Diálogo

Para restabelecer pontes, Lula se reúne com Fiesp nesta terça-feira (9)

Federação esteve entre principais críticas de governos do PT e pressionou pelo impeachment de Dilma

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Além da Fiesp, Lula deverá se reunir na quarta-feira (10) com representantes do ramo do varejo, segmento com o qual petista tenta ampliar a interlocução - Ricardo Stuckert

 

Em meio à dinâmica da agenda pré-eleitoral, o ex-presidente Lula (PT) se reúne na manhã desta terça-feira (9) com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. O petista deverá debater propostas junto a dirigentes, conselheiros e entidades associadas à organização.

“O objetivo maior dessa aproximação é mostrar que Lula não é um candidato de um partido. Lula é um representante de uma frente ampla em defesa da democracia, e essa frente se coloca para derrotar Jair Bolsonaro”, observa a cientista política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O encontro entre o candidato do PT e a Fiesp surge poucos dias após a federação lançar um manifesto pela democracia que reuniu assinaturas de um amplo leque de segmentos. Entre os signatários, estão a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Câmara Americana de Comércio, ONGs e as principais organizações de alcance sindical do país, como Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e UGT.

O documento evoca a defesa do Poder Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que têm sido sistematicamente atacados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) nos diferentes capítulos da crise institucional alimentada pelo chefe do Executivo. A publicação acabou por arranhar a relação entre os industriais e o ex-capitão, que é o principal adversário de Lula na campanha eleitoral.

O encontro surge também em um cenário em que a indústria tem sido desprivilegiada pelo governo Bolsonaro, segundo realça o cientista político Leonardo Barreto.

“Estamos falando de um segmento do setor produtivo que é altamente dependente do Estado, dependente de subsídios, de proteção comercial, e tudo isso é contra uma agenda em que o Guedes acredita, tanto é que ele extinguiu o Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o que fez com que a indústria ficasse sem uma interlocução privilegiada com o governo pela primeira vez em décadas”, contextualiza. “Por conta disso e de outras coisas, esse setor tem uma relação fria com o governo Bolsonaro”, acrescenta Barreto.

Por outro lado, no âmbito da relação com o PT, a Fiesp esteve entre os grupos econômicos que mais alvejaram os governos da sigla. Teve importância, por exemplo, a campanha “Não vou pagar o pato”, lançada em 2015, quando a federação ajudou a engrossar o caldo que levou ao impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT).

“Embora tenha sido contemplada por uma série de programas do governo Dilma, como o programa dos 10 campeões nacionais que dava financiamento pras maiores empresas do país, a Fiesp rompeu com a gestão e apoiou o impeachment”, resgata Mayra Goulart.

A cientista política pondera que, apesar da importância de se buscar diálogo com diferentes setores, o peso de um segmento como o da indústria já não é o mesmo que os atores do ramo tinham junto aos candidatos até antes das últimas eleições.

‘É importante destacar que o papel dessas grandes empresas numa campanha eleitoral se reduz quando você proíbe o financiamento de campanha por empresa. Então, o Lula que chega pra essas empresas agora já não é um Lula que precisa tanto desses recursos, uma vez que agora se tem recursos públicos de financiamento de campanha. (0:29)

O custeio de campanhas eleitorais por parte de pessoas jurídicas passou a ser vetado no país a partir do pleito municipal de 2016, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que a prática contraria a Constituição.

Jornada

Além da Fiesp, Lula deverá se reunir esta semana, precisamente na quarta-feira (10), com representantes do ramo do varejo, segmento com o qual o petista tenta ampliar a interlocução. O ex-presidente também chegou a ser procurado pela Febraban pra um encontro entre as duas partes, mas a agenda ainda não tem data confirmada.

 

 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho