Coluna

A batalha pelos indecisos e os furos na canoa da 3ª via

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A disputa agora é entre os indecisos e entre quem souber aproveitar os furos na canoa da terceira via
A disputa agora é entre os indecisos e entre quem souber aproveitar os furos na canoa da terceira via - Divulgação/TRE-RJ
Quem tem um dígito, seguirá com um dígito

Como eu falei na coluna anterior, chegamos na reta final das eleições. Significa que, a não ser que algum avião caia, alguém seja preso ou alguma desistência inesperada ocorra, seguiremos sem grandes novidades.

Teremos Lula na dianteira com Bolsonaro logo atrás. E os demais candidatos? Seguirão irrelevantes, se acotovelando na terra do um digito das intenções de voto. Quem não se tornou competitivo até essa altura do campeonato, não será agora que se tornará.

Para Lula, a garantia da vitória em primeiro turno está no eleitor da terceira via e nos indecisos. Para Bolsonaro, está em conseguir garimpar alguns votos dentro do eleitorado lulista e todo o resto já recomendado a Lula.

Para entender o que estou falando basta olhar a pesquisa Quaest de São Paulo. Lá o cenário de antecipação do segundo turno está mais acentuado do que em outros estados:

Lula aparece tecnicamente empatado com Bolsonaro, respectivamente 37% x 35%. Um resultado que surpreende, já que em São Paulo Bolsonaro ganhou por 67,97% contra 32,03% de Fernando Haddad.

Em São Paulo a coisa está tão acirrada que não resta outra estratégia se não "roubar" eleitores do oponente. Bolsonaro recuperou dez pontos em seis meses enquanto Lula se manteve estável. Acontece que estes pontos são todos oriundos dos votos da terceira via e dos indecisos. Destes pontos, sete vieram da turma do pouco voto e mais três dos indecisos.

O que talvez pese em favor do ex-presidente petista é a possibilidade de recuperação do atual governador Rodrigo Garcia, que pode ir ao segundo turno com Haddad.

A pesquisa Quaest mostra que padrinhos políticos não são determinantes na disputa paulista (veja aqui), logo, se a disputa nacional for para segundo turno, Bolsonaro poderia ficar sem palanque em São Paulo.

Se ter ou não um padrinho na disputa é irrelevante, por qual motivo Rodrigo Garcia colocaria em risco a sua campanha se aliando com alguém problemático como Jair Bolsonaro?!

Pesquisa FSB

É interessante mostrar que o acirramento do cenário não mostra algo presente em outras pesquisas nacionais e confirmado pela pesquisa FSB desta semana:

Uma leve tendência de eleitores atravessando a rua indo de Lula para Jair. Uma travessia tímida restrita à margem de erro e não passando de 1% ou 2%. Essa "travessia" precisa passar os 3% ao mês para preocupar a campanha petista.

Mas vale atenção! Essa travessia acontece principalmente pelo eleitorado que recebe Auxílio Brasil e de renda mais baixa é extremamente volátil e sensível às variações na economia. Afinal de contas, alimentação e contas pesam mais no orçamento dessas famílias.

Na FSB de julho, Lula tinha 53% das intenções de voto de quem recebe até um salário mínimo. Agora tem 60%. No eleitor de dois até cinco salários, ele saiu de 30% e foi para 36% E saiu de 29% para 34% no eleitorado que recebe mais de cinco salários mínimos.

O voto em Lula varia muito rápido, embora isso não se converta totalmente em votos para Bolsonaro. Em menos de dois meses a intenção de voto em Lula caiu quase 20% entre quem recebe Auxílio Brasil, isso é muita coisa.

Até mesmo a subida é muito alta em um intervalo de quase três meses. Além disso, a rejeição de Bolsonaro também caiu à medida que a do Lula subiu. Lula subiu 3% e Ciro subiu 2% enquanto Bolsonaro caiu 5%.

Reforça o que ando apontando: a eleição está em sua reta final! Isso significa que vai ganhar quem errar menos e souber usar o horário eleitoral ao seu favor. E isso significa saber identificar e falar com o eleitor mais sensível às mudanças.

Aos candidatos sem voto, restam apostas absurdas e descoladas da realidade. Em pleno 2022 temos candidato rogando para si a pecha de "antissistema". Agora só falta falar de "nova política".

Além de ser uma rotulação horrorosa, fica claro que o candidato não sabe analisar a política. A crise de representatividade, embora não superada, não está em pauta! Ou a insistência em discursos nem-nem que também não empolgam.

E a próxima pesquisa IPEC, o que esperar?

Uma disputa estagnada e longe de acabar no primeiro turno, os demais candidatos seguirão irrelevantes, logo, quem tem um dígito, seguirá com um dígito.

O segundo turno já chegou. Bolsonaro não tem que, apenas, levar a disputa para o segundo turno: ele precisa também chegar lá de maneira confortável. Se terminar o primeiro turno com mais de 5% de diferença, dificilmente ganhará a disputa.

A disputa agora é entre os indecisos e entre quem souber aproveitar os furos na canoa da terceira via. Os dois primeiros colocados podem até tentar após em furar a canoa um do outro, mas eu vejo como algo que, embora renda alguns votos, pode não render em tempo suficiente.

Para Lula, recomenda-se aparecer em toda e qualquer entrevista ou sabatina disponível. Para Bolsonaro, recomenda-se a moderação e o foco nas poucas “vantagens” oriundas do seu governo. Acho difícil o atual presidente fazer algum aceno para a sensatez.

Edição: Felipe Mendes