A jornalista Shireen Abu Akleh foi homenageada nesta quinta-feira (12/05) na cidade de Ramala, na Cisjordânia, em meio a pedidos por uma investigação independente para apurar as circunstâncias e responsabilidade pela sua morte.
A palestino-americana, que trabalhava para a rede Al Jazeera, morreu na quarta-feira após ser atingida por um disparo na cabeça enquanto cobria uma operação militar israelense na cidade de Jenin.
A Al Jazeera e testemunhas no local, incluindo um colega repórter da mesma emissora e um fotógrafo da agência de notícias France Press (AFP) apontaram que ela morreu como resultado de tiros disparados pelas forças israelenses. A rede sediada no Catar acusou, em comunicado, que Abu Akleh foi atingida "deliberadamente".
Shireen Abu Akleh, uma palestina cristã de 51 anos que também possuía cidadania americana, usava um capacete e um colete à prova de balas com a palavra "Imprensa" escrito nele quando cobria a operação, num campo de refugiados.
Israel diz "não ter certeza" sobre a responsabilidade
As autoridades de Israel afirmaram que solicitaram uma investigação conjunta junto às autoridades palestinas e disseram que "não está claro" quem teria sido o responsável pela morte.
Inicialmente, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, indicou que, segundo informações recolhidas, existia uma "considerável possibilidade" de que palestinos armados tenham sido os responsáveis pela morte da jornalista.
Mais tarde, porém, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, afirmou que os israelenses não têm certeza sobre o que aconteceu e que não poderia descartar a possibilidade de o disparo ter sido efetuado por israelenses. "Não temos certeza de como ela foi morta, mas queremos chegar ao fundo desse incidente e descobrir a verdade o máximo que pudermos", disse Gantz a repórteres.
Cerimônia homenageia jornalista
Na quinta-feira, o corpo de Abu Akleh foi levado ao complexo presidencial da Autoridade Nacional Palestina para uma cerimônia oficial em Ramala.
O presidente Mahmoud Abbas prestou homenagem à jornalista e rejeitou a oferta de Israel para uma investigação conjunta.
"Rejeitamos a investigação conjunta com as autoridades de ocupação israelenses porque eles cometeram o crime e porque não confiamos neles", disse Abbas.
Ele acrescentou que a Autoridade Nacional Palestina "irá imediatamente ao Tribunal Penal Internacional" para denunciar o caso.
Em 2021, as forças de Israel destruíram um edifício que sediava os escritórios da agência de notícias Associated Press e outras organizações jornalísticas na faixa de Gaza. O ataque aconteceu uma hora depois de os militares terem avisado o proprietário que iam atacar o edifício, ordenando a sua evacuação.
Abu Akleh recebeu homenagens de jornalistas de todo o mundo nas mídias sociais. Muitos ofereceram condolências e lamentaram a perda de uma colega altamente respeitada, conhecida por sua cobertura firme de assuntos do Oriente Médio.
Muitas pessoas depositaram flores no local da morte da jornalista, e manifestações foram registradas em diversas regiões dos territórios palestinos.
Ela "era a irmã de todos os palestinos", afirmou seu irmão Antun Abu Akleh à AFP.
Crescem os pedidos por investigação independente
Os apelos por uma investigação independente sobre os responsáveis pela morte de Abu Akleh também ganharam apoio de grupos de jornalistas e líderes mundiais.
Christophe Deloire, diretor-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, disse que a organização estava "decepcionada" com a oferta de Israel de realizar uma investigação conjunta, acrescentando que "uma investigação internacional independente deve ser iniciada".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, por sua vez, disse estar "chocado" e instou "as autoridades da região a realizarem uma investigação independente e transparente" para garantir que os responsáveis pelo assassinato sejam responsabilizados. A diplomacia da União Europeia também pediu um inquérito "independente".
Durante uma visita a Teerã nesta quinta-feira, o emir do Catar, Tamim bin Hamas Al-Thani, acusou Israel de matar a jornalista. "Os autores deste crime hediondo devem ser responsabilizados", declarou.
Já os Estados Unidos, aliados próximos de Israel, apelaram para uma investigação rápida sobre a morte de Abu Akleh. Por outro lado, os americanos disseram que Washington confiaria em uma investigação liderada pelos israelenses.
"Pedimos uma investigação imediata e completa", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, em uma coletiva de imprensa. "Os israelenses têm os meios e as capacidades para conduzir uma investigação completa e abrangente."
A Al Jazeera informou que o corpo de Abu Akleh será levado para Jerusalém Oriental nesta quinta-feira. O funeral deve ocorrer numa igreja da cidade, e o enterro está previsto para sexta-feira.