Golpe, segundo turno ou vitória acachapante. O que os próximos dois meses reservam para nós?
Olá! Golpe, segundo turno ou vitória acachapante. O que os próximos dois meses reservam para nós?
.Prisão ou presidência? Nunca um candidato à reeleição teve perspectivas tão discrepantes. Por um lado, Bolsonaro tem insistido na possibilidade de que ele e seus filhos sejam presos caso não saia vitorioso do pleito de outubro. É claro que esse discurso serve para apresentar-se como um perseguido pelo sistema, vítima de uma conspiração. Mas o medo pode ser real, afinal há pelo menos cinco inquéritos nas mãos do STF que podem avançar com a perda do foro privilegiado. Uma alternativa seria a conquista de um salvo-conduto em caso de derrota, o que depende de uma pactuação com o Supremo, possibilidade cada vez mais remota. Fora isso, resta vencer a eleição dentro ou fora das regras do jogo. Até agora tem prevalecido a segunda alternativa. E a ameaça de golpe é o carro chefe da campanha de Bolsonaro. É verdade que depois do ultimato do PIB com a Carta da Faculdade de Direito da USP e o Manifesto da FIESP, reafirmando o compromisso com o sistema democrático, a possibilidade de golpe ficou mais distante. Mas a ameaça não estará enterrada até 7 de setembro, quando teremos a prova dos nove do que é real e o que é fake na força do bolsonarismo. O STF está atento às movimentações, assim como setores da Inteligência, que identificaram planos de atentados a bomba e outras ações de desestabilização na semana da pátria. E claro, nos bastidores, os militares seguem alimentando a instabilidade com mais uma contestação ao sistema eleitoral, enquanto o TSE tenta se blindar ampliando o convite a organizações internacionais para acompanhar as eleições. Para completar o quadro, há o risco de uma mudança institucional com o PL que esvazia o poder dos governadores sobre as PMs estaduais que tramita no Congresso, aumentando o grau de liberdade para o bolsonarismo atuar dentro das polícias.
.O oráculo de outubro. Tudo isso pode mudar se a candidatura de Bolsonaro ganhar fôlego na reta final e se tornar viável para chegar ao segundo turno. A pesquisa Genial/Quaest mostra que esta possibilidade não está enterrada. Houve uma melhora na avaliação do governo na última enquete, especialmente entre antigos eleitores bolsonaristas que estavam arrependidos com o capitão e os beneficiários do Auxílio Brasil. No entanto, quando perguntados sobre a possibilidade de mudança do voto até outubro, o Auxílio Brasil tem pouco efeito. Já a pesquisa DataFolha continua mostrando um cenário de estabilidade, com Lula inconteste na liderança das intenções de voto. Mesmo assim, houve uma ligeira melhora no desempenho de Bolsonaro entre as mulheres, população de baixa renda, nordestinos e evangélicos. A necessidade de angariar votos dos mais pobres, somada à insatisfação com o lançamento das Cartas pela Democracia, talvez explique as recentes críticas do capitão aos bancos, apesar dos lucros recordes do setor durante seu governo. Ainda é cedo para certezas, mas além da PEC eleitoreira surtir efeito, podem contribuir a regulamentação do auxílio caminhoneiro, a recente redução no preço do diesel e o puxadinho dos empréstimos consignados vinculados ao Auxílio Brasil. Ainda são movimentos conjunturais e pequenos, mas há apenas dois meses das eleições, se eles se consolidarem como tendência, o timing do processo pode ser determinante para criar um clima de virada e levar o pleito para o segundo turno.
.Fecha a conta? Os resultados da pesquisa Genial/Quaest só reforçaram o discurso que todo dirigente petista faz no anonimato para não parecer soberba: é preciso ganhar no primeiro turno. A vitória serviria como seguro contra intenções golpistas, tanto por demonstrar força, quanto por envolver deputados e senadores recém eleitos na defesa do pleito. Mas, para isso, alerta Helena Chagas, o PT precisa evitar duas armadilhas. Primeiro, o clima do já ganhou, que amoleceria a militância e daria um gosto de derrota para um eventual ida ao segundo turno. A outra são as cotoveladas entre os aliados, como o PT carioca tem dado na candidatura de Marcelo Freixo. Com a possibilidade de vitória em um turno dentro da margem de erro, Lula sabe que precisa tirar votos da turma que habita a zona do rebaixamento, em especial Simone Tebet e Ciro. Nas negociações de bastidores, vale inclusive assediar os nanicos PROS e Avante, em busca de segundos na televisão. Porém, com o MDB e o União Brasil, a atração não surtiu efeito, mesmo com a desistência de Luciano Bivar. Se os palanques formais não ajudam, Lula ainda pode contar com as ruas. Os manifestos pela democracia só crescem em adesões e em constrangimentos a Bolsonaro, que insiste em bater e partidarizar as iniciativas. Chegando próximo de um milhão de assinantes, o manifesto da USP que será lido publicamente no largo São Francisco no próximo dia 11 pode se transformar num ato político. Os organizadores estudam a possibilidade de que uma caminhada do largo até o Vale do Anhangabaú marque o lançamento. Gesto que seria repetido em outros estados. Bem sucedido, os atos poderiam diminuir a fervura e constranger os atos bolsonaristas de 7 de setembro.
.Faria Limer. A interpretação da campanha petista de que os manifestos pela democracia não são adesões do PIB à candidatura Lula fica evidente pela forma como Paulo Guedes foi recebido em um evento da XP Investimentos. Como lhe é característico, Guedes cunhou mais uma frase que combina ginástica teórica com fantasia: “violamos o teto de gastos… com responsabilidade fiscal”. E mesmo assim, foi aclamado pela plateia. Vale lembrar que, há alguns meses atrás, foram os clientes da mesma XP que levaram a corretora a cancelar as pesquisas que apontavam a liderança de Lula. No fundo, mesmo escanteado pela campanha de Bolsonaro e sem entregar nada do que prometeu ao mercado, a Faria Lima ainda prefere o seu perfil fanfarrão a qualquer petista na economia. A prova de que a simpatia é ideológica está nas projeções do próprio mercado: o legado do bolsonarismo para 2023 será um crescimento do PIB menor que 1% e uma inflação em 5,33%.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.As lições do chavismo. Na Jacobin, José Dirceu elenca os aprendizados com a Venezuela para a apresentação do livro “Construindo a Comuna” de George Ciccarello-Maher.
.Como é ser policial militar de esquerda: 'Se é a favor de Bolsonaro, fala à vontade, se é contra, vai pagar por isso'. Ameaças, inquéritos militares e perseguições. As pressões que policiais de esquerda sofrem nas corporações.
.Quando estudar agrotóxicos vira caso de perseguição. O Joio e o Trigo relata seis casos que revelam a violência contra quem denuncia os males da exposição a pesticidas e seus impactos ambientais no Brasil.
.No Sul21, veja as duas reportagens sobre o Novo Ensino Médio, modelo que já nasceu com o velho problema da falta de professores, e que aprofunda o abismo educacional entre as redes pública e privada.
.“Os alimentos são importantes demais para serem deixados nas mãos de milionários”. A ativista indiana Vandana Shiva fala da luta contra as multinacionais e pela defesa da biodiversidade.
.Nem limpa nem sustentável. O Intercept Brasil mostra os abusos cometidos pelas multinacionais do setor de energia eólica nos contratos com pequenos proprietários de terras.
.Prisão Krenak: O local para torturar indígenas criado em MG pela ditadura militar. No Diálogos do Sul, Rafaella Dotta narra as histórias de repressão aos indígenas reveladas pela Comissão da Verdade de Minas Gerais.
.Combate à censura: a estreia do filme “Quem tem medo?” nos cinemas e um novo tempo que virá. Documentário recém lançado aborda a censura no cinema e nas artes no Brasil após o golpe de 2016. Na Mídia Ninja.
O Ponto chegou a sua 200ª edição. Obrigado por nos acompanhar até aqui e contamos com a sua companhia para continuarmos trazendo a informação sem ruídos, direto ao que interessa.
Acompanhe também os debates políticos no Tempero da Notícia e diariamente na Central do Brasil. Você pode assinar o Ponto e os outros boletins do Brasil de Fato neste link aqui.
Edição: Vivian Virissimo