Eu intitulei Cantos dos Povos como um resgate das vivências e lutas dos povos, das revoluções diária
De sotaque sertanejo e escolha pelas palavras fáceis, o cantador Neudo Oliveira afirma a justiça social através da música. Mas com a mais recente obra, “Canto dos Povos”, essa expressão de sentimentos e militância esborrou a expressão dos acordes e melodias. O também compositor e poeta está lançando um disco com cinco músicas inéditas que acompanha um livro de poesias.
“Eu intitulei Cantos dos Povos como um resgate das vivências e lutas dos povos, das revoluções diárias”, explica o artista que iniciou a carreira
em 2004, durante a Conferência Internacional da Via Campesina em São Paulo, dividindo o palco com nomes como o violonista Yamandu Costa e o grupo latino-americano Tarancón.
Antes mesmo das aparições públicas, Neudo sempre esteve ao lado da métrica, dos versos e da rima. Mas diante de um cenário de aumento da violência contra as populações camponesas e tradicionais no país, decidiu que era hora de compartilhar os poemas “não musicados” de cunho mais social. A publicação que acompanha “Canto dos Povos” é composta por 42 textos, com temas diversos sobre a vida, esperança e rebeldia.
Para o músico e professor Lucas Oliveira, Canto dos Povos é uma síntese e celebração da trajetória de Neudo com os movimentos populares, os trabalhos nas comunidades de base e as participações em festivais de música. Lucas é amigo de Neudo, escreveu a apresentação do livro, e analisa a trajetória do artista.
“É aquele trabalho que busca mais a qualidade que a quantidade. Eu vejo isso no trabalho dele, que o foco – é claro que todo mundo quer fazer sucesso e ter difusão da sua música, da sua poesia –, mas eu vejo que ele se preocupa em tocar para as pessoas e as pessoas que gostem daquilo que ele faz e gostem dele enquanto o ser humano que é”, define Lucas.
Neudo Oliveira afirma uma condição de militância em que a arte funciona como uma bomba propulsora de amor e solidariedade diante de uma cultura do ódio.
“Na verdade, o que a gente faz é justamente tentar captar um pouco desses sentimentos do nosso povo e disseminar isso através dessas manifestações, dessas expressões artísticas que a gente procura dominar, com a música e a poesia. Apesar de tudo, apesar de toda essa cultura do ódio que vem sendo propagada e financiada por esse sistema ultimamente, a gente acredita que o amor e a solidariedade ainda prevalecem no coração do nosso povo. E a gente vai nessa mesma vibração", salienta.
Lucas Oliveira diz que Neudo é uma referência para o seu trabalho pela ebulição de amor e solidariedade através da arte, buscando frestas nas barreiras positivistas e capitalistas. O também professor e pesquisador destaca uma condição relacional na música de Neudo.
“Eu considero sempre, como alguém que pesquisa sobre música, que também analisa, a importância de se ouvir as narrativas que as pessoas têm da sobre as músicas, ou seja, há uma questão sempre afetiva, uma ligação com a memória. A gente tem essa tendência de separar corpo, mente e espírito desde a época do positivismo”.
Natural de Bodocó, no sertão do Araripe pernambucano, Neudo vivenciou as lidas do campo na influência das sanfonas no forró e das violas nos repentes. Mas seu trabalho é fruto de um laboratório sonoro bem amplo, por ser, desde cedo, um assíduo ouvinte de rádio, e amante dos discos de vinil. Alguns exemplos de referências são Luiz Gonzaga, Violeta Parra, Maciel Melo, Bob Dylan e Sílvio Rodrigues.
Apesar de percorrer outros chão da terra natal, através da arte ou das viagens em turnê, Neudo mantém com naturalidade o seu jeito de vida. Mas com o alerta de evitar uma condição de caricatura, que seria uma contradição com suas lutas e sonhos.
Para adquirir a obra Canto dos Povos, basta entrar em contato com o próprio artista através de "direct" no Instagram no perfil @neudooliveira ou pelo Facebook.
Edição: Felipe Mendes