Sabor da Terra

Café agroecológico é saudável, sustentável e proporciona autonomia para quem produz

Documentário mostra experiência do café agroecológico na Bahia

Ouça o áudio:

Café agroecológico também traz benefícios socioambientais e renda para quem produz - MST
“Hoje são mais de 3 mil famílias que têm como atividade principal, a produção de café em 6 estados"

Quem não gosta de um café quentinho feito na hora? Mas se você soubesse que esse café, além de saboroso, é também livre de agrotóxicos, sustentável e proporciona autonomia para as famílias que cultivam? 

É exatamente esse tipo de café, o agroecológico, cultivado por famílias assentadas do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no sul da Bahia, que virou tema de documentário lançado no dia 5 deste mês.

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Segundo Daniel Mancio, do setor de produção do MST, uma das cadeias produtivas da reforma agrária que se destaca é a do cultivo de café, que além da Bahia, envolve mais cinco estados: Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo e Rondônia. 

“Hoje temos mais de três mil famílias assentadas que têm como atividade principal, a produção de café, e essa atividade tem gerado trabalho e renda nos assentamentos e até em alguns casos em até acampamentos produtivos em Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia”.


Na foto flor do café; Documentário mostra experiência do café agroecológico na Bahia / MST

Daniel explica que uma das prioridades nas cadeias produtivas do café nos assentamentos do MST é o processo de transição da agricultura convencional para a agroecológica. Esse é um dos desafios retratados no documentário Sabor da Terra: a experiência da produção de café da Bahia.

O processo envolve desde transformar áreas extensas já consolidadas com plantio tradicional em áreas agroecológicas, mas também implantar novos cafezais no modelo da agroecologia de acordo com a realidade de cada assentamento. 

Para isso, o movimento promove formação técnica dos produtores e também tecnológica. O MST faz constantes capacitações com assentados das cadeias produtivas do café de todo o país que acontecem na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, local onde ocorreram as filmagens e que fica nesta estação de referência no sul da Bahia. 

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Luara Dal Chiavon do setor de Comunicação do MST e integrante da Brigada de Audiovisual conta que todo o processo desde a concepção até a distribuição do curta foi desenvolvido coletivamente, pela Brigada Audiovisual Eduardo Coutinho e outros setores envolvidos na cadeia produtiva e com a participação de agricultores de outras partes do país. 

A produção do café da Bahia retratado no documentário beneficia pelo menos 120 famílias do assentamento Jacy Rocha e assentamentos vizinhos  que obtêm renda por meio do café. 

“A ideia é popularizar cada vez mais a agroecologia e que esse café possa chegar em mais lugares.  Ele inclusive já faz parte da merenda escolar de escolas da região e também garantem autonomia dessas famílias na produção, então esse café é importante tanto pra quem planta, quanto pra quem consome ele e também pro movimento”, diz Chiavon. 

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 Luara explica que o documentário ajuda a humanizar a luta dessas famílias camponesas. “Por muitos anos, o MST foi retratado como uma sombra nos grandes jornais, como um movimento sem rosto e adjetivado como baderneiros e terroristas, e dar rosto a essas famílias que produzem comida, inclusive dessas pessoas que falam mal do movimento, é um passo pra refletir quem é o MST e o que é o MST faz? A produção de alimentos não acontece sem a ocupação desses territórios”. 


A produção do café da Bahia retratado no documentário beneficia pelo menos 120 famílias do assentamento Jacy Rocha e assentamentos vizinhos / MST

Para Luara, o filme cumpre esse papel de informar a sociedade o que estava fazendo a partir da ocupação do latifúndio, como as famílias se organizam e cuidam da terra, mas também a distribuição do curta serve como inspiração para outros assentamentos entenderem os desafios do cultivo do café agroecológico. 

O café é um dos elementos do quintal produtivo destas famílias assentadas, mas como a colheita é só uma vez ao ano, esses produtores cuidam das suas roças com outras produções. 

No curta-metragem os assentados ressaltam que não é só uma substituição do modelo tradicional para o agroecológico, mas também é um enfrentamento do modelo agrícola que destrói a natureza adotado pelo agronegócio. 

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O processo de formação envolve universidades e especialistas, mas também a construção do conhecimento dos próprios assentados que fazem o manejo da terra. Tudo isso faz com que o café agroecológico tenha a identidade de reforma agrária para comercialização. 

“Traduzir como identidade no nosso produto final, no café torrado e moído, que tenha essa característica e possa proporcionar um café de qualidade, como um alimento saudável, possa também se alimentar de outras perspectivas agroecológicas: ambiental, social e econômica". 

Outro desafio é o beneficiamento e a agroindustrialização. “Como que esse café produzido de forma agroecológica também necessita de um beneficiamento e agroindustrialização  também agroecológica. Porque de nada adianta passar por um atravessar que mistura o café agroecológico com o café envenenado ou que agrega valor em benefício próprio”. 


O MST faz constantes capacitações com assentados das cadeias produtivas do café de todo o país que acontecem na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, na Bahia. / MST

O MST já tem duas marcas de café, o Guaii de Minas e o Terra de Sabores, marca do Espírito Santo. 

Em 2019, o documentário “Café com sabor de Resistência!” mostrou a história do Café Guaií, produzido por 450 famílias do interior de Minas Gerais, em uma área conhecida como Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio. Há mais de 20 anos as famílias estão na área, e sofrem ainda hoje diversas ameaça de despejo, mas resistem e continuam produzindo a partir do paradigma agroecológico.

Assista

Para assistir ao documentário basta acessar o link abaixo:

 

Edição: Daniel Lamir