Um dos principais jornais do mundo, o estadunidense Washington Post publicou nesse final de semana um artigo de opinião no qual analisa as eleições presidenciais de outubro e conclui que a maior ameaça à democracia brasileira vem do centrão.
Escrito por Marc Margolis, correspondente por anos no Brasil, o artigo afirma que "a problemática política brasileira não será resolvida por quem quer que assuma a presidência no ano que vem", por estar refém do centrão. Ele define o bloco como "uma amálgama de partidos políticos sem princípios ou lealdades discerníveis, apenas ambições e apetites".
"Quem assumir o cargo em 1º de janeiro enfrenta uma familiar barganha faustiana: fazer um acordo com uma legislatura fragilizada, dominada por essa aliança de oportunistas, ou seguir sozinho e arriscar a governabilidade afundar e talvez o próprio mandato presidencial."
Ele explica que o próximo presidente assumirá com poder reduzido pelo grupo, que é composto por 32 partidos, em um sistema "que beira a incoerência" e é "manipulado para auto-replicação".
"De 1988 a 2018, a lista de partidos do Brasil - um índice composto de votos e assentos no Congresso - quadruplicou."
"O centrão ajudou a arquitetar o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992 e de Dilma Rousseff em 2016. Ambos os presidentes os desprezaram. O centrão também sobreviveu a dois escândalos de corrupção sísmicos – um esquema de propina do Congresso em 2004-2005 e a histórica investigação da Lava Jato de 2014-2021."
"De forma reveladora, enquanto o ex-magistrado da Lava Jato Sergio Moro caiu em descrédito por abuso judicial, alguns dos principais condenados do centrão viram seus casos anulados e registros apagados." Margolis exemplifica o que chama de "arte de manter presidentes como reféns".
"Em 2019, o parlamentar do centrão Ricardo Barros ajudou a lançar uma investigação no Congresso sobre o suposto papel de Bolsonaro na disseminação de notícias falsas, apenas para ser nomeado líder do governo no Congresso no final daquele ano. Sem surpresa, a investigação acabou fracassando."
O autor afirma que o bloco tem mais poder sobre o orçamento do que se vê em 29 das nações mais ricas do mundo. Por não ter ideologia, é adaptável a qualquer administração.
"Falar de um golpe iminente perde o ponto. A maior democracia constitucional da América Latina está de fato em apuros – mas não por autoritarismo. O verdadeiro problema é a ameaça no centro."
Edição: Vivian Virissimo