O Amazonas foi o epicentro da crise na saúde durante janeiro de 2021, em meio à pandemia de coronavírus no Brasil. Imagens de covas coletivas ganharam o mundo. O sistema de saúde do estado entrou em colapso.
Mais 60 pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio. Os cemitérios não comportavam a quantidade de mortos, e os enterros foram feitos em covas coletivas. Mas se enganou quem pensou que a tragédia iria provocar mudanças no quadro eleitoral.
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O candidato favorito ao governo do Amazonas é o atual governador Wilson Lima (União Brasil), que tenta a reeleição. Acuado na pandemia, ele foi investigado por suposto desvio de verbas na compra de respiradores, mas não saiu prejudicado eleitoralmente.
O senador Eduardo Braga, que marcou posição contrária a Wilson Lima durante a CPI da covid no Senado, segue em terceiro lugar na disputa pelo governo do estado, atrás de Amazonino Mendes (Podemos).
Durante a crise da pandemia, o prefeito de Manaus era Arthur Virgílio (PSDB). Hoje ele é o favorito na disputa pelo Senado, com 31% das intenções de voto. Logo atrás, com 24%, vem o senador Omar Aziz, que tenta a reeleição. Os dados são da pesquisa da Iveritas.
Aziz presidiu a CPI da covid e fez duras críticas à maneira como a crise de saúde foi conduzida pelas lideranças do estado. Hoje ele está atrás de Arthur Virgílio na corrida.
Crise na saúde não educou politicamente a população
"A Covid em Manaus não desempenhou um papel politicamente pedagógico", afirma Marcelo Seráfico, sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). "Não desempenhou o papel de mostrar à maioria dos cidadãos que votaram no senhor presidente da República que a atitude que ele tomou representa uma ideia de que o Estado não tem obrigação nenhuma com os cidadãos", afirma.
"A crise na saúde", reforça o sociólogo, "não educou uma parte expressiva dos cidadãos e cidadãs amazonense, que na capital permanece oferecendo apoio à candidatura de Bolsonaro.
No Amazonas, o tema predominante nas eleições é a economia. Os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus perderam força no governo Bolsonaro. A medida é considerada um duro golpe na principal política de incentivo à indústria.
Por outro lado, a reconstrução da BR-319, importante rodovia que liga Manaus à Porto Velho e ao restante do país, mobiliza os discursos eleitorais a favor do governo federal. O prometido asfaltamento da rodovia, que ainda não começou, foi uma bandeira do governo Bolsonaro, que aposta em continuar projetos de infraestrutura iniciados pela ditadura militar, como a BR-319.
Imobilismo político de direita e extrema direita
O sociólogo Marcelo Seráfico observa que as eleições no Amazonas estão polarizadas entre candidaturas de direita ou extrema-direita. Para a esquerda despontar, falta superar a influência dos grandes proprietários de terra que se perpetua há séculos no estado, e do empresariado de Manaus, que concentra o poder político e impede alternativas progressistas.
"Nas capitais a extrema direita mantém um poder expressivo. No interior, inclusive pela difícil estruturação de partidos de esquerda e de posições vinculadas a teses mais progressistas, isso é quase que um dado é incontornável da realidade", explica o pesquisador.
Seráfico chama ainda Manaus de "cidade-estado", por concentrar poder político e econômico. "As tendências que saem de Manaus acabam tendo enorme influência nos desdobramentos políticos do interior do estado", disse.
Edição: Rodrigo Durão Coelho