Após três anos da implementação da militarização nas escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal, parlamentares e entidades criticam o modelo de gestão compartilhada cívico-militar. Segundo o Sindicato dos Professores no DF (Sinpro), o modelo desenvolvido pelos Colégios da Polícia Militar do Distrito Federal (CPMDF) não apresenta respostas positivas nas unidades de gestão compartilhada.
De acordo com a Portaria Conjunta nº 1, de 31 de janeiro de 2019, o projeto entre a Secretaria de Estado de Educação e a Secretaria de Estado de Segurança Pública previa o enfrentamento da violência no ambiente escolar, a promoção de uma cultura de paz e o pleno exercício da cidadania.
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“Desde que foi implementada pelo governador Ibaneis Rocha a militarização das escolas apresenta resultados negativos. Depois de denúncias de assédio moral e sexual contra a equipe gestora e estudantes, além de queixas sobre a interferência em projetos pedagógicos, a mais recente prova da falência do modelo de militarização escolar foi a exoneração da professora Luciana Martins do cargo de vice-diretora do Centro Educacional 01 (CED 01) da Cidade Estrutural, escola militarizada”, diz o Sindicato em nota.
O Centro Educacional 01 foi umas das primeiras escolas de Brasília a adotar gestão escolar híbrida. Em novembro passado, estudantes e a diretora da unidade, Luciana Martins, foram censurados devido a uma exposição realizada na escola sobre o dia da Consciência Negra, em que alguns trabalhos mostravam textos e charges que retratavam a violência policial.
:: A violência se produz fora das escolas ::
Ameaça
No início do mês, o sargento da Polícia Militar do Distrito Federal e monitor disciplinar da escola, Frederico Nicurgo de Oliveira, ameaçou dois estudantes do CED 01 durante manifestação contraria a exoneração da diretora. O Policial, flagrado em vídeo gravado por um estudante, intimidou os jovens com ameaças de agressão.
Após a repercussão do vídeo, parlamentares denunciaram nas redes a ação do policial e cobraram uma medida da Secretaria de Educação do DF sobre o caso.
O deputado distrital Fábio Felix (PSOL), destacou que “lugar de polícia não é dentro da escola”. Segundo o parlamentar, a Secretaria de Educação tem silenciado professores para fortalecer o autoritarismo e a repressão nas salas de aula. “Temos que derrotar esse projeto desastroso, que ameaça a liberdade de estudantes e profissionais da educação”, pontuou Felix.
De acordo com a também deputada distrital Arlete Sampaio (PT), a militarização representa o fim da gestão democrática nas escolas do DF. “Os estudantes não podem ser tratados como marginais. Escola não é cadeia”.
Revogação
A Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), vinculada ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), emitiu um despacho no último dia 10 revogando a Nota Técnica de nº 001/2019 – PROEDUC/MPDFT5, que tornava legal a implementação de gestão compartilhada na rede de ensino.
De acordo com o despacho, a adoção de política autoritária em escolas públicas “é incompatível com os princípios que regem o Estado brasileiro e configura verdadeiro retrocesso social”.
A Promotoria apontou ainda que, transcorridos três anos desde o início da implementação da gestão compartilhada, não foi apresentada à Secretaria de Educação o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB das unidades participantes, “tampouco o índice de evasão escolar, índice de aprovação/reprovação, número de pedidos de transferências, entre outras informações requisitadas pelo Ministério Público, a fim de demonstrar a melhoria na qualidade do ensino”.
Manifestação
Com a chamada “Professor na escola, polícia na rua”, organizações, parlamentares e estudantes organizaram um ato na segunda-feira (16) para pedir o fim da militarização nas escolas.
O ativista de direitos humanos Michel Platini disse que a militarização “é um crime contra a educação. Lugar de polícia é na rua protegendo a população e não à frente das nossas escolas”, observou.
Atualmente, 15 escolas do Distrito Federal aderiram ao projeto de gestão cívico-militar.
Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino