Visitar e ser visitado é bom... quer dizer, às vezes. Alguns visitantes incomodam
A pandemia que fez a gente ficar entocado em casa tem uma sequela a que vamos nos acostumando: não receber e nem fazer visitas.
Andei indo algumas poucas vezes à casa de um amigo, depois de duplamente vacinado, para tomar vinho e conversar. Mas além de poucas, são visitas curtas, de no máximo duas horas.
Aquelas conversas animadas que duravam a tarde toda e às vezes varavam a noite, nunca mais! Nem aguento.
Visitar e ser visitado é bom... quer dizer, às vezes. Alguns visitantes incomodam.
Um deles... não vou dizer o nome, vou chamar de Zinho.
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Numa época em que morava numa república com três amigos e a tia de um deles, um dia apareceu lá o Zinho, irmão dessa tia. A gente achou que ela ia gostar de receber o irmão, mas fez cara de desagrado quando chegou da rua e deu de cara com ele na sala.
Logo ficamos sabendo o porquê.
Eu gostava de envelhecer cachaça em pequenas barricas de madeira, tinha cinco barricas de cinco litros. E ele dedicou as madrugadas a ir esvaziando uma por uma. Bebia litros por dia... E era um sujeito chato, muito chato.
Gostou do lugar, né? Duas semanas depois, nem dava sinal de querer ir embora, apesar da irmã reclamar a ele, dizer que não podia mais ficar ali. Na verdade, ele queria mesmo era ficar morando com a gente, vivendo à custa da irmã. Deu um trabalho danado para fazer o cara ir embora.
Quando, finalmente, ele se foi, nos lembramos de um ditado: peixes e visitas, com três dias fedem.
Mas tem visita demorada que não incomoda. Pelo menos para uns amigos baianos, especialmente um chamado Raimundinho. Morava numa casa bem grande, pertinho da praia, e gostava que ela ficasse cheia de gente, quanto mais tempo, melhor.
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O Mário, um amigo de São Paulo, aposentado, costumava passar uns três meses por ano na casa do Raimundinho.
Mas teve um ano que o Raimundinho me telefonou reclamando. Não da visita, mas dela ter durado pouco. Me perguntou: “Será que o Mário acha que não foi bem recebido? Ficou aqui em casa só um mês e meio”.
Só na Bahia mesmo tem gente tão receptiva assim.
Pensando nas boas visitas do Mário e na péssima do Zinho, eu me lembrei de uns versinhos do Barão de Itararé:
As visitas, meu bem,
Alegria me dão...
Umas quando vêm,
Outras quando vão.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir