Hoje as mulheres buscam formas de autocuidado aliado às evidências cientificas sobre as plantas
Chá de camomila (Matricaria chamomilla) para as cólicas menstruais, casca do barbatimão (Stryphnodendron barbatiman) para banho de assento no tratamento de infecções e melaleuca (Melaleuca alternifolia) para tratamento de candidíase. Esses são apenas alguns exemplos do conhecimento popular sobre o uso das plantas medicinais para os ciclos femininos.
As plantas medicinais são amplamente usadas em comunidades tradicionais no tratamento de distúrbios menstruais e infecções ginecológicas e também por gerações anteriores, como as nossas avós, mães e tias que tinham algumas ervas que faziam parte da farmácia natural caseira.
Nos últimos anos, o uso das plantas medicinais têm ganhado cada vez mais adeptas, como recurso complementar para as mulheres que buscam mais autonomia sobre a própria saúde, como explica Fernanda Tresmondi, doutora em botânica e especialista em fitoterapia.
“Antigamente esse conhecimento era passado oralmente de geração em geração. Com o avanço do patriarcado, muito desse conhecimento das mulheres sobre os seus corpos e as formas de cuidado sobre si mesmas foram perdidos. Hoje há um resgate desse conhecimento, as mulheres buscam saber quais eram essas formas e agora aliado com as pesquisas científicas que demonstram a segurança e a eficácia desses métodos”.
Fernanda dá oficinas sobre ginecologia natural e o uso das plantas e atende mulheres que apresentam queixas de problemas femininos.
“O uxi amarelo (Endopleura uchi) associado com a unha de gato (Uncaria tomentosa) é indicada para síndrome dos ovários policísticos e endometriose. Já a angélica (Angelica sinensis) trata infertilidade, usado em extrato seco ou em cápsulas. Para as mulheres que têm muitas dores menstruais, a planta indicada é a mil folhas (Achillea millefolium) também chamada de novalgina, que é o princípio ativo da dipirona, usado como chá.
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Lembra que nós começamos falando da Camomila? A especialista em fitoterapia destaca que a camomila é indicada para todos os casos, pois ela tem propriedades cicatrizantes, calmantes, indicadas para a TPM e reduz as contrações, típicas das cólicas menstruais e não tem contraindicação; grávidas podem fazer o uso da planta.
A ginecologista Lidia Myung recomenda ervas medicinais no seu consultório como uma forma complementar o tratamento convencional em três casos, para menopausa, tensão pré-menstrual, cólicas e as dores mais intensas, como endometriose. Ela comenta as ervas e fitoterápicos mais indicados na área da ginecologia.
“O campeão é o óleo de prímula (Oenothera biennis) e óleo de borragem (Borago officinalis) beneficia tanto na questão da menopausa para controlar ondas de calor; para TPM, controla o inchaço pré-menstrual, reduz o fluxo menstrual; a maca peruana (Lepidium meyenii) aumenta a disposição e a libido na menoupausa, e para cólicas menstruais da endometriose, por exemplo, podemos usar associar a curcuma (Curcuma longa) que tem ação anti-inflamatória”.
O consumo de plantas medicinais cresceu no Brasil desde o começo da pandemia. Segundo estudo divulgado pela brazilian journals, especializada em publicações acadêmicas, o uso de ervas com eficácia clínica comprovada aumentou cerca de 27% entre 2020 e 2021.
A ginecologista fala que há um aumento na procura das mulheres por tratamentos mais naturais e mais integrativos. Ela explica que vê de forma muito positiva essa procura, pois muitas condições não graves e não emergenciais podem ser conduzidas com tratamentos naturais.
Lidia deixa um alerta para que mesmo sendo um tratamento natural, tem contraindicações, efeitos colaterais e precisa ser feito com orientação de um profissional de saúde capacitado.
“Os fitoterápicos podem acarretar riscos à saúde, como sobrecarga no fígado e no rim, processos alérgicos e pode piorar algumas condições, então a indicação é que mesmo os tratamentos naturais tenham a orientação de um profissional”, orienta.
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Desde 1980, as plantas medicinais foram incluídas no Sistema Único de Saúde (SUS) após as recomendações da Organização Mundial da Saúde e foram estimuladas ainda mais com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) em 2006, que regularizou a oferta no serviço público de saúde da homeopatia, das plantas medicinais e da fitoterapia.
No Brasil, as práticas integrativas e complementares estão presentes em quase 54% dos municípios brasileiros, sendo que 78% são recomendações nas unidades de atenção básica.
Edição: Douglas Matos