Nesta terça-feira (10), vereadores que integram o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Curitiba votaram pela cassação do mandato do vereador Renato Freitas (PT). O processo ainda será votado no plenário da Casa e, caso aprovado pela maioria absoluta (20 dos 38 vereadores), resultará na perda do mandato.
Segundo o regimento da Câmara, a defesa de Freitas tem o prazo de cinco dias úteis (contados a partir do dia 10) para recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso a CCJ não altere a decisão do Conselho de Ética, o Legislativo tem prazo de três sessões para marcar a sessão de julgamento do vereador.
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Renato é alvo de cinco representações por quebra de decoro parlamentar, após participar de ato antirracista que culminou na entrada dos manifestantes na Igreja do Rosário, no Centro de Curitiba, em fevereiro.
O vereador petista negou ter organizado a manifestação, que seria “horizontal”, com vários proponentes, e afirmou que o ato na praça coincidindo com o final da missa teria sido um acaso, já que aconteceu mais ou menos no mesmo horário em todo o país, em várias cidades.
Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Freitas afirma que irá recorrer dentro da Câmara e também em outras instâncias jurídicas, devido a inúmeras ilegalidades no processo.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato Paraná - Para você, qual o significado dos discursos e votos dos vereadores integrantes do Conselho de Ética que votaram pela cassação do seu mandato?
Eles mostraram o que eu sempre soube, mas me espantou o caráter farsesco e teatral daquilo tudo. Os maiores algozes, os inimigos, os que estavam armando por trás, como bem revelaram os áudios vazados do vereador Márcio Barros, que instigava pressão para cima de vereadoras, eram os que davam os mais largos sorrisos para mim. E chamam isso do “modo político” de ser. Ou seja, uma deturpação radical do que podemos chamar de sinceridade.
Todo o processo movido ali teve a hipocrisia como condutora. Hipocrisia foi o norte de todo o processo movido na Câmara Municipal. Hipócritas são covardes e não têm coragem de enfrentar a verdade. Por isso, armam por trás, fazem conluios, e na tua frente sorriem. E, portanto, a política ali feita por estes que defenderam minha cassação não tem compromisso com a verdade.
Se o resultado se mantiver na votação no plenário, seu mandato recorrerá a outras instâncias?
Esse processo tem problemas graves e iremos recorrer, sim, ao judiciário para pedir a nulidade.
O Brasil de Fato noticiou que um e-mail com ofensas racistas foi enviado do gabinete do vereador Sidnei Toaldo (Patriota), que é relator do seu Processo Ético Disciplinar. Ele entrou em contato com você para explicar o ocorrido?
Não houve nenhum tipo de contato por parte dele. O que revela total descaso com o assunto por parte dele e também da Câmara, que deveria ter interrompido imediatamente o julgamento.
Eu gostaria que ele viesse a público explicar. Mas isso não ocorreu. Passaram por cima disso.
Politicamente, o que há de ser feito em relação ao seu processo?
Existe um conluio de muitos vereadores com a prefeitura, no lugar de fiscalizar o Poder Executivo. Vereadores com parentes em cargos da prefeitura. Então, esse é o sistema.
O que tenho feito, nesse momento, é mapear dentro da minha cabeça da onde vieram e podem continuar vindo os ataques contra o que eu represento. Desde empresários, militância bolsonarista, que migra para o ódio e fascismo, e políticos de extrema direita.
Você teve medo ou pensou em desistir de fazer política?
Eu perdi meu pai e meu irmão muito cedo. Convivo com a morte na periferia. Pra gente, morrer é fácil, viver que é difícil.
Então, sim, o sistema vai fazendo a gente perder a vitalidade. A vontade de viver. Eu percebi isso em mim. Mas o que eu tenho é fé em Deus e a luta para prosseguir.
Quais são seus projetos futuros?
Eu vou continuar me dedicando aos meus projetos voltados para a periferia e também um novo que será para os egressos do sistema penitenciário.
Tenho, pelo Núcleo Cultural Periférico, um projeto, o "Narrativas Marginais", que leva arte para os jovens das comunidades do CIC [bairro Cidade Industrial de Curitiba]. Eles têm uma bolsa, pois ajuda também a inibir a evasão escolar. Temos mais de 50 alunos.
Outro projeto que vou iniciar e já foi aprovado chama-se "Homem na Estrada", em alusão à música dos Racionais. É para egressos do sistema penitenciário e vai levar cursos de arte e cultura, profissionalizantes, e também aulas de criminologia, sociologia. Então, é isso, é o recomeço.
Essa música fala assim: “Um homem na estrada recomeça sua vida, sua finalidade a sua liberdade que foi perdida, subtraída e quer provar a si mesmo que realmente mudou, que se recuperou e quer viver em paz e não olhar para trás...”
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini