A Prefeitura de Itaboraí iniciou na noite da última quinta-feira (19) a comemoração de 189 anos da cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro com um show de intolerância religiosa. Com a primeira noite dedicada à música gospel, o palco do evento teve a participação do pastor Felippe Valadão, que fez um discurso agressivo contra religiões afro-brasileiras.
"Avisa aí, ó, para esses endemoniados de Itaboraí que o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho. A igreja está na rua, a igreja está de pé, a igreja está de pé. Pode matar galinha, pode fazer farofa, pode fazer o que você quiser. E ainda digo mais: prepara para ver muito templo de umbanda fechado na cidade. Você vai ver coisa que você nunca viu na vida", afirmou o pastor.
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Questionada pelo Brasil de Fato a respeito do ato em evento público patrocinado pelo município, a Prefeitura de Itaboraí afirmou que "o governo é para todos", que repudia qualquer manifestação de intolerância religiosa, mas que "declarações dos convidados e artistas para as apresentações são de inteira responsabilidade deles".
Em sua conta pessoal no Instagram, o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, do PL, publicou imagens ao lado do pastor. Em uma das fotos, Delaroli está no centro do palco, ajoelhado no chão e recebendo a "benção" de religiosos que estão no seu entorno.
Vice-presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça Cor Etnia Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), a deputada Mônica Francisco (Psol) afirmou que o ato "deve ser alvo veemente de condenação por parte de amplos setores da sociedade".
"Direcionar palavras de xingamento a pessoas que professam religiões diferentes, demonizar pessoas por conta da sua profissão de fé ou aquilo que fazem é extremamente contrário aos preceitos bíblicos. A narrativa bíblica não orienta a violência contra quem quer que seja e essa atitude nos causa muita tristeza e indignação", disse Mônica Francisco.
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A Comissão de Povos Tradicionais de Terreiros de Itaboraí emitiu nota em crítica à "maneira vil, desrespeitosa e ameaçadora à comunidade religiosa do candomblé e da umbanda da cidade". A Comissão questiona, ainda, o motivo de uma manifestação festiva, popular e laica ter em sua programação discurso voltado a uma religião específica.
No documento, assinado por mais de 30 lideranças, a Comissão exige a retratação do prefeito para que o poder público "venha a restaurar a ordem, igualdade, laicidade e o respeito a todo o povo religioso de Itaboraí, aviltado por esta figura desequilibrada", acrescentou os representantes, lembrando que a Lei 9.459 de 1997 considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse