Em convenção partidária, o Partido Liberal (PL) oficializou a chapa de Jair Bolsonaro e do ex-ministro da Defesa Braga Netto à Presidência da República, neste domingo (24), no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. O capitão reformado aproveitou o evento para incitar os seus apoiadores a saírem às ruas no próximo Sete de Setembro. "Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no Sete de Setembro, vá às ruas pela última vez", disse.
Depois, Bolsonaro voltou a atacar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como já vez em outras ocasiões. "Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo", afirmou.
Na análise de Rogério Dultra dos Santos, professor do Departamento de Direito Público da Universidade Federal Fluminense (UFF), o comportamento do presidente é uma reação ao "fracasso" de sua campanha, que não consegue ter um aumento expressivo sobre o eleitorado, diante do "sucesso da campanha" do ex-presidente Lula (PT), que figura em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de voto em primeiro e segundo turnos.
A título de comparação, Santos lembra o ato do ex-presidente que reuniu cerca de 50 mil pessoas, segundo a organização, na Cinelândia, Rio de Janeiro, em 7 de julho. Já na convenção partidária que oficializou Bolsonaro, o público foi de 12 mil pessoas, de acordo com a própria organização.
"Bolsonaro está reagindo a um movimento político de grande envergadura feito pela campanha do ex-presidente Lula. Ele se sentiu na obrigação de reagir a isso no lançamento oficial de sua de sua candidatura. Eu acho que esse é o diagnóstico que a gente pode fazer: o enfraquecimento da campanha e mais uma atitude de controlar narrativa", afirma Santos.
O professor, no entanto, acredita que qualquer tentativa de mobilização nas ruas tem grandes chances de ser um fracasso. "Um dos erros estratégicos da campanha de Bolsonaro foi apostar no Sete de Setembro. É uma data muito longínqua, da qual ele ainda não tem o controle", afirma.
"Provavelmente possa ser um tiro no pé. No máximo uma quartelada organizada, mas por forças minoritárias e por grupos financiados, mas não por um movimento popular e espontâneo que tome a Praça dos Três Poderes, por exemplo. Mas eu não acredito que isso vá acontecer. É, portanto, mais um tijolo no caminho do descrédito e do processo de criminalização do próprio Bolsonaro."
Santos lembra que os ataques feitos reiteradamente por Bolsonaro às instituições, seus representantes e contra o processo eleitoral são ilegais, o que levará o presidente a um movimento "natural de punição", a despeito da "falta de iniciativa e da leniência criminosa do procurador-geral da República", Augusto Aras.
Reunião com embaixadores e posicionamento de Aras
Na semana passada, Aras se posicionou sobre as declarações falsas sobre o sistema eleitoral feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em reunião com embaixadores, no dia 18 de julho, no Palácio da Alvorada.
Aras, que é responsável por autorizar investigações contra o presidente da República, publicou um vídeo em seu canal pessoal no Youtube em que reproduz trechos de uma entrevista que concedeu em 11 de julho deste ano. Na entrevista, ele afirma que tem "confiança nas urnas e no sistema eleitoral brasileiro". "Nós não aceitamos a alegação de fraude porque nós temos visto o sucesso da urna eletrônica ao longo dos anos, em especial no que toca a lisura do pleito", disse Aras.
Aras, no entanto, não cita Bolsonaro e, até o momento, não se manifestou sobre os processos abertos contra o capitão reformado pela reunião dos embaixadores. Na nota, PGR diz que "diante dos últimos acontecimentos do país (...) recorda a necessidade de distanciamento, independência e harmonia entre os Poderes".
Em seu discurso aos embaixadores, Bolsonaro requentou acusações já rebatidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele partiu de um inquérito aberto pela Polícia Federal em 2018 sobre uma tentativa de invasão de um hacker ao sistema do tribunal. A corte já esclareceu que esse acesso foi bloqueado e não teve qualquer interferência no resultado das eleições. Entre as mentiras ditas pelo presidente durante a reunião, Bolsonaro declarou aos embaixadores que o sistema eleitoral não é auditável.
Edição: Thalita Pires