A partir deste sábado (21), 3,5 milhões de trabalhadores nascidos no mês de julho tem direito de realizar o saque extraordinário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no valor de até R$ 1 mil. Segundo estimativas da Caixa Econômica Federal (CEF), o total de recursos retirados pode chegar a R$ 2,5 bilhões.
O que aparentemente seria uma boa notícia para aqueles que têm registro formal, em um momento de crise econômica, pode se tornar uma complicação, de acordo com o economista do Dieese Clóvis Scherer. "Vemos com muita preocupação esse saque extraordinário. Sabemos que neste momento o trabalhador está com seu orçamento muito apertado, inclusive porque o salário está perdendo valor para a inflação, e isso pode ser um alento para muitas famílias. Mas é momentâneo", pondera, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, advertindo que se trata de um recurso que pode fazer falta mais adiante, por exemplo, em uma situação de demissão imotivada.
O economista destaca que os valores disponíveis para saques no Fundo de Garantia são em geral baixos, já que 79% das contas possuem saldo médio de R$ 175, montante que compraria pouco mais de 20% da cesta básica de São Paulo (R$ 803,99), segundo pesquisa do Dieese feita em abril. "Esse valor não será suficiente para tirar os trabalhadores da situação de penúria que estão atravessando nesse momento."
Os saques extraordinários do FGTS têm sido usados para tentar injetar recursos na economia desde o governo Temer, mas seu efeito é limitado nesse aspecto. "É um paliativo. Tivemos saques de contas inativas em 2017; depois, em 2019 o saque imediato; em 2020, o saque extraordinário da pandemia até um salário mínimo e agora este de até R$ 1.000", enumera.
"Até agora, com os três que já foram feitos, saíram do Fundo de Garantia R$ 100 bilhões. E com este de 2022, a Caixa Econômica estima que vão sair mais de R$ 30 bilhões. É um volume muito expressivo de recursos que faz com que o FGTS não cresça. Ele está estagnado praticamente desde 2015. Em termos reais, até perdeu expressão."
Com FGTS menor, menos investimentos
Clóvis Scherer ressalta que muitas vezes as pessoas têm uma impressão equivocada sobre o que é o FGTS e qual a sua finalidade. "Muita gente acha que o dinheiro do Fundo de Garantia está guardado em um cofre forte em Brasília, na Caixa Econômica ou no Banco Central, mas as pessoas precisam compreender que esses recursos, que são contribuições que os empregadores fazem mensalmente de 8% de cada trabalhador e trabalhador, são aplicados no financiamento da construção habitacional, obras de saneamento e de mobilidade urbana. Três setores que exigem investimento de grande porte e retornam em um prazo muito longo. E são vitais para a qualidade de vida da população", explica.
Como exemplo, ele lembra que o FGTS é responsável por 400 mil unidades habitacionais construídas todo ano, gerando acima de 1,2 milhão de empregos anualmente. "O governo e o Congresso deveriam pensar em medidas para aperfeiçoar e ampliar a utilização de recursos do Fundo para essas finalidades", aponta.
Confira a entrevista na íntegra
Edição: Glauco Faria