Os governos do Chile e da Bolívia acordaram reiniciar os diálogos da comissão bilateral para normalizar a relação diplomática entre os dois países. Durante a 60ª Cúpula do Mercosul, na última quinta-feira (21), a chanceler chilena, Antonia Urrejola, e seu homólogo boliviano, Rogelio Mayta, assinaram um memorando indicando a retomada das negociações.
Chile e Bolívia romperam relações diplomáticas em 1978 devido à disputa pelo acesso ao mar. O governo do então presidente Evo Morales iniciou um processo na Corte Internacional de Justiça, em 2013, reivindicando que parte do seu território teria sido anexado pelo Chile, após uma guerra em 1879, tirando a costa do Pacífico boliviano.
Em outubro de 2018, a Corte decidiu que o Estado chileno não tinha obrigação de oferecer uma saída marítima para a Bolívia, mas sugeriram o diálogo.
Agora os novos governos eleitos propõem uma "agenda de confiança mútua".
A prioridade seria ativar projetos de cooperação econômica e de imigração. Desde 2021, o presidente da Bolívia, Luis Arce, já havia sinalizado para o diálogo com o ex-presidente chileno, Sebastián Piñera.
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Já neste ano, no dia 23 de março, considerado o Dia do Mar na Bolívia, Arce reiterou que o "direito ao mar é irrenunciável", mas destacou que a decisão da Corte de Haia não deveria ser considerado uma derrota. "[A decisão] abre um novo cenário para o diálogo bilateral, no qual o ciclo de enfrentamentos foi superado e se inicia uma fase de aproximação baseado na integração de povos irmãos".
Após o encontro de chanceleres, foi publicado um comunicado conjunto reafirmando a disposição para o diálogo. "Convencidos da necessidade de iniciar uma nova etapa na relação bilateral em benefício de ambos povos, acordamos a reativação da rota acordada em abril de 2021", afirmam na missiva.
Sob o governo de Evo Morales, com Luis Arce no ministério de Economia, a Bolívia chegou a ser o país que mais cresceu na região durante seis anos consecutivos. Agora a nação possui um Produto Interno Bruto de US$ 36,69 bilhões. Enquanto o Chile se mantém como a 3ª economia da região, atrás do Brasil e da Argentina, com um PIB de US$ 252,9 bilhões.
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O Chile e a Bolívia, junto à Argentina, formam o chamado "triângulo do Lítio", possuem 63% das reservas certificadas do minério na América Latina, e ambos países já apontaram para a criação de uma empresa estatal para gerenciar a extração do mineral. O lítio é considerado o "ouro branco" para a economia mundial por ser um elemento base da fabricação de baterias de alta duração, utilizadas em telefones celulares e carros elétricos.
A Bolívia é um membro associado ao Mercosul, já o Chile participou da Cúpula como convidado. Outro projeto chave que poderia envolver a cooperação entre os dois países e o Mercado Comum do Sul é a construção de um corredor ferroviário bioceânico, conectando portos da costa Atlântica ao Pacífico na América do Sul.
Edição: Thales Schmidt