"Com a promessa de serem libertados da escravidão, os Lanceiros Negros toparam lutar na Revolução Farroupilha ao lado da elite gaúcha. Mas, no fim da guerra, foram vítimas de uma emboscada – mais de cem morreram". Assim começa a descrição do trabalho do fotógrafo Márcio Pimenta, lançado recentemente na revista online National Geographic.
Mesclando famosos e anônimos, o projeto resgata a história do Massacre dos Porongos, com texto produzido pelo jornalista Juremir Machado e pelo escritor Jeferson Tenório. Entre os nomes gaúchos convidados por Pimenta para posar nos retratos estão o procurador regional da República, Ângelo Ilha da Silva, a ginasta Daiane dos Santos, a primeira mulher a presidir o Tribunal de Justiça do Estado, Iris Helena Medeiros, o vereador de Porto Alegre Matheus Gomes e o senador Paulo Paim.
Nascido em São Paulo, Márcio viveu sua infância e vida adulta em Salvador (BA), de onde saiu aos 28 anos para ganhar o mundo. Percorreu a América Latina, onde passou cinco anos no Chile, depois um tempo na Europa, e posteriormente voltou ao Brasil, morando em Florianópolis (SC) e Curitiba (PR), onde conheceu sua atual esposa, que é natural de Ijuí (RS). Há quatro anos mora em Porto Alegre. Em entrevista ao Brasil de Fato RS, o fotógrafo disse que, por conta das viagens e da pandemia, conhece pouco o estado gaúcho.
Com foco em questões humanas e socioculturais, identidade e mudanças climáticas, Márcio cobriu eventos como tragédia de Mariana, ocupação do Complexo do Alemão e guerra contra o Estado Islâmico no Iraque. Ele também fotografou a história dos charutos na Bahia, a imigração polonesa no Paraná e a crise hídrica em São Paulo, entre outros. Foi vencedor do Prêmio Petrobras de Jornalismo, do Prêmio Massey Ferguson de Fotojornalismo e do Sangue Bom de Jornalismo (Sindicato dos Jornalistas do Paraná).
No Rio Grande do Sul, além do recente trabalho sobre os lanceiros negros, que terá exposição no Ministério Público, em setembro, mês da Revolução Farroupilha, Márcio também fotografou os sobreviventes da boate Kiss.
Abaixo, a entrevista completa:
Brasil de Fato RS - Vamos começar contando um pouquinho da tua história, da formação.
Márcio Pimenta - Eu me formei em economia, fiz mestrado, isso tudo em Salvador. Depois o doutorado no Chile. Durante o doutorado, que era sobre estudos americanos, mais voltado às relações internacionais, antes da defesa, eu quis dar uma pausa. Fiz um ano sabático e voltei a Salvador, fiquei um ano lá, e retornei ao Chile para terminar a tese. Aí me dei conta que eu não queria mais terminá-la. Foi quando eu larguei tudo e comecei a me dedicar à fotografia.
BdF RS - Tu nunca tinha feito nada de fotografia?
Márcio - Nada, a fotografia até então era um hobby muito esporádico, eu não levava a sério, embora gostasse muito. Eu sempre tive dificuldade de entender a mim mesmo, saber o que é que eu gostava. Então demorou para que eu de fato entendesse que era fotografia que eu queria fazer.
Aí comecei a fazer um pouco de foto para pequenos jornais. Foi quando eu mudei para Curitiba, onde fiz umas reportagens para o jornal Gazeta do Povo. Nesse período surgiu uma crise hídrica em 2014, em que o Brasil praticamente ficou sem água, principalmente o Sudeste do país. Eu fui pra Ilha Solteira (interior do estado de São Paulo), lugar em que a maior crise do país estava, onde a represa ficou com 0% da capacidade do volume útil.
Coincidentemente era a cidade que eu tinha nascido, mas que eu não conhecia. O meu pai trabalhou na obra da construção da represa. Para mim, aquele momento foi como um novo nascimento. Aí eu fiz a matéria, escrevi o texto também, eles publicaram, e aí eu ganhei o prêmio da Petrobras de jornalismo por causa dessa reportagem.
Isso abriu as portas do jornalismo para mim. Eu tive que fazer tudo sozinho, mas por sorte, como eu era formado em economia, tinha os recursos para poder entender o que que estava se passando. Foi aí que eu comecei a fazer diversas matérias, uma delas foi no Complexo do Alemão que eu fiz para a revista Rolling Stone, depois eu fui para o Iraque, entre 2016 e 2017, onde produzi o livro Yazidis, que é resultado dessa experiência. Eu aproveitei a pandemia para poder editar esse livro e publicar finalmente esse material, que saiu só em 2020.
Depois disso eu resolvi montar esse atelier justamente por ter parado de viajar enquanto eu fazia o projeto sobre as mudanças climáticas e o impacto do homem no meio ambiente.
Se hoje fosse a Revolução Farroupilha, quem iria para linha de frente? Hoje iria o técnico Róger Machado, a ginasta Daiane dos Santos, o escritor Jeferson Tenório
BdF RS - Quanto tempo viajando para esse projeto?
Márcio - Foram dois anos viajando. O projeto se chama O Homem e a Terra. Tivemos que paralisar o projeto em 2020, por causa da pandemia. E aproveitei para estudar, foi aí que eu comecei a conhecer um pouco a história do Rio Grande do Sul, e me deparei com a dos lanceiros negros. Comecei a pesquisar o que tinha sido feito visualmente. Vi que tinham muitos artigos publicados, como por exemplo, o Juremir Machado, que havia feito já um grande livro sobre isso. Mas não vi um trabalho fotográfico sobre o tema. Então resolvi fazer o projeto. Busquei alguns apoios, como não consegui, resolvi fazer por conta. Começamos a fazer a pesquisa de quem seriam hoje os lanceiros negros.
Qual era o meu tema? Se hoje fosse a Revolução Farroupilha, quem iria para linha de frente? Hoje iria o técnico Róger Machado, a ginasta Daiane dos Santos, o escritor Jeferson Tenório. Isso mostra que perderíamos uma série de talentos que poderiam estar se desenvolvendo na literatura, no esporte, no teatro, no cinema, enfim, para serem sacrificados.
É como eu vejo os lanceiros daquela época, eles abriram mão dos seus talentos porque não tinham oportunidade, em busca de uma liberdade, uma liberdade que não veio. Era essa a mensagem que eu queria mandar. Eu jamais quis, em qualquer ponto do projeto, falar sobre a traição, porque eu não me sinto preparado para fazer uma discussão desse nível. Por isso eu convidei o Jeferson Tenório e o Juremir para que escrevessem o texto.
Eu só quero deixar o debate aberto novamente, trazer de novo à tona para ver o que a sociedade hoje diz sobre isso. E o resultado, pelo menos o que a gente acompanhou, tem sido um impacto maravilhoso, tem sido super bom. Eu só recebi um xingamento, então está ótimo.
BdF RS - A ideia é produzir livro também?
Márcio - Não, porque não teria material suficiente. Editorialmente, seria um pouco chato de ter somente os retratos. Mas eu tenho uma exposição agendada, no Ministério Público, e está aberto a outras instituições que queiram levar o projeto. Eu gostaria muito que circulasse por todo o estado, principalmente na região de Pelotas, onde tem bastante negro. Mas exige recursos, principalmente. Estamos vendo se alguém tem interesse em apoiar e de repente "comprar" a exposição para levar a outros lugares, eu ficaria feliz.
Eu só quero deixar o debate aberto novamente, trazer de novo à tona para ver o que a sociedade hoje diz sobre isso
BdF RS - Tu já tem ela impressa?
Márcio - Não, e essa parte vai ser bem interessante, o que saiu na National Geographic foram as fotos. Agora, nesse exato momento, a Paula Taitelbaum está fazendo intervenção artística em cima das fotos. Ela está fazendo alguns desenhos em cima dos lanceiros, usando cores, etc. E a exposição serão as fotos com essa intervenção.
A exposição será em setembro, no Ministério Público, que fica em frente ao parque da Harmonia (Porto Alegre), onde ocorre o Acampamento Farroupilha. O MP vai deixar abertas as portas para quem quiser.
BdF RS - As fotos, esteticamente, são lindas. Como é que tu imaginou esse trabalho? Porque é muito sutil, o lenço...
Márcio - A ideia surgiu quando eu fui buscar os registros visuais, eu descobri que não existiam fotos, obviamente pelo período, mas existiam desenhos. Então eu me inspirei nos desenhos. Eu vim sempre remetendo ao lenço vermelho, à sandália de couro. Ao mesmo tempo eu não queria fazer uma caricatura. Eu cheguei a pensar, durante o processo de criação, em investir nas roupas de lanceiros, mas pensei que ficaria muito caracterizado, e poderia até diminuir o valor do projeto por isso. E falei, eu vou usar a roupa de hoje, tanto que eu nunca pedi que alguém se vestisse de tal jeito. O que eu fazia era dizer, olha, me diz com que cores você vem, porque eu preciso pensar na luz, e aí eu ia pensando como que ia fazer as luzes e as cores, a troca de fundo da foto.
Eu aprendi muito sobre racismo conversando com eles
BdF RS - Como foi a pesquisa da escolha das pessoas?
Márcio - Foi uma lista grande. A gente pensava numa pessoa, íamos atrás dela, apresentávamos o projeto, algumas tivemos que convencer. Hoje em dia as pessoas se preocupam muito com o uso da imagem, como é que ela vai sair na mídia sobre isso (no caso dos lanceiros). Algumas pessoas tinham um controle muito forte da própria imagem, o que eu achei ótimo.
A gente fazia reuniões virtuais, até que a pessoa entendesse que era um projeto sério, e que ia ser divulgado. Fomos afunilando a lista, outro critério que tivemos era de ser heterogêneo. A gente queria homem, mulher, transgênero, novo, velho, do esporte, da política, anônimos. Eu não quero só estrelas, para não virar uma coisa de celebridades representando os lanceiros negros. Não, não se trata disso, por isso fiz questão de incluir anônimos, uma professora de primeiro grau, que passa para a próxima geração sobre a história dos lanceiros, por exemplo.
Não foi fácil, mas essa parte aí foi a Celina [Tondo Klein] quem ajudou 100%, eu só discuti os nomes. Ela também sugeriu alguns nomes, como eu te falei, eu não sou daqui, então eu fui aprendendo. Eu, por exemplo, não sabia que a Daiane dos Santos era gaúcha, eu não sabia que o Tenório, embora não seja gaúcho, foi radicado aqui.
Eu aprendi muito sobre racismo conversando com eles, embora eu venha de um estado (Bahia) que tem muita representação negra, é um estado também racista. Mas eu só descobri isso quando eu morei fora da Bahia. Quando você está no contexto, você não se dá conta de que o racismo está presente, porque ele é parte do dia a dia.
Eu percebi isso quando eu fui para o Chile, como eu era o de fora, eu conseguia observar as nuances da sociedade, e eu percebi que existia um classismo no Chile, muito mais forte do que no Brasil, que tem a ver com o lugar onde você mora e a forma como se fala. Essas nuances eu fui aprendendo lá. E toda vez que eu voltava pra Bahia, para visitar minha família, comecei a perceber as nuances da Bahia também. E percebi que entre nossas famílias, que eram de classe média, eram de uma forma racistas. Não no sentido de pregar o racismo, mas de que é um racismo estrutural, é um racismo que você não se dá conta.
Temos que ser sempre antirracistas, e se policiar realmente no dia a dia se estamos sendo ou não
Quando eles (pessoas retratadas no projeto lanceiros) vieram para cá, eu fui aprendendo ainda mais com eles na medida em que conversavam. E foi aí que eu comprei o livro do Tenório, que foi um soco no estômago.
Temos que ser sempre antirracistas, e se policiar realmente no dia a dia se estamos sendo ou não, e como podemos abrir oportunidades, porque para os negros é muito mais difícil.
BdFRS - Então, tu tem esse outro projeto, essa questão social, ela te move?
Márcio - Totalmente.
BdFRS - De onde tu acha que vem isso?
Márcio - Acho que vem muito do curso de economia. Durante o curso estudamos ciências sociais, e é interessante porque o curso de economia abriu a minha cabeça para o mundo. Eu comecei entender como funcionavam as dinâmicas das sociedades, e fui me preocupando com esse tema social. Depois da pandemia houve uma mudança também no meu processo de entender a sociedade, eu comecei a estudar mais a história humana, não necessariamente o conflito social, mas a história humana.
Eu me dei conta de que gostaria muito de estudar a questão da evolução humana e aí fui para a Patagônia, fiz uma reportagem sobre os indígenas de lá, e agora estou focado em voltar para lá novamente esse ano. Eu quero estudar mais sobre esse processo, e não sei, talvez dedicar os dois próximos anos a isso. E aproveitar, enquanto eu estou aqui, a me dedicar a alguns projetos para retribuir um pouco a sociedade local. O lanceiros foi o primeiro, o próximo eu não faço ideia. Mas os lanceiros foi o primeiro, eu quis dizer assim: Porto Alegre, eu estou aqui, e é isso que eu tenho para dar um pouco para vocês, como retribuição. Espero que tenha sido um bom cartão de visita.
Eu não preciso sair explorando lítio, tirando todo o lítio que tem na Bolívia e outras partes. É sempre uma correria para atender uma demanda que só vai crescendo
BdF RS - Fala um pouquinho desse outro projeto, O Homem e a Terra.
Márcio - Eu levei um pouco dessa mesma questão. Eu gosto muito de procurar me diferenciar um pouco do que está sendo discutido, porque se não acabo me repetindo. Quando eu comecei a documentar aquele projeto sobre o impacto do homem na natureza, fui um pouco na questão da mudança climática, que tem que ser combatida, tem que ser mitigados os problemas ambientais que nós causamos. Eu comecei a pensar: mas por que causamos esses problemas?
Alguns dizem: é o capitalismo, etc... a gente precisa ter água, energia e alimentos, para mim essa era a tríade que ia nortear o meu projeto. Como que a gente obtém água, energia e alimento? É muito legal falar: olha, vamos mudar da carne para agricultura orgânica, eu adoro agricultura orgânica, só como orgânico. Mas eu sei que 8 bilhões de pessoas não podem se alimentar de agricultura orgânica, nem haveria espaço em terra pra isso.
Então, o discurso, do meu ponto de vista, dizer "olha, não pode consumir carne porque polui demais" é um pouco vazio. Para mim, do meu ponto de vista, eu deixar de comer carne não vai diminuir o impacto na mudança do clima. O que vai diminuir é reduzir a população. Eu tenho uma visão bem clara sobre isso, de que a gente chegou no limite em que hoje nenhuma parte do planeta vive sem influência humana, e isso é absolutamente anormal, isso não é natural.
Nenhum animal, porque eu considero o homem um animal, eu não consigo ver o homem separado da natureza, nenhum outro animal conseguiu ocupar tanto o espaço como nós. Somos extremamente agressivos, eu acho que a gente já tinha que ter se dado conta disso.
Estamos começando a reduzir nossos próprios espaços para receber cada vez mais e mais pessoas, e estamos sempre buscando novas tecnologias e novas coisas para corresponder a essa demanda. Eu não preciso sair explorando lítio, tirando todo o lítio que tem na Bolívia e outras partes. É sempre uma correria para atender uma demanda que só vai crescendo.
É por isso que eu acho que a resposta para um combate definitivo as mudanças climáticas é a gente dizer: olha, para, precisamos agora reduzir a população progressivamente, distribuir melhor os recursos, ninguém precisa ter tanto, e ninguém deve ter tão pouco. Eu acho que dava para encontrar um equilíbrio.
BdF RS - Essa coisa da melhor distribuição, a pandemia veio e aumentou a desigualdade, o abismo está cada vez maior.
Márcio - Os discursos estão mais radicais. A origem da pandemia vem porque o homem ocupou tanto espaço que os vírus por instinto de sobrevivência começaram a se adaptar ao corpo humano. Estamos trazendo vírus que não seriam naturais para nós, segundo os cientistas que eu acompanho e que são muito respeitados. David Quammen, que escreve muito pra National Geographic, por exemplo, escreveu um livro chamado Contágio, e ele fala muito sobre isso, de que novas pandemias vão surgir.
Então se o homem não fizer esse controle que eu imagino que deveria fazer, a natureza fará. A natureza está fazendo um ajuste. E tem mais, se um dia a gente acabar, o mundo vai continuar, o planeta continuará, vai se recuperar, vai surgir outra espécie. Tomara que seja mais bacana que nós.
É um suicídio coletivo, por isso que eu falo: eu preferia mil vezes ter espaço, ter qualidade de vida, distribuição. Tanto é que as pessoas, as que podiam, correram (na pandemia) para o campo, para a praia. Quem não podia teve que trabalhar, se expondo. Eu acho que o homem não nasceu para isso. Eu penso que o ser humano, qualquer animal, nasce para caçar, e também se divertir.
BdF RS - Tu fez esse projeto visitando países da América Latina. Eu vejo que da América Latina está surgindo, muito forte, um outro movimento em defesa de Pachamama, da mãe terra.
Márcio - Exatamente, você vê isso muito forte hoje nos partidos mais progressistas. Sinceramente somos abençoados, temos uma natureza maravilhosa, temos a Amazônia, que não é o centro do mundo para mim, para mim a Patagônia é tão importante quanto a Amazônia, o cerrado é tão importante quanto. Eu falo isso porque quando a gente fica falando tanto de Amazônia, os recursos e os investimentos vão todos para lá, e esses outros territórios não são enxergados.
Eu gosto de ir um pouco na contramão justamente para lembrar que existem outros biomas que merecem ser protegidos
BdFRS - E o cerrado está sendo destruído.
Márcio - Exato, então eu gosto de ir um pouco na contramão justamente para lembrar que existem outros biomas que merecem ser protegidos.
BdF RS - Inclusive o bioma pampa aqui.
Márcio - O pampa praticamente não existe mais. Eu vou para Ijuí visitar a família da minha esposa e é só soja no caminho, raramente eu vejo algo que não seja soja. É triste, é triste porque é monótono.
BdFRS - A tua ideia desse projeto é transformar ele em livro?
Márcio - É, ele já está na fase final, já foi feito a edição das fotografias, está agora na fase de designer do livro, aí vai pra impressão. Eu espero lançar ele no segundo semestre. O Homem e a Terra vai um pouco além da discussão do desastre da mudança climática. Você não vai encontrar fotos de enchentes, você não vai encontrar fotos de desmoronamentos, esse tipo de coisa. Embora eu tenha fotografado a tragédia de Mariana, essas fotos não vão estar no livro, porque ali não é mudança climática, ali é agressão. Aí eu fui mais nessa linha mesmo, como que a gente está optando, e como a gente destrói tudo para saciar essa vontade.
BdFRS - Tu também tem um projeto que tu fez com as vítimas da boate Kiss.
Márcio - Sim, esse foi para o El País, quando ocorreu o julgamento aqui em Porto Alegre. A editora do finado El País me ligou e pediu para eu fazer as fotografias deles. Aí eu falei para ela, eu aceito, vamos fazer, mas desde que seja um retrato que traga dignidade para eles. Eu não queria simplesmente ir até lá, fazer a foto e sair, eu queria conversar com eles, eu queria trazer um pouco de dignidade para eles. Muitos não queriam nem ouvir falar em fotografia, e aí eu levei o meu estúdio todo para lá, armei, levei um assistente comigo e ele foi me ajudando, ia conversando com as famílias, e os convidava para pelo menos tentar.
Foi tudo feito em um dia, e no final do dia tinha uma fila deles querendo fazer, porque todos passaram para os demais a experiência de que estavam se sentindo bem sendo fotografados. Depois eu dei de presente as fotos para eles, e fico feliz que tenha ajudado de alguma forma.
BdFRS - E como que tu desenvolve o teu trabalho no dia a dia?
Márcio - Eu gostaria de estar todo dia fotografando, mas exige muita pesquisa, muito planejamento, e exige busca de recursos o tempo inteiro. Como financiar esses projetos, porque são projetos geralmente muito caros. Às vezes vem de patrocínio, às vezes de comercial. Por exemplo, uma empresa quer fazer um livro, eu faço o livro sobre a história daquela empresa, o que me ajuda a financiar os meus próprios projetos. Retratos aqui no ateliê que eu faço para algum executivo, socialite, tudo isso ajuda a financiar o espaço e outras viagens, e outros projetos, é o pano de fundo disso tudo.
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira