O ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica está preocupado com a atual situação política da América Latina. "A democracia está desacreditada, está envenenada", afirmou na sexta-feira (13), durante o evento de encerramento da Assembleia Mundial de Emaús, organização que combate a pobreza e a exclusão social.
À frente do Uruguai por cinco anos, entre 2010 e 2015, Mujica foi enfático ao alertar sobre os perigos que o continente passa no momento. "Existem pesquisas realizadas na América Latina que revelam que 27% ou 28% da população latino-americana está de acordo com governos autoritário. Isso é porque a democracia está perdendo prestígio, por que a política está distante da população comum."
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Como presidente, Mujica ficou marcado por seu altruísmo, pela simplicidade e por liderar a aprovação de leis de teor progressista, como o casamento gay, o aborto e a regulação da produção e consumo da maconha. Em 2018 ele foi eleito senador, aos 83 anos, mas acabou renunciando dois anos depois, anunciando sua aposentadoria política.
Na fala feita na última sexta, o ex-presidente voltou a defender os valores que se espera de um político: "A política não é uma profissão para fazer dinheiro, quem quer que vá para o comércio, para a indústria - e pague os devidos impostos. A política é uma paixão de sociedade."
Não vai desaparecer sozinho
Sem citar nominalmente nenhum presidente, Mujica reforçou a necessidade da população se unir para impedir que o autoritarismo se estabeleça no continente latino-americano.
"Se queremos respaldar a democracia temos que nos preocupar quem são aqueles que elegemos para conduzir a política de nossa sociedade. Não se trata de ser objetivo e neutro, porque não se pode ser presidente ante a dor e angústia de tanta gente. Isso é a responsabilidade política."
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Pepe Mujiica também defendeu uma união para derrotar o sistema neoliberal.
"O neoliberalismo não vai desaparecer por obra do tempo e do espaço. Ele é uma construção de carácter humano, e somos nós os humanos que precisamos desconstruí-lo. Não estamos sozinhos, existem muitos movimentos sociais pelo mundo. não está tudo perdido, nem está tudo ganho. Só há um horizonte de compromisso e luta."
Edição: Lucas Weber