Após cinco anos da remoção dos camelôs de Belo Horizonte das ruas para os shoppings populares, as principais preocupações dos trabalhadores parecem ter se concretizado. As vendas dos ambulantes caíram significativamente e, com o fim da política de subsídio aos aluguéis, os trabalhadores estão com dificuldades para quitar suas contas. Muitos, inclusive, tiveram que fechar seu comércio.
O aluguel de Vicente de Paula, por exemplo, passou de R$ 900 para mais de R$ 2 mil por mês. Sem retorno financeiro para arcar com o custo, o camelô pretende fechar sua loja. “Olha o movimento. Passou alguém aqui até agora? Aqui não passa ninguém. Quando vem algum freguês aqui é porque já me conhece”, reclama.
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O trabalhador que, desde os 9 anos atua como camelô, cobra uma solução para o problema. “Ou a prefeitura me dá um lugar na rua para trabalhar, que era o que eu tinha e eles me tomaram, ou arrumam outro lugar, mas não dentro de shopping”, pontua.
Relacionamento nos shoppings é problemático
Além dos preços e da falta de clientes, outra reclamação dos trabalhadores é com relação a administração dos shoppings privados. Alguns camelôs denunciam que há tratamento desigual entre ambulantes e demais lojistas. Além disso, de acordo com a categoria, furtos e brigas nas unidades são constantes.
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Maria dos Reis também se queixa da falta de compreensão dos empresários com a situação dos ambulantes durante a pandemia. “Para entrar [no shopping], a gente tinha que pagar, senão eles lacravam o box da gente e não deixavam a gente trabalhar. Aí tinha que pagar, nós pagamos. Todos lá pagaram”, relata.
Prefeitura ainda não apresentou solução
A remoção dos ambulantes foi regulamentada pela Lei 11.074/2017, que previa um subsídio escalonado de cinco anos no preço dos aluguéis, prazo que termina em 2022. Mesmo com a previsibilidade do fim do benefício, até o momento, o executivo não anunciou nenhuma medida efetiva para a situação.
O presidente da Associação dos Ambulantes, Adjailson Severo, explica que a categoria tenta negociar com a prefeitura uma solução. Na semana passada, a entidade participou de uma reunião com a Secretaria de Políticas Urbanas da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para debater o tema. A proposta dos trabalhadores é a criação de um camelódromo ao ar livre administrado pelo executivo, sugestão que, de acordo com a categoria, está sendo avaliada pela prefeitura.
“A gente precisa o mais rápido possível da ajuda dos órgãos públicos e da prefeitura, porque temos pais e mães de família que já estão passando fome, e não têm de onde retirar outra fonte de renda”, ressalta.
Como proposta paliativa, recentemente, a categoria conquistou a transferência de alguns ambulantes para o shopping municipal Caetés. Elizabete Lúcia foi uma das beneficiadas. Sem ter que arcar com aluguel, ela avalia que a situação está melhorando.
“Está melhor. Até porque a gente trabalha mais em paz, mais sossegado. Lá, você não tinha paz para trabalhar”, declara a trabalhadora, que afirma ter presenciado diversas brigas dentro dos shoppings privados.
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Macaé Evaristo (PT), uma das vereadoras de Belo Horizonte que acompanha a reivindicação dos camelôs, ressalta que, com a pandemia e o agravamento da situação econômica do país, o número de ambulantes na cidade cresceu significativamente e precisa de atenção do poder público.
“É preciso atuar, ter políticas públicas, criar espaços onde eles possam exercer suas atividades com dignidade para que possam sobreviver e sustentar suas famílias”, pontua.
Questionada sobre o futuro dos ambulantes e as denúncias apontadas pelos trabalhadores contra os proprietários dos shoppings, a Prefeitura de Belo Horizonte não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Relembre o caso
Com o Plano de Revitalização do Hipercentro, em julho de 2017, cerca de 1,2 mil trabalhadores foram removidos das ruas de Belo Horizonte. Alguns ambulantes foram contemplados com vagas de boxes nos shoppings Uai Centro e Uai O Ponto, em Venda Nova, ambos administrados pela iniciativa privada. No entanto, desde o início da parceria, os trabalhadores denunciam problemas nas unidades.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa