Embora a campanha só comece legalmente em 16 de agosto, podemos dizer que o primeiro debate de televisão entre os principais candidatos a governador do Rio de Janeiro inaugura de fato a corrida eleitoral fluminense.
O evento contou com a participação do governador Cláudio Castro (PL), líder nas pesquisas; do deputado federal Marcelo Freixo (PSB), até aqui o principal oponente contra a reeleição do mandatário estadual; do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), que busca quebrar a polarização Castro e Freixo; e do franco atirador Paulo Ganime, do Partido Novo.
O debate foi animado e como costuma ser nessas ocasiões, desperta defesas apaixonadas e rejeições profundas em quem já escolheu um lado. Mas, para além destas reações imediatas, é preciso analisar os impactos de um debate eleitoral em três dimensões: o formato do evento; a repercussão; e o contexto da eleição.
Sobre o formato, com vários candidatos (quatro, no caso), devemos levar em conta que nenhum candidato acerta do início ao fim, salvo exceções tipo Lula e Garotinho; e também que poucos candidatos são realmente um desastre, como foi Bolsonaro no único debate em que ele esteve presente em 2018 ou seu filho desmaiando em 2016.
O saldo deste primeiro debate, nessa dimensão, é que ninguém foi um desastre e ao mesmo tempo ninguém arrasou na performance.
Estabilidade no cenário, portanto.
Sobre a repercussão, vale destacar que existem duas camadas de audiência: quem assiste ao vivo, que é uma vanguarda mais politizada, à esquerda e à direita; e o público em geral, que vai receber a repercussão do debate pelas redes sociais nos dias seguintes.
Na bolha de esquerda, Rodrigo estava vencendo o debate até a infeliz dobradinha com Ganime. Rodrigo é menos conhecido do que Freixo no público progressista e se aproveitou bem das bolas levantadas pelo deputado federal e pelo governador sobre Niterói, cidade que governou e que é muito bem avaliado. Até que resolveu falar de black blocks com o Novo e perdeu grande parte da simpatia que havia conquistado.
Freixo consolida esse setor quando fala da sua biografia – professor, defensor dos direitos humanos, parlamentar qualificado – e também da sua relação com Lula. E mais ainda quando critica Castro, especialmente no tema dos cargos secretos. E perde quando ataca Rodrigo e quando se mostra amplo demais, quando destaca a frente que montou com os liberais. Há, nesse aspecto das alianças, uma demanda por propostas de esquerda que compensem a presença da direita na chapa.
Já Castro entrou para não perder de goleada e teve sucesso.
Em parte, por uma estratégia retórica antiga que é listar realizações, independente delas serem efetivas ou não na vida real. Em parte porque foi menos pressionado do que poderia pelos seus adversários. Sua grande vitória foi evitar a nacionalização. Em nenhum momento ele foi questionado sobre sua relação com Bolsonaro.
Quanto à repercussão junto ao público geral, os três candidatos saem do debate com momentos de força para selecionar e fazer circular em pequenos vídeos e também com vacilos e escorregadas dos adversários. O impacto disso vai depender de uma boa estratégia de redes sociais e da campanha na rádio e televisão.
Por fim, a eleição para o governo do Estado do Rio está aberta.
Castro lidera, mas com a máquina e a quantidade de partidos e prefeitos que o apoiam, esperava-se que sua dianteira fosse maior no começo da campanha. Freixo tem uma frente inédita de partidos de esquerda e direita e tem o apoio firme de Lula e vem mantendo uma consistência nas intenções de voto que o torna viável. E Rodrigo ganhou capilaridade com uma também inédita aliança entre as prefeituras do Rio e Niterói.
Nesse sentido, o debate foi um momento final de teste das estratégias que vêm sendo elaboradas na pré-campanha e que ganharão o grande público a partir do dia 16 de agosto. Castro com o mote do diálogo, mostrando suas realizações e fugindo da nacionalização; Freixo investindo em sua biografia e na polarização com Lula; Rodrigo apostando em sua experiência administrativa e na força das prefeituras do Rio e de Niterói. Aguardemos próximas pesquisas para avaliar melhor os impactos do debate e destas estratégias.
*Josué Medeiros é cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.