Foi com supresa e emoção que Sônia Guajajara recebeu a indicação para a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista estadounidense Time nesta segunda (23). Ela acredita que o reconhecimento internacional é uma conquista para todas as pessoas que participam ativamente da luta indígena no Brasil.
"Não é um reconhecimento da luta da Sônia, é um reconhecimento coletivo depois de tudo que a gente vem fazendo pra combater ataques, retrocessos, retirada de direitos. É um esforço que a gente faz todos os dias", disse, em entrevista ao Brasil de Fato.
Para Sônia, o reconhecimento vem em boa hora e ajuda a dar visibilidade para as pautas indígenas, tanto dentro quanto fora do país. Ela acredita que é necessário que mais pessoas saibam a importância dos povos originários.
"É o momento pra gente sensibilizar as pessoas e conscientizar sobre o papel dos povos e dos territórios indígenas pra toda humanidade, a importância dos territórios protegidos, a demarcação das terras indígenas", disse.
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Sônia afirma que a postura do governo Bolsonaro contra os indígenas e o aumento da violência contra os povos originários estão diretamente ligadas. Para ela, muitas agressões são realizadas por pessoas que "se sentem autorizadas" pela postura do governo. Por isso, o ganho de visibilidade é ainda mais importante.
"Nos últimos anos a gente sentiu que as pessoas passaram a entender melhor e se importar mais com a pauta indígena. A classe artística tem manifestado mais apoio, participado das mobilizações, e eles atingem um público que a gente geralmente não consegue atingir", destaca.
Pré-candidata a deputada federal pelo PSOL de São Paulo, Sônia disse que é preciso fortalecer a luta indígena também nos espaços institucionais. Junto a outras lideranças indígenas ela criou a "bancada do cocar", com o objetivo de fazer oposição consistente à bancada ruralista. Hoje, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) é a única representante dos povos indígenas no congresso.
"Ali no congresso precisa ter a voz da terra, voz da floresta, da biodiversidade. E quem faz essa representação legítima somos nós, indígenas, que nos entendemos com a floresta e o meio ambiente. A gente não quer mais ser só representado, queremos ser nossos próprios representantes", destacou.
"Lula sinalizou com um ministério dos povos indígenas. Pra gente isso é importante, pode aglutinar ali toda a política indigenista, mas queremos também participar da discussão da construção do país com representação indígena forte também em outros ministérios, como o da Saúde, o da Educação e do Meio Ambiente. Queremos estar juntos na reconstrução de direitos perdidos nos últimos anos", concluiu.
Edição: Rodrigo Durão Coelho