Um acordo histórico está se formando no horizonte. Nesta terça-feira (28) a Turquia concordou com a entrada da Suécia e da Finlândia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar ocidental. Se as adesões forem confirmadas, termina a tradicional neutralidade de décadas dos países nórdicos, próximos da Rússia – a Finlândia faz fronteira com os russos, e a Suécia fica na mesma região.
O memorando de entendimento foi assinado pelo norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, o presidente turco, Tayyip Erdogan, a prêmiê sueca, Magdalena Andersson e o presidente finlandês, Sauli Niinisto em Madri. A capital espanhola sedia até quinta (30) um encontro de líderes da Otan.
"Tenho o prazer de anunciar que agora temos um acordo que pavimenta o caminho para a Finlândia e a Suécia aderirem à Otan. A política de portas abertas da Otan é um sucesso, demonstramos que sabemos resolver os problemas através da negociação, com a entrada da Suécia e da Finlândia na aliança estaremos todos mais seguros", disse Stoltenberg.
Ao anunciar a derrubada do veto que mantinha às entradas escandinavas, o governo turco disse que "conseguiu o que pediu" durante as negociações. Sem afirmar, sugeriu que teve garantia de apoio no combate a militantes curdos, do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). A organização luta pela criação de um estado curdo, e é considerada terrorista pelo governo turco.
Mais guerra?
Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato apontam que o principal motivo da guinada histórica de Suécia e Finlândia – tradicionalmente países neutros – foi a guerra da Ucrânia. E, se for a adesão for confirmada, a expectativa é de aumento de tensões na região.
Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, afirma que "a entrada dos dois países nórdicos representa uma escalada nas provocações e tensões ocidentais contra Moscou e pode apontar para um prolongamento da guerra, o que interessa aos EUA".
"Joe Biden, que terá dificuldades de vencer a direita republicana nas eleições parlamentares no final do ano, tentará apresentar internamente a expansão da aliança militar como trunfo de sua diplomacia belicista."
Giorgio Romano, também professor da Federal do ABC, diz que "se sabia que a Turquia ia ceder, a pressão é muito grande. A surpresa é a cúpula da Otan não ter previsto a possibilidade de veto turco e ter negociado antes, para evitar constrangimento."
"A Turquia aproveitou para negociar e mostrar que precisa ser respeitada, ganhar credibilidade com a Rússia. Além disso pegou a questão curda para mostrar para a população do país que é firme na defesa do território, em um momento em que a popularidade de Erdogan está em baixa."
A Rússia ainda não comentou o pré-acordo em Madri. Em maio, no entanto, o país havia classificado como "erro" a intenção dos dois países de ingressar na aliança militar comandada pelos Estados Unidos.
"Eles não devem ter ilusões de que simplesmente vamos tolerar isso", afimou à época o chanceler russo, Sergey Ryabkov.
Edição: Felipe Mendes