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A palavra e o conhecimento são fundamentais para vencer o obscurantismo, diz Antonio Nóbrega

"Estamos vivendo um momento institucional de obscurantismo", lamentou o artista

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Brincante, trovador, menestrel, o multiartista Antonio Nóbrega foi convidado de mais uma edição do Brasil de Fato Entrevista - Divulgação
A inconsciência de nós mesmos e dos nossos problemas nos torna mais vulneráveis

Antonio Nóbrega é natural de Recife e iniciou sua vida artística através do violino. Em 1971, foi convidado por Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial, grupo de música de câmara brasileira com raízes populares. Fruto do seu envolvimento com o universo da cultura popular brasileira, a partir de 1976, começou a desenvolver um estilo próprio de criação em artes cênicas e música. 

Sua extensa carreira inclui apresentações por todo o Brasil, além de países como Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Cuba, Rússia e França. Nóbrega é detentor de diversas premiações em reconhecimento por seu trabalho de valorização da cultura brasileira, como o TIM de Música, o Shell de Teatro, o Mambembe, o APCA e o Conrado Wessel, além ter sido condecorado por duas vezes com a Comenda do Mérito Cultural.

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Há 30 anos, dirige com Rosane Almeida em São Paulo o Instituto Brincante, espaço voltado a cursos, apresentações, oficinas, mostras e encontros diversos de difusão da cultura brasileira. Convidado do Brasil de Fato Entrevista desta semana, Nóbrega falou de seus projetos atuais. Um deles é um podcast sobre literatura chamado Velhas Rimas Novas, que promove conversas com autores que têm a poesia rimada brasileira como parte do seu fazer artístico.

"Foi uma experiência muito gratificante e proveitosa, além de prazerosa. Por conta do tema e por conta da abrangência que nós tivemos com os podcasts". contou. "Eu acho que, nesse momento particular do Brasil, a gente precisa dar preponderância e colocar um pouco mais avante a questão da palavra, do texto, do conceito, do conhecimento, da ciência. Ou seja, na verdade, a aclaração das ideias se faz necessária. Parece que o nosso país vive dentro de uma certa atmosfera obscurantista", declarou.

"Estamos vivendo um momento institucional de obscurantismo. Mas, eu acho que o povo brasileiro tem uma espécie de celofane que nos cobre e que nos afasta do conhecimento, no sentido da consciência. É como se nós estivéssemos vivendo ainda em uma fase muito inconsciente de nós mesmos e dos nossos problemas. A inconsciência de nós mesmos e dos nossos problemas nos torna mais vulneráveis", afirmou Nóbrega.

Na entrevista, Nóbrega também falou sobre um de seus principais interesses: a dança: "Eu pensava e continuo pensando em dedicar um livro para tratar da dança brasileira, mas de uma dança que leva em conta também o seu universo popular. Porque, na história da dança brasileira, esse universo é praticamente ignorado, com a pecha de folclórico".

"A palavra folclore, infelizmente, não corresponde ao que eu identifico como a cultura popular brasileira, que é uma cultura paralela à cultura institucional. É uma outra cultura, que nasce de fontes diferentes (...) A gente tem que escutar esse outro lado para absolvê-lo dentro da cultura chamada mainstream [dominante], dentro da cultura institucional, da cultura oficial", explicou.

"Por que é que a gente não tem dentro das nossas cadeiras de literatura, por exemplo, o estudo da literatura oral, das modalidades da poesia popular? Por que é que nós não temos nos espaços dedicados às danças oficiais pesquisas com as danças brasileiras. Esse universo sempre é alijado do mundo institucional brasileiro, sob essa pecha folclórica. Dizem que isso é coisa que não tem serventia, é coisa de museu, é coisa de preservação", lamentou.

"O que a minha vida tem me mostrado a partir da minha experiência, nas minhas leituras e convivências com mestres, é que esse é um raciocínio errôneo. Temos de rever isso, sob pena de ter sempre um Brasil dividido. É um Brasil não só socioeconomicamente abruptamente dividido, mas também culturalmente dividido", disse.

Edição: Rodrigo Durão Coelho