A diferença é atenuada, principalmente, quando você tem uma maior presença da atenção primária
A aplicação da primeira dose da vacina contra o coronavírus no Brasil encontrou obstáculos na pobreza, mas a presença de unidades de atenção primária representou proteção para populações mais vulneráveis.
Um estudo publicado na revista científica internacional The Lancet aponta que regiões com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em patamares médio e baixo apresentaram menor cobertura vacinal na fase inicial da campanha de imunização.
Enquanto as regiões mais ricas conseguiram aplicar em média 72 doses por 100 habitantes, os locais com IDH médio chegaram a 68 doses. Onde a pobreza é maior, esse resultado foi de 63 doses a cada 100 pessoas.
Os empecilhos no acesso fizeram com que os locais mais empobrecidos do Brasil tivessem dificuldades maiores para frear a propagação e os óbitos por covid-19. O estudo alerta que esse cenário contribuiu para prolongar a pandemia e gerar novas variantes.
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Segundo o pesquisador Leonardo Bastos, professor do Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da PUC Rio e um dos autores do estudo, a cobertura da atenção primária reduziu as diferenças e conseguiu amenizar a desigualdade nas fases posteriores da campanha.
“Nós observamos que municípios com baixo IDH administraram menos doses de primeiras doses da vacina contra a covid-19 comparados aos municípios de médio e alto IDH. Só que ainda nessa mesma análise, nós observamos que essa diferença é reduzida, ela é atenuada, principalmente quando você tem uma maior presença da atenção primária, medida pelo percentual de cobertura da atenção básica nesses municípios.”
O pesquisador da Fiocruz, Fernando Bozza, que também assina o texto científico lembra que a campanha de vacinação contra a covid-19 sofreu muito os impactos da desinformação e da propagação de mentiras sobre o imunizante. A estrutura de atenção primária à saúde teve um papel importante também para combater as fake news.
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“Em função de vários acontecimentos, entre eles os fatores de comunicação e as fake news, a população, muitas vezes, fica insegura de se vacinar. O fato de as populações, especialmente essas populações mais pobres terem uma unidade de saúde próxima, terem um relacionamento com essa unidade de saúde, garante, em grande parte, essa confiança”, explica.
O estudo avaliou a distribuição das mais de 200 milhões de vacinas administradas entre janeiro e agosto do ano passado. Nesse período mais de 63% da população adulta do país tinha tomado a primeira dose. A segunda dose havia chegado para 31% da população na ocasião. Foram analisados 5.570 municípios.
A pesquisa reúne cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da PUC-Rio, do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
Edição: Vivian Virissimo