A luz verde do governo britânico para a extradição de Julian Assange aos EUA cria um precedente que pode ser usado por qualquer governo que esteja na Casa Branca para perseguir o jornalismo, afirma a esposa do fundador do WikiLeaks, Stella Morris.
Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (17), Morris destacou os próximos passos da defesa do jornalista. "Não estamos no fim da estrada. Nós vamos lutar, vamos usar todos os caminhos de apelação, e nós vamos lutar, vou passar todas as horas lutando por Julian até que ele esteja livre e até que a justiça seja feita", afirmou .
A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, autorizou nesta sexta-feira a extradição do jornalista Julian Assange para os Estados Unidos. O processo teve início no governo do republicano Donald Trump.
O ataque ao fundador do Wikileaks durante o governo Trump teria incluído, de acordo com reportagem publicada pelo Yahoo News, planos elaborados pela CIA para sequestrar e matar Assange. A informação foi detalhada por longa reportagem, que afirma ter realizado entrevistas com mais de 30 ex-funcionários da inteligência dos EUA.
Em 2021, Assange chegou a vencer uma das etapas do processo contra sua extradição após o judiciário britânico entender que sua ida aos Estados Unidos implicaria riscos para sua saúde. O governo do democrata Joe Biden, todavia, contestou a decisão e reverteu ela mediante a apresentação de supostas garantias à vida do jornalista.
Próximos passos da defesa
Jennifer Robinson, representante legal de Assange há mais 10 anos, afirmou que ele tem 14 dias para recorrer da decisão, renováveis por mais 14 dias. Depois disso, o governo dos Estados Unidos terá então 10 dias para responder. Ainda assim, uma decisão final pode ocorrer antes deste prazo, destacou Robinson.
"Esperamos ter sucesso. Porque se não tivermos, o que isso diz sobre liberdade de imprensa e o processo legal neste país, e em países democráticos, é incrivelmente preocupante", destacou a advogada.
Stella Morris afirmou que não é do interesse do governo Biden que o caso de Assange seja julgado por conta da comoção pública que pode ser gerada. Ela também ressalta que Chelsea Manning, responsável por vazar documentos confidenciais dos EUA publicados pelo WikiLeaks, teve sua pena perdoada pelo então presidente Barack Obama e pôde sair da prisão. Na época, o vice-presidente de Obama era Joe Biden.
"Está sendo criado um precedente para que futuros governos, da cor política que sejam, possam fazer o mesmo que está sendo feito a Assange. Então não é do interesse de ninguém que essas proteções, essas garantias sejam diminuídas. Eu tenho certeza que Biden tem algum conselho de que é esse o caso, de que ele sabe porque fez parte do governo Obama", disse a esposa de Assange.
Edição: Arturo Hartmann