"Ambiente tóxico"

Em nota, SBPC denuncia ‘fobia contra as mulheres’ no Brasil

Carta cita casos de menina de 11 anos em SC, da atriz Klara Castanho e da jornalista Patrícia Campos Mello

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Ambiente tóxico contra as mulheres vem se intensificando no país desde a eleição de Jair Bolsonaro - Agência Brasil

Em documento divulgado nesta segunda-feira (27), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) denuncia o que chama de “fobia contra as mulheres”, como sintoma manifestado por três graves episódios recentes no país. “Foram três os ataques infames a mulheres esta semana que passou”, diz a nota. O primeiro caso é o da menina de 11 anos “a quem se tentou impedir de levar adiante um aborto duplamente legal, porque decorrente de estupro e colocando em risco a vida da criança gestante”.

Na semana passada a SBPC havia divulgado nota manifestando “choque e indignação diante da sessão de tormento a que foi submetida uma menina de 11 anos“, sobre episódio em Santa Catarina. “É inegável que um clima de fobia às mulheres se espalha pelo Brasil”, afirmam os cientistas na nota de hoje. “E é nosso dever, como entidade que congrega os amigos da ciência e os defensores de nosso País, manifestarmos claramente nosso repúdio a esse ambiente tóxico, que coloca em questão valores humanos os mais importantes. Não à fobia contra as mulheres!”

O segundo caso são “as ofensas a uma jovem atriz, igualmente estuprada”, que deu à luz, após ser vítima de crime, e doou a criança, “sem se valer de seu direito legal a abortar”, observa a SBPC. A entidade observa a hipocrisia e contradição dos que condenaram a atriz Klara Castanho, já que ela adotou uma conduta “exatamente como queriam as operadoras do Direito que atormentaram a menina” de 11 anos levada a um constrangimento criminoso.

Klara Castanho denunciou que uma enfermeira a ameaçou. Em carta aberta, ela relatou: “Eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: ‘Imagina se tal colunista descobre essa história’”, contou.

MP-SP apura conduta da enfermeira

O drama de Klara foi explorado no último fim de semana pelo colunista Léo Dias, do Metrópoles, o que ainda repercute nas redes sociais até o fechamento desta matéria. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) informou estar apurando a conduta da enfermeira, por suposta violação do sigilo profissional ao ameaçar uma paciente e vazar dados pessoais. As investigações devem se dar em sigilo. Todo o procedimento de entrega do recém-nascido para adoção seguiu as regras previstas no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

Segundo o g1, a presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Betânia Maria dos Santos, afirmou que a enfermeira responsável pela ameaça a Klara pode perder o registro profissional. Já o colunista, em princípio, pode ter cometido crime de difamação. Com a repercussão do caso, ele pediu “perdão” à atriz. “Errei ao publicar qualquer linha a este respeito”, escreveu.

Patricia Campos Mello

“Soma-se o caso da jornalista Patricia Campos Mello,” – continua a nota da SBPC – “que por apurar profissionalmente a indústria política das fake news foi ofendida, ganhou um processo cível em primeira instância e depois, na fase recursal ora em andamento, passou pela situação de um desembargador minimizar o crime e votar contra a compensação legal.”

A entidade se refere ao voto do desembargador Salles Rossi, da 8ª Câmara de Direito Privado Tribunal de Justiça de São Paulo do (TJ-SP), que acatou a tese da defesa de Jair Bolsonaro (PL), que não viu declaração sexista do chefe do governo contra a jornalista da Folha de S.Paulo. A repórter investigou e denunciou um esquema ilegal de disparo em massa de mensagens no WhatsApp que beneficiou Bolsonaro nas eleições de 2018.

Com linguagem chula e ironias de baixo nível, Bolsonaro deu uma conotação sexista ao trabalho da jornalista, sob risadas de aliados. Ele já foi condenado em 1ª Instância em março de 2021 por ofender Patrícia Campos Mello. A indenização foi fixada em R$ 20 mil. No julgamento do TJ, a desembargadora Clara Maria Araújo Xavier havia votado pela manutenção da condenação e pediu o aumento da indenização para R$ 35 mil. Rossi abriu divergência.

O julgamento foi suspenso com 2 votos a 1 a favor da jornalista e deve ser retomado na próxima quarta-feira (29). Faltam dois votos.