, publicada em suas redes sociais, o filho de Bolsonaro já chegou, contudo, a homenagear o ex-funcionário, descrevendo-o como “um grande amigo”.
“Você me ensinou muito, especialmente a como me tornar uma boa pessoa. Sua empatia e seu carinho são contagiantes, e eu serei eternamente grato a Deus por tê-lo colocado em nosso caminho”. A foto foi posteriormente deletada após Marcelo Nogueira acusar a Ana Cristina de comandar o esquema de rachadinha.
O caso das rachadinhas ainda segue sob investigação e ronda família Bolsonaro há quatro anos. Nesta semana, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) começou a julgar um recurso sigiloso do Ministério Público que pede a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 37 pessoas. Entre elas, Flávio Bolsonaro, Ana Cristina, Fabrício Queiroz e Marcelo Nogueira.