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Datena desiste - de novo - do Senado e enfraquece palanque de Bolsonaro em São Paulo

Saída do apresentador favorece entendimento entre França e Haddad, afirmam especialistas

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Datena entrevista Bolsonaro por telefone em 2021: nesta quinta, apresentador desistiu de se candidatar ao Senado logo após receber apoio do capitão reformado - Reprodução/Band

O apresentador José Luiz Datena (PSC) anunciou nesta quinta-feira (30) que desistiu de concorrer a uma vaga no Senado por São Paulo nas eleições deste ano. “Pensei bem e resolvi seguir meu caminho”, afirmou Datena durante o programa Brasil Urgente, da Band.

O apresentador comporia a chapa do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), pré-candidato indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo paulista. E também serviria como importante cabo, no maior colégio eleitoral do país, para o próprio Bolsonaro, que tenta a reeleição.

“Vou lutar pelo bem comum em muitas arenas que existem aí. A minha todos conhecem. Eu estarei sempre com meu público, disso eu não tenho dúvida. Eu desejo felicidades nessa campanha aos meus quase correligionários”, afirmou.

Horas antes, em conversa com apoiadores, Bolsonaro (PL) declarou apoio à pré-candidatura de Datena e sinalizou que contaria com seu apoio na campanha. “Eu estou com Datena lá, fechei com o Datena. Ele está em um outro partido. E tem críticas (ao partido). Assim como tem gente que critica o Tarcísio”.

Em resposta, o apresentador deixou uma “palavra de carinho” ao presidente, que o havia escolhido como candidato ao Senado, “e foi isso mesmo que foi acordado, mas pensei bem e resolvi seguir meu caminho”.

Quem perde?

Para o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto, a desistência de Datena é uma “derrota importante” e um “baque” para o bolsonarismo no estado.

“Uma desistência como essa, ainda por cima de um candidato que liderava as pesquisas, significa uma derrota importante para o bolsonarismo. Vai ser complicado se recuperar desse baque. Provavelmente, Bolsonaro vai ficar sem uma candidatura competitiva ao Senado no estado de São Paulo”.

Por outro lado, a cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemary Segurado afirma que o apresentador deve ter percebido ser “uma furada” se associar ao atual ocupante do Palácio do Planalto. “Ele não é o primeiro a abandonar esse barco da candidatura do Bolsonaro”.

Ela cita, ainda, contradições no discurso entre ambos. Enquanto Datena esbraveja contra a criminalidade, Bolsonaro trabalha pela liberalização do acesso às armas. “Os indicadores mostram que há uma diminuição de homicídios no país. Mas quando a gente abre os dados, o que se percebe é que, naquelas localidades onde a venda de armamentos foi maior, houve crescimento.”

Especificamente sobre o apresentador, ambos os especialistas destacam que não é a primeira vez que Datena faz esse tipo de “jogo”. Ao ventilar seu nome como candidato, Datena busca, assim, ser “cortejado” pelos políticos. Do mesmo modo, aumenta o seu cacife como apresentador. É a quarta vez que ele anuncia a intenção de participar das eleições, para diferentes cargos, mas acaba desistindo.

Quem ganha?

Da mesma forma, Couto e Segurado também são unânimes em dizer que a desistência de Datena favorece a centro-esquerda, tanto no estado, como nacionalmente. “Com Datena fora da disputa, as chances que o Márcio França (PSB) tem de se viabilizar como candidato competitivo ao Senado aumentam bastante”, disse o professor.

Nesse sentido, aumentam as chances de entendimento entre o PT e PSB. “O PSB se juntaria à campanha de Fernando Haddad ao governo, enquanto que o PT apoiaria França ao Senado”, explicou a professora, que ainda acrescentou: “Evidentemente, no plano nacional, tudo isso favorece a chapa Lula-Alckmin”.