Eu tenho um filho com deficiência física e mental, o Otávio, e ele tem quase 8 anos de idade e realiza diversas terapias desde pequenino, o que hoje o levou a caminhar lentamente e com certo desequilíbrio e a sentar corretamente, entretanto, falta-lhe aprender a comer, pois hoje ele se alimenta por sonda gástrica, fala-lhe tirar as fraldas e também falta-lhe aprender falar, dentre outras coisas.
Se as terapias assim continuarem ele tende a evoluir em seu desenvolvimento, mas uma coisa que nunca mudará é o seu estado mental, que continua ser de uma criança de um pouco mais de dois anos de idade. Logo, o nosso Otávio será sempre uma criança que precisa ser cuidada. Não temos outro filho, e quem cuidará dele quando eu ou a sua mãe morrer? Pois é, penso nisso todos os dias…
Provavelmente esse é o pensamento de muitas mães e pais que tem um filho com deficiência em casa. A sociedade de modo geral não entende ou não sabe o quão difícil é se dedicar ao cuidado de crianças, jovens e adultos especiais. Passam os dias e nós os pais ficamos a cada dia mais fracos, mais velhos, e o seu filho continua precisando de você, isso é cotidiano e rotineiro.
Entretanto, a grande maioria dos pais tem outros problemas, tais como desemprego, falta de dinheiro o que torna mais difícil a vida de famílias com filhos com deficiência, com ou sem plano de saúde, esses últimos, além das dificuldades destacadas, enfrentam a escassez de vagas no sistema público de saúde e o abandono pelo poder publico.
Na clínica em que meu filho realiza suas terapias, tem uma senhora que empurra a cadeira de rodas de seu filho com deficiência de 21 anos para chegar à clínica, para isso eles pegam dois ônibus para ir e dois para voltar, três vezes por semana. Você pode imaginar o quão difícil é essa situação?
Dito isso e considerando as diversas necessidades e atenção que essas famílias carecem, numa quarta feira de junho de 2022, seis juízes do Supremo Tribunal de Justiça decidem que o Otávio e muitas outras crianças não terão suas terapias cobertas pelos planos de saúde, que são pagos mensalmente para cuidar da saúde dos nossos filhos.
Ora, com esse resultado constatamos que os planos de saúde, diferentemente do Sistema Único de Saúde (SUS), considera infundado e injusto oferecer serviços para saúde integral dos seus clientes, no final é isso que somos, clientes, clientes que pelo visto dificultam o mais valor, pois lucro é o que não lhes faltam, pois do contrário por que tais empresas assim existem? É preciso destacar que anualmente os planos reajustam seus preços, ora, eles nunca perdem, entretanto parece que a ganância não tem limites no Brasil, é preciso lucrar mais e mais, custe a vida de quem custar.
Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB) durante a pandemia por Covid-19 as operadoras de Planos de Saúde lucraram 50% a mais, especificamente, “o lucro líquido dos planos de saúde cresceu 49,5% em 2020, com uma receita de R$ 217 bilhões, segundo dados da ANS. O mercado encerrou o ano com 47,6 milhões de usuários, com uma alta de 650 mil novos beneficiários”. Segundo Vera Lucia, do Correio Brasiliense, os planos de saúde têm lucros recordes, chegando a ter lucro líquido de 72,4% conseguindo reduzir despesas e aumentando a fatura para os conveniados de 12% a 49%.
Enfim, junto a eles está o Judiciário que, como escreveu o uruguaio Eduardo Galeano: assim como as serpentes, só mordem os pés descalços.
Roberto Barbosa, pai do Otávio.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano