O dia 9 de julho de 1917 é um marco na história do movimento dos trabalhadores brasileiros. Naquele dia, no Largo da Concórdia, no bairro paulistano do Brás, que uma assembleia deu início àquela que seria a primeira greve geral do país. A data será lembrada no Dia da Luta Operária, evento articulado por centrais sindicais e organizações que homenageia os lutadores de ontem e de hoje.
O tema deste ano será “Em Defesa da Democracia e Contra o Golpismo; Pela Revogação da Reforma Trabalhista”, referência à Lei 13.467, aprovada em 2017 pelo governo Michel Temer (MDB), um ano após o golpe contra Dilma Rousseff (PT) e um século depois da greve.
Quatro militantes serão homenageados por sua trajetória em defesa da classe trabalhadora, dois deles in memorian. Os dois já falecidos são Wagner Gomes, ex-presidente do Sindicato dos Metroviários e da CTB, que morreu em agosto do ano passado, e José Calixto Ramos, ex-presidente da Nova Central, vítima da covid em fevereiro de 2021.
Além deles, serão homenageados Clara Ant, ex-vice-presidenta da Federação Nacional dos Arquitetos e ex-dirigente da CUT, que participou da 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em 1981. Outro nome lembrado é do consultor sindical Joao Guilherme Vargas Netto, membro do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Os dois receberão o Troféu José Martinez, criado pelo artista plástico Enio Squeff, e que faz homenagem ao sapateiro morto pela polícia naquela mesma assembleia de 9 de julho de 1917. O evento será no antigo Moinho Matarazzo, a partir da 9h.
Direito de organização e preço da comida
Antes dele, às 8h30, o coletivo Caminhantes e Corredores Lula Presidente vai realizar uma corrida e caminhada da Luta Operária, também no Brás. O ponto de encontro é no Largo da Concórdia, local da icônica assembleia. Os corredores farão um circuito de cerca de 2 quilômetros, passando por locais históricos e encerrando no Moinho Matarazzo a tempo para as homenagens.
Integrante do coletivo e um dos idealizadores do evento, o maratonista e jornalista Rodolfo Lucena, autor dos livros Maratonando e + Corrida, relembrou a importância da data. “A cavalaria avançou contra os operários durante protesto diante da Tecelagem Mariângela, empresa do grupo Matarazzo inaugurada em 1904 na Rua Monsenhor Andrade, no bairro operário do Brás. No ataque, morreu com um tiro no peito o jovem José Martinez, 21 anos, espanhol, sapateiro e anarquista”, contou Lucena em entrevista ao Estadão.
Segundo a Rede Brasil Atual, estimativas apontam que 10 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre de Martinez pelas ruas do centro paulistano até o Cemitério do Araçá. O ponto de partida foi a Rua Caetano Pinto, no Brás, onde se localiza atualmente a sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
A morte de Martinez foi o estopim para a greve em toda a cidade. Os trabalhadores cobravam melhores condições de trabalho e direito de livre organização em sindicatos, mas também o congelamento dos preços dos alimentos – em forte alta por conta dos reflexos da I Guerra Mundial – e o aumento e a fiscalização dos mercados e feiras livres da cidade.
A corrida foi lançada na segunda-feira (4), no canal Tutaméia, mantido por Lucena e pela jornalista Eleonora de Lucena. Segundo o Estadão, o logotipo da corrida foi um presente da cartunista Laerte e o jornalista Juca Kfouri confirmou participação na corrida.
O ato conta ainda com apresentações da centenária Corporação Musical Operária da Lapa, fundada em 1881, no início do processo de industrialização do Brasil. Além disso, o músico, poeta e chargista Caio Muniz, que desenvolve um trabalho de educação em direitos humanos, cantará o hino “A Internacional”, que é considerada o hino dos trabalhadores.
O Dia da Luta Operária foi criado em 2017 pela Lei municipal 16.634/17, de autoria do vereador Antonio Donato (PT). A atividade e as homenagens são desenvolvidas em parceria pelas centrais sindicais CSB, CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical, as duas Intersindicais, Nova Central, Pública e UGT, Centro de Memória Sindical, o Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Cedem-Unesp), Instituto Astrogildo Pereira, IIEP, Memorial da Resistência e Oboré.
Edição: Glauco Faria