Foi com toda a pompa possível que o atual governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), anunciou, na última terça-feira (21), a consulta ao edital de leilão da chamada ''Nova Ferroeste''. A promessa é de ligar em cinco eixos ferroviários as cidades de Maracaju, no Mato Grosso do Sul, ao Porto de Paranaguá, com um ramal também a Santa Catarina, impactando diretamente 67 municípios.
Durante a cerimônia realizada no Palácio Iguaçu, o governador comemorou o avanço do projeto. “Esse é o último capítulo de uma novela de mais de 20 anos. Quando assumi o governo, em 2019, fui perguntar se existia projeto, estudo ambiental e de viabilidade. Não existia nada. Ou seja, a Ferroeste serviu apenas para cena política nos últimos anos. Nós confiamos nesse projeto, um projeto transformador, que vai atender o Brasil por inteiro. Agora o mundo terá a oportunidade de investir nessa grande corredor de exportação”, afirmou Ratinho Junior.
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Contudo para moradores, pesquisadores e ambientalistas que acompanham o projeto governista, os impactos ambientais principalmente na Serra do Mar, poderão ser desastrosos, caso o projeto da Nova Ferroeste não leve em consideração trechos com risco de deslizamentos e ameaças de catástrofes ambientais.
Governo faz "propaganda mentirosa"
O painel “Impactos Socioambientais da Ferroeste (projeto do Agronegócio) sobre a comunidade de Morretes e região", analisou na última quinta (23), durante a Jornada da Agroecologia, em Curitiba, os riscos ao meio ambiente que o projeto poderá trazer à Serra do Mar.
Para a bióloga Jaqueline Oliveira, produtora rural e participante da Rede Ecovida, o projeto pode colocar em risco comunidades que moram na Serra e toda a fauna e flora da região.
''O governo do Paraná tem feito uma propaganda mentirosa desta nova Ferroeste. Os impactos ambientais para a Serra do Mar poderão ser enormes. E, além de ser cara, economicamente poderia ser mais viável se o trecho, por exemplo, fosse desviado da serra'', analisa.
Durante o painel, foi apresentado um estudo que demonstrou os problemas que a obra poderá acarretar para a região. De acordo com os dados demonstrados durante o evento, é previsto a construção de trilhos para o chamado trecho 5, que afetaria as comunidades do Sambaqui, Rio Sagrado, Mundo Novo e Floresta, no município de Morretes.
A Ferroeste prevê a construção de um traçado de 100 a 500 metros acima das comunidades, com a previsão do transporte em sua maioria de óleo pesado e soja. Ainda de acordo com o estudo apresentado no painel, a localização onde passará os trens tem alto risco de erosividade e deslizamentos, podendo colocar toda fauna, flora e moradores em risco.
Na contramão da história
Para o historiador e professor Renato Mocellin, a obra poderá ter um alto custo humano e ambiental. “A destruição da Serra do Mar não compensa economicamente. Vale a pena? Estamos na contramão da história, no mundo se preocupa cada vez mais com o meio ambiente. Isso vai beneficiar a quem? Destruir o meio ambiente compensa?”, indaga.
Além do risco de acidentes no trecho, as obras da nova Ferroeste preveem a canalização de rios e cachoeiras em santuários florestais na região da comunidade do Rio Sagrado, colocando o que técnicos chamam de "obras de arte", que seria o manilhamento do rio, para que os trens possam passar.
Em um manifesto que circula nas redes sociais, a comunidade da região argumenta que a "trajetória da ferrovia Nova Ferroeste desenha a sua passagem em Morrentes sobre a bacia do Rio Sagrado, a qual abastece as bacias de Antonina de Paranaguá. Suas nascentes são a principal fonte de abastecimento dos moradores das comunidades do Candonga, Rio Sagrado, Mundo Novo e Saquarema."
A petição cita que a área é "de intervenção, também pertencente à APA de Guaratuba, e é bem tombada pelo Patrimônio Natural do Paraná, além de fazer divisa com os Parques Nacionais do Guaricana que pertence à Área de Proteção Ambiental Estadual de Guaratuba e de Saint-Hilaire Lange, conhecida como Serra da Prata."
Jaqueline de Oliveira cita que a comunidade já levou ao governo do Paraná alternativas para que o traçado pudesse ser alterado para Santa Catarina até o Porto de Paranaguá, ou o uso de equipamento para os trilhos que não agredisse tanto a vegetação. Contudo, de acordo com a bióloga, as sugestões foram descartadas. "Se o traçado fosse desviado para Santa Catarina evitando chegar a Serra do Mar, seriam mais 20 km de viagem, mas, os impactos ambientais seriam bem menores."
A reportagem tentou contato com o governo do Paraná, pedindo posicionamento oficial, mas não obteve retorno.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini