O caso Klara Castanho reacendeu uma série de questões envolvendo o papel da Enfermagem.
A nossa profissão, que já demonstrou sua força e importância durante a pandemia, tem compromisso com a coletividade e com a saúde e qualidade de vida das pessoas.
Um dos nossos compromissos – previsto no Código de Ética Profissional da Enfermagem – é manter segredo sobre fato sigiloso que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional.
Da mesma forma, é vedado franquear o acesso a informações e documentos a pessoas que não estejam diretamente envolvidas na prestação da assistência ao paciente.
Ou seja: se houve uma falha profissional gravíssima de vazamento de informações, no caso da atriz Klara Castanho, isso precisa ser investigado e punido pelos órgãos competentes, neste caso, o Coren-SP e o Cofen.
E, com certeza, não representa a maioria da categoria de enfermeiras/os e técnicas, dedicadas e comprometidas com a boa enfermagem.
Mas é importante destacar que toda essa situação – na sequência de outro fato grave envolvendo uma menina de 11 anos, vítima de estupro, em Santa Catarina – mostra um pano de fundo muito mais sério em relação à violência de gênero, que precisa ser debatido.
As mulheres são vítimas de violência de diferentes formas. Não somente a agressão sexual, que é brutal, viola o corpo e fere a saúde mental da mulher – mas a violência em instâncias que deveriam protegê-la nos serviços da Justiça e de Saúde.
A legislação brasileira de proteção das mulheres em casos de violência existe para ser cumprida. Precisamos discutir políticas públicas efetivas que garantam o acesso e usufruto desses direitos pelas mulheres, de forma plena, evitando, assim, a escalada do ciclo da violência na sociedade.
A enfermagem é uma categoria majoritariamente feminina e precisamos nos unir para defender a vida. Mas a vida em todos os seus sentidos, da garantia dos direitos mais elementares à luta por uma vida mais digna a todos.
Se queremos discutir a questão da preservação da vida, precisamos debater com urgência o acesso à saúde, à educação e ao emprego, formas de melhorar a distribuição de renda e combater a insegurança alimentar.
Não é possível banalizar esse debate ou simplesmente olhar essas situações sob um único prisma, geralmente simplista e preconceituoso.
As mulheres são vítimas de uma sociedade doente, juntamente com outros segmentos violentados – como os povos indígenas, negros e negras, população LGBTQIA+.
É revoltante a inversão de valores que estamos vendo acontecer e o processo de linchamento público a que esses segmentos estão sendo submetidos. É preciso dar um basta nisso.
*Cláudia Franco é presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano