Após a publicação, no último sábado (16), de notícia no Sul21 revelando que a casa em que o escritor Caio Fernando Abreu viveu seus últimos anos em Porto Alegre estava na iminência de ser demolida, ativistas do setor cultural e da defesa do patrimônio convocaram às pressas um ato contra a derrubada do imóvel. O encontro, marcado para as 12h desta terça-feira (18), aconteceu, mas tarde demais. A casa foi demolida na tarde de segunda-feira (18).
Ainda assim, antigos amigos, leitores da obra de Caio e lideranças políticas da Capital acompanharam os ativistas no ato realizado diante dos escombros do imóvel que ocupava até ontem o número 12 da Rua Doutor Oscar Bittencourt, bairro Menino Deus. As falas lamentaram o fato da demolição ter ocorrido antes que a mobilização articulada nos últimos dias pudesse ter algum efeito. A casa foi colocada abaixo horas após uma ação popular ser protocolada na Justiça tentando suspender o processo, também antes que uma decisão judicial, positiva ou mesmo negativa, pudesse ser proferida.
Como despedida, alguns leitores espalharam livros e velas diante da casa, outros levaram girassóis, uma referência a textos em que o autor falava sobre as flores que adornavam o local. Conhecidos e antigos vizinhos também lembraram da convivência com o escritor. Já membros do coletivo Nuances recordaram que, em 2010, foi criada uma mobilização junto ao poder público para que o imóvel fosse convertido em centro cultural, mas ele acabou leiloado na época.
O ato ainda ocorria no início da tarde quando trabalhadores contratados pela empresa responsável pela demolição retornaram do intervalo para o almoço, dando continuidade aos trabalhos. Participantes da manifestação perguntaram então se poderiam ficar com alguns fragmentos da casa, como uma lembrança daquele imóvel que, em breve, será substituído por outra edificação sem qualquer resquício da casa que Caio Fernando Abreu cita em diversos textos de sua extensa obra.
A casa de Caio
Caio deixou Porto Alegre ainda na juventude, mas retornou em 1994, após receber o diagnóstico positivo para HIV. Ele passou seus últimos anos na casa da Oscar Bittencourt. Nesse período, publicou o livro “Ovelhas Negras” (1995) e textos que viriam a ser publicados postumamente. Entre esses textos, estão cartas e correspondências que citam a sua rotina no imóvel.
A casa já não pertencia à família do escritor há anos. Em 2010, uma mobilização chamada “Salve a Casa do Caio Fernando Abreu” tentou evitar um leilão e garantir o tombamento do imóvel, mas não teve sucesso. Atualmente, o imóvel e a casa ao lado, de número 10, pertencem a um casal de dentistas que recebeu em abril deste ano licença da Prefeitura de Porto Alegre para demolição total das residências.
O Sul21 conversou na sexta-feira com o responsável técnico pela demolição, Flavio Flores da Costa, da Graphos Arquitetura, e ele confirmou na ocasião que a derrubada da casa era iminente. O arquiteto, que desconhecia que Caio Fernando Abreu tinha morado no local, informou que uma empresa terceirizada era responsável pela demolição e que ele não tinha informações sobre o que será feito dos terrenos.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Sul 21