Na sexta-feira (20), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba voltou a recomendar o uso de máscaras em locais fechados ou abertos que tenham aglomerações de pessoas. A medida, que não é de caráter obrigatório, foi tomada depois de a capital registrar alta no número de novos casos e de casos ativos de covid-19 ao mesmo tempo em que o sistema de saúde enfrenta aumento nas demandas por atendimento de outras doenças respiratórias.
A recomendação é para que a população use a máscara no transporte coletivo, nos terminais de ônibus, nas estações-tubo, nos shows, em escolas, em jogos, shoppings, lojas, supermercados, entre outros. Permanece, ainda, a indicação já em vigor para uso do equipamento de proteção em estabelecimentos de saúde e pelas pessoas com sintomas respiratórios (independentemente do local).
Em 29 de março, a prefeitura de Curitiba, por meio do Decreto Municipal 420/2022, aboliu o uso obrigatório de máscaras também em ambientes fechados. Na época, a cidade tinha menos de mil casos ativos (com potencial de transmissão), segundo dados do Painel Covid. E a média móvel desses casos estava em queda de 65,3% com relação ao início daquele mês, enquanto a média móvel do número de óbitos registrava redução de 50%.
Atualmente, entretanto, a capital paranaense vive uma nova onda de covid-19, com uma curva de contaminação que apresenta tendência de alta e reflete ainda a entrada da sublinhagem BA.2 da variante Ômicron na cidade. Essa sublinhagem já representa 86,7% do total de amostras no Paraná.
Na sexta-feira (27), a SMS divulgou 1.782 novos casos da doença e uma morte. A média móvel de casos nos últimos sete dias, segundo boletim da SMS, é de 1.598 casos, uma alta de quase 87% em um período de 15 dias. Já o número de casos ativos teve aumento de mais de 115% no mesmo período, com 11.668 pessoas na fase ativa da doença. E a média móvel de óbitos em decorrência da covid-19 cresceu 80% em duas semanas. Até agora, mais de 450 mil pessoas foram infectadas pelo coronavírus em Curitiba e 8.282 perderam a vida em decorrência da pandemia.
Aumento de doenças respiratórias no frio
Diante desse cenário, o uso de máscaras voltou a ser necessário e, provavelmente, precisará ser novamente obrigatório, como destaca o doutor Moacir Pires Ramos, Infectologista e Epidemiologista do Escritório Regional do Ministério da Saúde (MDS) no Paraná.
Ele explica que o Sul do Brasil registra, historicamente, aumento nas síndromes respiratórias nos meses mais frios, como maio, por exemplo. E isso, conforme alerta o infectologista, já é suficiente para que a população use máscaras em todos os lugares.
“O inverno é um período muito delicado, nele temos o aumento das doenças respiratórias, incluindo a covid-19. Assim, o uso de máscara deve ser recorrente não apenas por causa do coronavírus, mas também por causa das outras doenças como a Influenza, por exemplo”, destaca o epidemiologista.
Ramos acrescenta que, diante da alta de casos em Curitiba, em breve o uso de máscaras será obrigatório novamente. “Não tenho dúvidas que o uso de máscaras voltará a ser obrigatório em Curitiba. O cenário indica isso, com a chegada do frio as doenças respiratórias continuarão a crescer e entre elas a Covid-19. Isso pode saturar nosso sistema de saúde. Por isso, certamente o uso de equipamento de proteção deverá ser obrigatório”, afirma.
A volta da obrigatoriedade de máscaras é recomendada também pelo Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Serviço Público da Saúde e da Previdência do estado do Paraná (SindSaúde-PR). A entidade destacou essa demanda à Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), em reunião realizada na terça-feira (24), como revela Luciane Nunes Borges, uma das diretoras do Sindicato.
“Nossa posição é a de que as máscaras devem ser obrigatórias em todos os ambientes. Inclusive, levamos essa posição à Secretaria Estadual de Saúde durante reunião e eles também estão avaliando essa possibilidade”, diz.
A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba afirmou ao Brasil de Fato Paraná, por meio de nota, que, caso seja necessário, vai emitir novamente um decreto determinando a obrigatoriedade do uso de máscaras na capital. E ressaltou que a recomendação para o uso do equipamento em ambientes fechados se fez necessária depois de a capital ter registrado aumento de 10% acima do que era esperado para essa época do ano nos quadros de sintomas respiratórios.
“A recomendação do uso da máscara em ambientes fechados e em ambientes abertos com aglomeração é parte das medidas adotadas para o enfrentamento deste momento. Entre as ações, desde o final de abril, a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba vem adotando ações de reorganização em sua rede para absorver os atendimentos, como o direcionamento dos quadros leves para o atendimento via teleconsulta com profissionais da Saúde pela Central 3350-9000; ativação de leitos pediátricos prioritários para esses quadros, suspensão de parcela das cirurgias eletivas para priorizar internamentos de casos de sintomas respiratórios, reorganização das Unidades de Saúde para o atendimento em 'Y' (com eixo para atendimentos de casos respiratórios e outro eixo para as demais demandas) e a abertura de Unidades de Saúde aos sábados para o pronto atendimento de pessoas com sintomas respiratórios”, aponta o texto.
Fim do uso obrigatório foi precipitado?
Para o SindSaúde, o fim da obrigatoriedade das máscaras em março passado foi uma atitude precipitada e o número de casos e internamentos por covid-19 comprovam isso.
Já para o Doutor Moacir, os números da doença naquela época permitiam o fim da obrigatoriedade. “Não acredito que tenha sido precipitado, porque existia naquele momento uma redução significativa no número de casos. Porém, com a alta dos registros da doença nas últimas semanas, a volta da obrigatoriedade é inevitável”, afirma.
A Secretaria Municipal de Saúde também destaca que a abolição do uso obrigatório de máscara era possível naquele momento. “As decisões das medidas sanitárias a serem adotadas pelo município seguem uma série de indicadores da pandemia avaliados semanalmente. A situação epidemiológica no final de março era diferente do cenário neste final do mês de maio. Naquele momento, a cidade tinha menos de mil casos ativos, quando o vírus da covid que predominava em circulação era variante ômicron em sua sublinhagem original (BA.1). Neste final de maio, com a entrada da circulação da sublinhagem BA.2 da ômicron, o cenário epidemiológico em Curitiba tem-se uma nova alta nos casos de covid-19 – são 11,6 mil casos ativos – associado a outros vírus respiratórios que voltaram a circular fortemente, pressionando o sistema de saúde pelo aumento do atendimento por outras doenças respiratórias”, reforça a nota da SMS.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini