Evelyn Rodrigues, de 20 anos, recebeu o diagnóstico de covid-19 em janeiro deste ano. Foram 15 dias em isolamento, com os sintomas variando entre coriza, cansaço e enjoos. Apesar dos sintomas leves, por conta das duas doses da vacina, a doença do novo coronavírus deixou marcas na estudante. Mesmo depois de quatro meses desde a infecção, Evelyn continua lidando com os reflexos da covid, como a perda de memória recente.
“Eu sempre tive uma memória até que boa e quando eu tive a covid, depois que passou os dias dos sintomas, eu percebi que eu estava bem esquecida. Tenho um remédio que tomo todos os dias no mesmo horário. Mas eu olhava e me perguntava ‘meu, será que eu tomei ou não tomei o remédio?!’ E eu tinha que olhar na cartela, ver se estava ali marcado, porque eu não lembrava”, descreve a estudante.
“Outra coisa que eu percebi foi quando fui fazer uma comida e não sabia se eu tinha colocado sal. Então eu coloquei sal duas vezes e a comida ficou muito salgada e em outros momentos eu não coloquei sal nenhuma vez porque eu não sabia se eu já tinha colocado ou não. Algo que também vem acontecendo muito é perda de cabelo. O meu cabelo está caindo muito desde que eu peguei (a covid), até hoje ele continua fraco e não está melhorando”, acrescenta. O que acontece com Evelyn não é um caso isolado. Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais revela que metade dos pacientes diagnosticados com a doença do novo coronavírus tiveram sequelas que passaram de um ano.
Sequelas, segundo estudo
A pesquisa acompanhou, por 14 meses, 646 pacientes diagnosticados com covid-19. Desse grupo, 324 deles tiveram sintomas após a infecção. O que é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como covid longa. Entre as consequências mais comuns estão a fadiga, tosse persistente, dificuldade para respirar, perda de olfato ou paladar e dores de cabeça frequentes. Insônia, ansiedade e tontura também foram relatados, mas por um número menor de pacientes. Já casos mais graves, como trombose, foram diagnosticados em cerca de 6% dos participantes do estudo.
Os sintomas duradouros da covid-19 foram constatados em pacientes que apresentaram os três níveis da doença. Nesse caso, em 86 de 260 que tiveram covid grave. Assim como em 43 dos 57 diagnósticos com a doença moderada e 198 de 329 de forma leve. O médico infectologista Marcos Caseiro explica que o tratamento de pacientes que apresentam sequelas da covid-19 não é global e deve ser individualizado. Por isso, segundo o especialista, o ideal é continuar se protegendo para não ser infectado.
“Os sintomas são muito graves por isso eu tenho insistido em dizer que o ideal é não pegar a covid, esse é o critério. E como? Se protegendo e utilizando máscara. Essa é a primeira questão que é fundamental. Não tem um tratamento para sequela, isso tem que ser individualizado”, observa. “Temos usado muitos antidepressivos, corticoides para essas alterações nasais de cheiro e de gosto. Veja, nós estamos aprendendo a lidar com essas complicações do vírus que são muitas. E não há uma devida sistematização dos órgãos competentes, responsáveis, e das prefeituras, dos estados. Eu desconheço, a não ser os grandes centros de pesquisas que se montou ambulatórios específicos para acompanhar esses pacientes”, completa Caseiro.
Papel do SUS
O infectologista avalia também que o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não está preparado para receber os pacientes que apresentam sequelas da covid-19. Ele ressalta a importância do treinamento da classe médica para identificar os casos e realizar o tratamento específico correto.
“É absolutamente necessário que o SUS discuta esse assunto, abra ambulatórios, faça treinamentos conjuntos com grupos de médicos para que a gente possa conduzir mais adequadamente esses pacientes. O SUS está absolutamente despreparado neste momento para as sequelas, então, muitos pacientes acabam indo para o pronto-socorro e é como se basicamente chegassem com um quadro inespecífico e muitos médicos acabam negligenciando a importância desses sintomas e a sua devida associação com a covid. É isso que estamos defendo e temos um longo trabalho pela frente, entre eles, o treinamento da classe médica para investigar esses casos e oferecer um tratamento específico seja com um antidepressivo ou outros remédios específicos para cada quadro individualizado”, sugere o especialista.
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