O Brasil bateu recorde no cadastro eleitoral de jovens neste ano. Em 2022, o país ganhou mais de dois milhões de novos eleitores entre 16 e 18 anos. O número representa um aumento de 47,2% em relação ao processo eleitoral de 2018. Os dados são promissores, mas ainda há dificuldade em atrair a juventude para a participação política que vai além do voto.
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A pesquisa “Juventudes no Brasil 2021” foi coordenada pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI) e realizada em parceria com pesquisadores de três universidades públicas sediadas no Rio de Janeiro: a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Segundo o estudo, as instituições que menos contam com a confiança dos jovens brasileiros são os partidos políticos (82%), o Congresso Nacional (80%), o governo (69%) e a presidência da República (63%).
A equipe da pesquisa conversou com 1.740 jovens entre 15 e 29 anos residentes nas cinco regiões do país para traçar um retrato social dos jovens brasileiros. O levantamento, feito antes da pandemia, mostra a realidade daquele momento. A situação atual pode ser ligeiramente diferente, mas especialistas apontam que o desinteresse persiste e é preciso investir para mudar o cenário.
“O esforço que deve ser feito é compreender que estamos num tempo que não basta ser instituição para ter o engajamento do jovem, é preciso criar um campo do diálogo, de disputa de convencimento, e é preciso que as instituições deem bons exemplos de que são confiáveis. A confiança vai passar por essa aproximação, uma ponte mais pavimentada e segura”, explica o professor da Faculdade de Educação da UFF e coordenador da pesquisa, Paulo Carrano, que ainda aponta a necessidade de repensar iniciativas de participação política na esfera federal, estadual e municipal, como o Parlamento Jovem.
“Os chamados Parlamentos Jovens são simulacros que se fossem de fato espaço de escuta e conversação, de tentativa de perceber quais são as reais pautas de interesse dos jovens, deveriam ser muito mais efetivas do que, por exemplo, criar simulação de deputado mirim, vereador mirim, muito mais um movimento de 'parlamentarizar' o jovem, quando, na verdade, a gente precisava muito mais de uma iniciativa de 'juvenizar' o parlamento”, afirma Carrano.
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Mobilização
A estudante de Gestão Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Katelyn Carvalho, 23 anos, sabe bem a importância de incentivar os jovens a participar da política. A jovem, nascida no município de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, começou a se envolver com o tema ainda no Ensino Médio, a partir da ocupação das escolas, movimento que se espalhou pelo país em 2016.
Katelyn estudou no Instituto de Educação Rangel Pastana, na cidade de Nova Iguaçu, também na Baixada Fluminense. A unidade ficou 54 dias ocupada pelos estudantes que reivindicavam melhores condições na escola.
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“Ter participado daquela ocupação foi um divisor de águas na minha vida. Eu estava no terceiro ano do Ensino Médio. No ano seguinte entrei na UFRJ, já entrei envolvida na lógica do movimento estudantil por conta desse histórico e lá eu me organizei no Levante Popular da Juventude. Hoje em dia eu atuo pelo movimento na UFRJ. São dezenas de jovens em diversos cursos inseridos na luta pelo passe livre intermunicipal, por políticas de assistência e permanência estudantil, a defesa da universidade pública, contra os cortes e o sucateamento”, conta a estudante.
Porém, o desafio para envolver o jovem na política, assim como apontou Carrano, é grande. Os dados da pesquisa Juventudes no Brasil mostram que 72% dos jovens entrevistados nem mesmo conversavam sobre política. Romper esse paradigma é a inspiração para jovens como a Katelyn, que, por perceberem o diferencial que o engajamento e a mobilização fazem na sociedade, se movimentam com o intuito de sensibilizar outros estudantes.
“A juventude de hoje é a juventude que passa horas maratonando uma série, então para mover essa energia para a luta o desafio é ser tão atrativo quanto os seriados. Estamos em uma nova dinâmica por consequência da pandemia e frente a isso é preciso resgatar a mística e o brilho nos olhos. Eu acredito que a juventude está cheia de vontade de participar da história e construir mudanças reais, nosso desafio é apresentar a luta e retomar o trabalho de base entendendo quem são estes jovens”, comenta a estudante.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse