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No "Roda Viva", Haddad defende pacto por novo modelo de segurança pública

Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo afirma que campo progressista negligenciou tema e direita se apropriou

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Haddad diz que profissionais da segurança pública devem ser valorizados: "Aquele policial quer chegar vivo em casa. É um trabalhador - Reprodução

pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) afirmou que a pauta da segurança foi negligenciada pelo campo progressista ao lidar com o tema desde a Constituinte. Em entrevista ao Roda Vida, da TV Cultura, ontem (6) à noite, Haddad observou que os capítulos que tratam de educação, saúde, assistência social tiveram tratamento complexo e detalhado na Constituição de 1988. Mas que a Carta legou apenas um capítulo (III, artigo 144) sobre o tema da segurança. “Com isso a pauta acabou capturada pela direita”, disse o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo.

Nesse sentido, acabou questionado sobre como um eventual governo de esquerda conseguirá lidar com os problemas nessa área. O entrevistado, então, disse que proporá um “pacto” para o funcionamento da estrutura de segurança, tendo como avalista a própria sociedade.

Segundo ele, o diálogo com a carreira de segurança pública deve começar pelo entendimento de que são pessoas que precisam ser valorizadas. E pelo estabelecimento de um “plano de metas” que está em construção.

“Tenho conversado com os trabalhadores de segurança pública civis e militares. Precisamos valorizar o profissional da categoria e propor um plano de metas de redução da criminalidade e de aumento da resolutividade dos crimes”, diz Haddad. Esse pacto teria como contrapartida a valorização profissional. Além disso, um processo de formação continuada e investimentos em equipamento e inteligência.

Mas como dialogar com um segmento adepto ao bolsonarismo, dos policiais ao topo da hierarquia? “Se o plano de metas passar (pelo crivo da sociedade durante o debate eleitoral), vai ser implementado. Se trocar o governo, vai ter troca de comando. Aquele policial quer chegar vivo em casa. É um trabalhador. Se eu apresentar a ele um plano que a sociedade aprovou nas urnas, ele vai dizer não por quê?”, avalia Haddad.

Cracolândia

A bancada do Roda Viva cobrou de Haddad formas de o governo do estado ajudar municípios a enfrentar o drama do crack, e citou os recentes conflitos envolvendo a chamada “Cracolândia”, no centro de São Paulo. O ex-prefeito da capital (2013-2017) lembrou resultados alcançados pelo Programa De Braços Abertos.

Relatou as base do programa – proporcionar teto, tratamento e trabalho – e observou que dois terços dos participantes estavam reduzindo o consumo da droga. Mas lamentou o abandono do programa pelas gestões posteriores (João Doria, Bruno Covas e Ricardo Nunes). “Criticavam, falavam em ‘bolsa-crack’, e a cidade está pagando o preço.”

Haddad citou experiências de cidades de Portugal, Holanda e Canadá na construção do programa e na política de redução de danos. O programa consistia em entender a dependência química como problema de saúde pública e abordar os usuários a partir do consumo assistido.

“Não era um prefeito falando que o programa era bom. Havia uma avaliação externa do meio científico atestando isso. Mas acabou. Ou seja, o negacionismo não vem de hoje. Ele está presente nos mais de 670 mil mortos da covid-19. E também nas quase 2 mil pessoas abandonadas nas ruas de São Paulo.”

“Uma prefeitura não tem força de segurança pública, portanto precisa do estado, da Polícia Civil, da Polícia Militar. Inclusive para viabilizar uma política de redução de danos”, observa. “Mas o estado consegue fazer sem a prefeitura. E acho muito difícil uma prefeitura recusar apoio. Principalmente se estiver diante de uma proposta clara, que convenceu a sociedade e vence a eleição.”

Assista à íntegra da entrevista: