A chanceler diplomática Tânia Parra Fonseca visitou o Brasil durante a última semana do mês de maio. Tânia é integrante do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP). Em rápida passagem pelo Rio Grande do Sul, ela conheceu o Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), em Viamão, à convite da Associação Cultural José Martí. Em Porto Alegre, visitou o Memorial Luiz Carlos Prestes e realizou agenda com o presidente da Assembleia Legislativa do RS, deputado Valdeci Oliveira (PT).
Além do RS, Tânia também visitou outros estados, como Santa Catarina, São Paulo e Pará, conversando com integrantes de movimentos sociais e de instituições amigas de Cuba. Conforme explicou, ela é a especialista principal da equipe Cone Sul, da direção de América Latina e Caribe do ICAP. O Instituto foi fundado em 1962, idealizado por Fidel Castro. "Foi criado para receber os muitos amigos do mundo, no princípio da revolução, que estavam interessados em saber o que se passava em Cuba", explicou.
Ela recordou ainda que, até hoje, a instituição recebe amigos de toda a parte do mundo. Muitos deles vão até a ilha para participar de brigadas de trabalho voluntário, em grupos de diferentes temáticas, de acordo com o interesse dos visitantes.
Confira a conversa realizada por telefone com a chanceler. Em pauta, a situação atual de Cuba, no período pós-pandemia.
Brasil de Fato RS - Gostaríamos que comentasse sobre a atual situação de Cuba. Como estão lidando com o bloqueio econômico, mesmo com a pandemia.
Tânia Parra Fonseca - Nosso país é bloqueado há 60 anos. Lembramos que, desde antes do triunfo da revolução, já havia sanções. Por outro lado, o bloqueio foi instaurado pelo governo Kennedy. Os bloqueios foram reforçados em 1992 pela Lei Torricelli, e depois pela Lei Helms-Burton, no governo Clinton.
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Posteriormente, no governo Obama, tivemos uma certa flexibilidade, com a abertura da Embaixada nos EUA. Tínhamos conversas sobre temas diplomáticos, a migração fluiu melhor, permitiam a entrada dos cruzeiros em nosso país, o turismo marchou bem nesse período. Assim transcorreu durante o governo Obama, quando pudemos trazer de volta os 5 cubanos que estavam presos injustamente em cárcere nos EUA. Isso graças à pressão de muitos amigos solidários a esta causa no mundo.
Com a chegada do governo Trump, se colocou medidas [restritivas] a Cuba, cerca de 240 [ao todo]. A Embaixada foi fechada e os funcionários são retirados. Chegaram a alegar que [Cuba] estava realizando "ataques sônicos" contra os funcionários norte-americanos na Embaixada dos EUA em Cuba.
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Uma medida atrás da outra, se proibiu a entrada dos cruzeiros, colocando multas àqueles que queriam negociar ou fazer intercâmbio comercial com o país. Tudo que se negociava, as pessoas temiam a aplicação de multas multimilionárias. Recordemos, esse bloqueio é extraterritorial. Assim transcorreu o governo Trump, tivemos escassez de combustíveis, dificuldades de transporte, falta de medicamentos, etc. Isso não quer dizer que nossos sistemas de saúde e educação pararam. Nós estamos sempre criando alternativas, nos levantamos contra as dificuldades.
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Posteriormente, até esse momento, no governo de Biden, não foram mexidas essas medidas impostas pelo governo de Trump. Recentemente, foram flexibilizadas somente 8 medidas relacionadas a temas mineratórios e de remessas [monetárias] ao país. Todavia, isso não basta, faz falta que as outras medidas sejam levantadas para que o país possa seguir adiante.
Nossos sistemas de saúde e educação nunca pararam. Nós estamos sempre criando alternativas, nos levantamos contra as dificuldades
Estamos com a estimativa de cerca de US$ 140 bilhões em prejuízos causados pelo bloqueio nesses 60 anos. Estamos abertos ao diálogo, assim como estivemos todos esses anos.
Brasil de Fato RS - Como está a situação política em Cuba, com a liderança do presidente Miguel Díaz-Canel? No que a situação política influencia no combate à pandemia?
Tânia Parra Fonseca - Atualmente, temos uma figura jovem na presidência. Há um bom ambiente político, com sua direção. Ele dá continuidade ao projeto revolucionário, deixado por nosso comandante e por todos que o antecederam, todos nossos líderes históricos. Estamos em constante transformação. Agora, neste momento, estamos transformando nossos bairros, criando novas empresas, pequenas e médias, para desenvolver e levantar nossa economia. Estamos importando veículos elétricos, por exemplo, que nos ajudam com a situação que temos com os combustíveis.
Os cubanos se sentem feliz por viver em Cuba, pois temos um ambiente de paz. Apesar de não termos os recursos naturais importantes, nós não nos detemos, nos desenvolvemos, pois temos recursos humanos valiosos. Nossas universidades graduam excelentes profissionais, que recebem aulas de muita qualidade.
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Isso nós temos demonstrado com o contingente de médicos que vão para diferentes partes do mundo, salvar vidas. Como na pandemia, quando há catástrofes em outros países, ali estão nossos médicos, cumprindo um trabalho altruísta. Isso foi essencial no combate à pandemia.
Mesmo bloqueados, o mundo sabe que criamos cinco vacinas: a Soberana I, II e Plus. Além da Mambisa e da Abdala. Assim, nossos cientistas e nossos profissionais de saúde, incluídos os matemáticos e os engenheiros, receberam a tarefa de buscar a forma de combater essa terrível pandemia em Cuba, com a direção de nossos líderes que estão na frente do país.
Nunca negociaremos nossos princípios e nossa ética
Apesar de termos dificuldades com a compra dos medicamentos e dos insumos médicos, não pararam nossos hospitais e tampouco deixamos de atender qualquer paciente. Abrimos as portas inclusive aos estrangeiros que nos visitam e que necessitam de serviços médicos.
Assim avança nosso país, mesmo sofrendo com campanhas subversivas e com desinformação. Cada vez colocam mais dinheiro para subverter nosso país, pois nós somos livres e soberanos.
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Cada vez que isso acontece, levantamos mais alto a bandeira da solidariedade e do patriotismo. Nunca negociaremos nossos princípios e nossa ética. Seria bom que muitos amigos no mundo colocassem em prática nosso conceito de revolução, que é "Mudar aquilo que deve ser mudado". Isso pode ser colocado em prática em qualquer lugar do mundo, é um conceito amplo.
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko