A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) apresentou nesta semana um novo relatório com previsões econômicas para a região. A expectativa é de que até o final de 2022, mais 8 milhões de pessoas passarão a viver em situação de insegurança alimentar somando 94,4 milhões de latino-americanos que não terão condições de realizar três refeições diárias.
A pobreza também deve aumentar. Um terço, ou 33,7% da população regional estará em situação de pobreza até o final do ano, enquanto 14,9% em situação de pobreza extrema - o que significa que terão menos U$ 1,90 por dia (cerca de R$ 9) para subsistir.
Os países mais afetados serão Guatemala, que pode chegar à cifra de 49,5% de pobres, seguida da Nicarágua com 46% da população em situação de pobreza e a Colômbia com 38%. O Brasil estaria em 11º no ranking com cerca de 21,4% da população pobre.
Hoje cerca de 17,5 milhões de famílias brasileiras vivem com renda per capita mensal de até R$ 105, de acordo com o Cadastro Único.
Para determinar a linha de extrema-pobreza, a ONU e o Banco Mundial têm como referência: US$ 1,90 por dia para países de renda baixa, US$ 3,20 por dia para países de renda média-baixa e US$ 5,50 para países de renda média-alta. Já a definição da linha da pobreza varia em cada país.
Guerra, inflação e pandemia
O aumento de 1,6% dos pobres na região colide com os dados de crescimento econômico. A previsões da Cepal é de que as economias da América Latina cresçam 1,8% e as exportações, 23%.
#CEPAL prevé que, debido a la fuerte desaceleración económica y el aumento de la inflación, los niveles de #pobreza y pobreza extrema aumentarán. Casi 8 millones de personas se sumarían a los 86,4 millones cuya seguridad alimentaria ya está en riesgo: @MarioCimoli. pic.twitter.com/HRMPT8qddI
— CEPAL (@cepal_onu) June 6, 2022
Segundo a Comissão vinculada à ONU, a situação da pandemia, a guerra na Ucrânia e as altas taxas inflacionárias em todo o mundo seriam os principais fatores que empurram a população latino-americana para a pobreza.
Em abril, a média da inflação para América Latina foi de 8,1%. No Brasil, a situação é ainda mais crítica, em maio o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 11,73% no acumulado do ano. Um estudo realizado em abril pela Tendências Consultoria prevê que o total de domicílios brasileiros considerados pobres (classes D e E) devem representar 50,7% da população brasileira até o final de 2022.
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A Cepal recomenda aos governos regionais implementar políticas monetárias e cambiais que controlem a inflação. "A segurança alimentar deve ser uma prioridade. Para isso não se deve restringir o comércio internacional de alimentos e fertilizantes, pois isso iria acelerar a inflação e prejudicaria os mais pobres", apontam no comunicado.
No início de 2022, a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) das Nações Unidas já havia notificado um aumento de 28,1% nos preços internacionais dos alimentos - o maior incremento da última década.
"América Latina e Caribe enfrentam novos cenários geopolíticos. Diante da regionalização da economia mundial, a região não pode continuar atuando de maneira fragmentada", defende o secretário executivo interino da Cepal, Mario Cimoli.
Na contramão das orientações da Cepal para o controle da inflação, o Banco Central brasileiro foi o que mais subiu a taxa de juros, chegando a 12,75%, na frente do chileno, que aumentou 8,25% os juros e o colombiano com 6% de aumento.
Edição: Rodrigo Durão Coelho