"Eu estou me sentindo como quem vai acordar de um pesadelo." A frase do pianista Arthur Moreira Lima, que participou da convenção do PSB que ratificou a chapa Lula-Alckmin, resume boa parte do espírito do encontro que teve como um dos pontos principais a defesa da democracia e a necessidade de reconstrução do país.
O ex-governador de São Paulo e candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin lembrou dos ataques feitos por Bolsonaro a instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e ao sistema de urnas eletrônicas. "É hora de darmos um basta às ameaças a nossa democracia. A democracia brasileira é uma obra coletiva, somos todos responsáveis por ela", disse. "Não vamos jamais abrir mão do nosso direito de escolher livremente quem deve governar o pais. Quem alega fraude tem que provar, e quem não prova tem que ser punido pela farsa de acusar."
Acusando a atual gestão também de ser "incompetente", Alckmin destacou as contradições do discurso e da postura do presidente. "Bolsonaro se vangloria de defender os valores da família, mas de verdade ninguém fez mais para arruinar a estabilidade da vida familiar nesse país que seu próprio governo", apontou. "Não vamos cair no jogo da mentira e nos render às manhas e desvarios de um presidente que não quer ir pra casa. É hora de Bolsonaro ir pra casa por todo mal que causou ao país."
Lula: "Não podemos ceder a um fanfarrão"
Em seu discurso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância do evento e também elogiou o manifesto em defesa da democracia organizado por ex-alunos da Faculdade de Direito da USP e por entidades e representantes da sociedade civil. E criticou o encontro promovido por Bolsonaro com embaixadores realizado na semana passada.
"Nunca imaginei que nós iriámos ver um presidente da República cometer a idiotice de chamar embaixadores de quase 70 países para fazer o pior papel que um presidente pode fazer, de mentir aos embaixadores e passar a ideia falsa de que a democracia no Brasil corre risco por conta das urnas eletrônicas", disse Lula.
O candidato do PT também falou sobre as Forças Armadas, reafirmando que a Constituição determina o seu papel. "Nós precisamos estabelecer uma relação de respeito, em que cada um cumpra sua função e não ter um presidente que trate as Forças Armadas como se fossem um objeto nas mãos dele", pontuou. "A gente precisa recuperar a normalidade desse país."
Lula também reiterou suas críticas ao chamado orçamento secreto, defendendo que os recursos devem ser aplicados de forma transparente. "Um orçamento não pode ser secreto, o povo tem que saber o orçamento e não tem que ter emenda de relator."
O isolamento de Bolsonaro também foi tema do discurso de Lula. "O Brasil hoje tem um presidente que nunca se reuniu com o movimento sindical, nunca recebeu reitores, movimentos sociais. Que ofendeu indígenas, quilombolas. Um país generoso como o Brasil não precisa disso", destacou.
"A gente não vai tratar ninguém com indiferença", disse o ex-presidente. "Mas nós temos uma preferência e um cuidado com o povo pobre desses país, que precisa comer, estudar e trabalhar.
Lula também conclamou a militância de sua campanha a não aceitar "provocações". "Precisamos fazer essa campanha sem ódio. Não precisamos aceitar nenhuma provocação. Ninguém tem que brigar na rua, ninguém tem que brigar no restaurante", afirmou, se comprometendo a fazer campanha em lugares abertos. "Nós vamos ganhar tendo coragem. Temos que ir pra rua mostrar que o povo brasileiro quer democracia de verdade. Nós não podemos ceder a esse fanfarrão."
Edição: Thalita Pires