Na última semana, aconteceu o Bembé do Mercado. Considerado o único candomblé de rua do mundo, a manifestação cultural e religiosa é realizada anualmente no Largo do Mercado Municipal de Santo Amaro, no recôncavo baiano, e reúne vários terreiros da região em uma grande cerimônia pública, além muitos turistas do Brasil e do exterior.
Como parte dos festejos, desde o dia 12 de maio, o Museu do Recolhimento dos Humildes recebe a exposição “Egbé Ojá – 133 anos de Bembé do Mercado”. A exposição busca valorizar as simbologias dos terreiros de candomblé, e trazer reflexões sobre a cultura negra, especialmente em seu sentido religioso e artístico. A visitação acontece de segunda a sexta, das 9h às 16h.
A manifestação
Adilson Sena é da cidade de Santo Amaro. Candomblecista, ele conhece o Bembé desde criança e conta sua experiência com o festejo.
"Quando eu saía da escola, no caminho de volta para casa, eu passava e via aquele largo sendo preparado para aquela festividade, sempre algo me chamava atenção e eu parava para observar. As minhas participações dentro da religiosidade do Bembé do Mercado dá-se a partir de 2012, quando eu começo a frequentar a religião do candomblé".
O Bembé do Mercado hoje é reconhecido Patrimônio Imaterial do estado da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) e do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A manifestação religiosa e cultural começou em 13 de maio de 1889, quando o Pai de santo João de Obá juntou adeptos do candomblé para celebrar a abolição da escravatura que tinha ocorrido no ano anterior.
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Adilson Sena nos conta um pouco sobre as características da festa: "Arruma-se um barracão decorado com talhos de Pindoba ou de Dendê, com bandeirolas e os instrumentos, como atabaques, além das cadeiras, que são os tronos dos Babalorixás e Iyalorixás. O Bembé tem três momentos importantes: a cerimônia aos ancestrais, o Padê de Exu, o Orô de Yemanjá e Oxum, o Xirê e a entrega do presente para Oxum e Yemanjá na praia de Itapema".
Zeza Maria é fotógrafa, psicóloga e candomblecista. Sempre admirou a cultura do Recôncavo e participou pela primeira vez do Bembé em 2018. No ano em que o festejo completa 133 anos, ela compartilha sobre a importância de preservar a tradição. "O processo de salvaguardar o Bembé faz com que a gente compreenda que mais do que uma manifestação cultural circunscrita à Bahia, ela é parte da cultura brasileira", destaca.
Durante os cinco dias de festejo acontecem cerimônias e diversas manifestações culturais. Adilson relata sobre um dos momentos que é mais marcante para ele durante o Bembé. "O primeiro dia, na quarta-feira, às 5h acontece a alvorada. Ali se faz o primeiro Xirê louvando os ancestrais e orixás, agradecendo por mais um ano e dando início a mais uma festividade. Logo no finalzinho do Xirê, é colocado um mastro com a bandeira, na qual tem escrito 'Salve 13 de maio', relembrando o ato de João de Obá fez", destaca.
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Para Zeza Maria o momento mais marcante é a entrega do presente. "A preparação do presente começa no sábado e a entrega no domingo na praia. É um percurso longo e o presente circula em um caminhão aberto pela cidade. Muita gente acompanha. Tem uma relação de muita proximidade das pessoas. Elas entram no mar, pegam no balaio e têm a oportunidade de colocar flores e seus pedidos", compartilha.
Apesar de reunir muitos turistas, tem muita gente que não conhece o Bembé do Mercado. "Acredito que todo mundo merece experimentar uma vez na vida o Bembé do Mercado. É uma representação muito relevante sobre o que é o candomblé, o que é a cultura negra e o do que é formada essa religião", explica Zeza.
Adilson conta que o Bembé não é apenas para pessoas de religião de matriz africana, mas "para todos aqueles que reconhecem a sua ancestralidade, a sua importância enquanto povo negro, povo de resistência, de luta, de memórias e de afetividade".
Fonte: BdF Bahia
Edição: Jamile Araújo