O programa Bem Viver desta segunda-feira (15) responde a seguinte pergunta: qual é a condição do ar que respiramos todos os dias? Considerada uma ameaça invisível, a poluição do ar está disseminada pelo país e o mundo. Dados oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 95% da população está exposta a efeitos da poluição do ar.
Segundo a organização, 7 milhões de mortes prematuras são provocadas todos os anos pela poluição do ar, sobretudo nos países de baixo e de médio rendimentos. Antes da chegada da covid a poluição foi considerada como primeiro desafio em termos de emergência em saúde.
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Segundo a especialista Evangelina Araújo Vormittag, diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade (ISS), não existe solução simples. Uso de máscaras ou equipamentos de proteção individual são insuficientes para se proteger das partículas poluentes.
“Não temos o que fazer quando estamos em uma região com ar tóxico. A menos que a gente se desloque para quilômetros de distância.”, explica a especialista em entrevista ao programa Bem Viver.
Vormittag, que se dedica há anos a este tema, ressalta que a poluição do ar não dá uma alternativa segura para as pessoas, senão o combate unificado a este mal. “Não temos opção de comprar um ar limpo, por exemplo, como podemos fazer com água. Apenas políticas públicas eficientes e bem gestadas podem representar uma solução”.
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Por tanto, a especialista defende que a resposta está nas eleições: “É preciso escolher um bom gestor público, uma pessoa que tenha consciência do problema e aceite o desafio de lutar contra ele. Você pode tomar atitudes individuais, de pegar um metrô, fazer uma caminhada no lugar de ir de carro. Mas nada disso vai resolver o problema”.
No domingo (14), foi celebrado o Dia de Combate à Poluição, data criada com objetivo conscientizar a população sobre a importância de evitar os danos ao ambiente.
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Sem respiro
A expectativa de que a pandemia de covid fosse um momento de arrefecimento desta situação se mostrou como uma grande mentira.
Segundo o Air Quality Life Index de 2022, diferentemente do que se imaginava, a poluição do ar não teve redução durante o período de isolamento provocado pela pandemia. O nível médio global ponderado de material particulado PM 2,5 caiu de 27,7 microgramas por metro cúbico para 27,5.
“Durante a pandemia alguns poluentes não diminuíram como era de se esperar. Parte das indústrias e queimadas na zona rural continuam a despeito da pandemia e do isolamento social. No estado de São Paulo houve aumento nos dados sobre poluentes do ano anterior”, explica Vormittag
Atraso de 10 anos
A realidade brasileira poderia ser muito melhor. Segundo Evangelina Vormittag, o país está postergando a implementação de políticas públicas que dariam um salto fundamental no combate à poluição.
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O maior exemplo é o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), uma das políticas para a melhoria da qualidade do ar mais antigas do Brasil. Ele define limites de emissão de poluentes e estabelece etapas para adequação das fabricantes desde a década de 1980, de acordo com os avanços tecnológicos do setor.
Este ano, deveria ter sido implementado uma nova fase do Programa, no entanto, “o Proconve não entrou em vigor. O Brasil está atrasado em 10 anos comparado com outros países. A mudança de fase é muito importante para a redução do material particulado. Veículos a diesel precisam de um filtro que reduz a emissão deste poluente”, explica Vormittag.
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A especialista alerta dos perigos de postergar o Programa: “Enquanto não acontece, a população adoece mais e morre mais. A substituição total da frota demora 30 anos. Então temos uma perspectiva longa após o início da troca. As próprias indústrias já utilizam essa tecnologia em outros países do mundo, mas alegam que aqui no Brasil não seria possível.”
Este atraso deve ser colocado na conta da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A entidade é a responsável por questionar na Justiça os prazos para implementar a nova fase.
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A Associação alegou que a pandemia dificultou o processo para aderir a nova tecnologia. No entanto, os planos já haviam sido traçados anos antes da chegada da covid. O que segundo Vormittag desqualifica o argumento da entidade.
A nova fase do Proconve foi definida em 2018 em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que tem competência para estabelecer normas com força de lei. Na ocasião, representantes da indústria automotiva concordaram com os prazos, que começam em 2022.
Segundo avaliação sobre os impactos da implementação da nova fase do Proconve na saúde pública, do Instituto Saúde e Sustentabilidade (ISS), a nova fase do Proconve tem potencial de evitar 148 mil mortes nos próximos trinta anos. A economia para o setor de saúde chegaria a R$ 575 milhões em internações hospitalares.
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Edição: Lucas Weber
