As autoridades de Taiwan iniciaram, nesta segunda-feira (25), a segunda etapa dos seus exercícios militares anuais chamados Han Kuang (Glória de Han). A segunda etapa utiliza aviões e armas de fogo letais para "preservar a capacidade de contra-ataque e de combate para repelir um hipotético ataque da China", afirma o Ministério de Defesa da ilha.
Cerca de 20 aeronaves militares, entre eles os caças F-CK-1 Ching-Kuo, Dassault Mirage 2000 e F-16V Block 20, além de todos os efetivos na ativa e na reserva, foram incluídos nesta simulação das Forças Armadas. Entre os armamentos testados, estão os mísseis de fabricação estadunidense Stinger, utilizados pelo exército ucraniano no conflito contra a Rússia.
Na capital Taipei e no norte do território, na região de Wan'an, também são realizados exercícios com a população civil, simulando um possível ataque externo. A partir das 13h30 (hora local) toca um alarme decretando toque de recolher: todas as pessoas devem entrar nas suas casas ou em refúgios, fechar portas e janelas e apagar as luzes.
Para o prefeito de Taipei, Ko Wen-je, a guerra entre Rússia e Ucrânia "faz entender a importância de estarmos vigilantes em tempos de paz e preparados em caso de guerra", declarou a meios locais.
O líder taiwanês Tsai Ing-wen irá acompanhar exércícios marítimos que iniciam na próxima terça-feira (26) com o lançamento de mísseis.
As #HanKuang 38th Exercise kicked off today, our airmen with the 1st Tactical Fighter Wing #ROCAF relocated their IDF fighters while local anti-air artillery units watched over the surrounding airspace. We #ROCArmedForces🇹🇼 ensure our capacity in all domains to #protectourcountry pic.twitter.com/080uRziAaO
— 國防部 Ministry of National Defense, R.O.C. 🇹🇼 (@MoNDefense) July 25, 2022
O governo chinês respondeu às atitudes de Taipei. O chanceler Wang Yi declarou que o Mar do Sul da China não deve tornar-se um "campo de batalha".
"Todas as partes devem apoiar firmemente os esforços que conduzam à solução pacífica das disputas e opor-se a qualquer ação que gere tensão e provoque confrontos na região", disse o chanceler durante a comemoração de 20 anos da Declaração sobre a Conduta das Partes no Mar do Sul da China.
Enquanto a China afirma que Taiwan faz parte de seu território, a ilha diz ter independência e busca seu reconhecimento por organismos internacionais e outras nações. Os Estados Unidos costumam vender equipamentos militares para Taiwan, uma questão que costuma ser uma fonte de tensão entre Washington e Pequim. O presidente chinês, Xi Jinping, já afirmou que apoiar a independência de Taiwan é "brincar com o fogo".
Movimentos militares dos EUA
O último movimento nesse sentido ocorreu em 17 de julho, quando os Estados Unidos enviaram o destroyer (contratorpedeiro) USS Benfold para as ilhas Nasha, no sudeste do mar do Sul da China. Segundo a Sétima Frota dos EUA, tratou-se de um "deslocamento comum" do armamento. Esta foi a quarta vez em 2022 e a segunda em apenas uma semana que o Pentágono envia navios de guerra para as costas asiáticas.
A presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, teria planejado uma viagem diplomática à Taiwan em agosto, segundo noticiado pelo portal Financial Times em 18 de julho. O movimento foi entendido pela China como uma provocação. Seria a primeira visita de um presidente do Legislativo estadunidense a Taiwan em 25 anos - o último congressista a visitar a ilha asiática foi o republicano Newt Gingrich, em 1997.
O porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian, declarou no dia 19 de julho, que a China adotaria medidas "assertivas" para resguardar sua soberania territorial.
Após recomendações do governo central chinês de que Pelosi não visitasse a ilha, o presidente Joe Biden também declarou que não sabia qual seria o "status" da visita de Pelosi e disse que o Pentágono não apoiava a decisão da parlamentar do partido Democrata.
Mesmo que tenha uma política de apoio com armas a Taiwan, no campo diplomático, desde 1979, os EUA mantêm relações com a China continental, quando deixaram de reconhecer Taiwan como um Estado.
Biden também declarou que pretende realizar conversas diretamente com seu homólogo chinês Xi Jinping.
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A questão do Mar do Sul
A China reivindica mais de 90% da área compreendida pelo Mar do Sul e disputa o controle da região com Filipinas, Indonésia, Malásia, Brunei e Vietnã. A política de "um país, dois sistemas" de Pequim inclui o reconhecimento de Taiwan e do Mar no sul do país como território chinês.
A declaração sobre Conduta das Partes no Mar Meridional da China foi assinada em 2002 pelo governo chinês e pela Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) -- composta pela Tailândia, Indonésia, Malásia, Singapura, Filipinas, Brunei, Camboja, Laos, Mianmar e Vietnã -- para tentar estabelecer limites e protocolos no eixo marítimo.
Nesta segunda (25), o chanceler chinês pediu que os países desenvolvam novos mecanismos de cooperação e amizade, afirmando que a China defende a diplomacia da boa vizinhança e quer ser um defensor da paz marítima.
Edição: Arturo Hartmann