Disputa está mais difícil para Bolsonaro, que tem desafios gigantescos, mas ganha quem errar menos
Com o perdão da redundância, mas finalmente chegamos ao final da “super semana”, uma semana em que tivemos 4 pesquisas nacionais relevantes, a cassação do vereador Gabriel Monteiro, a posse de Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, a revelação de um grupo de empresários defensores de um golpe de Estado, o início do período eleitoral e o presidente dando flagrantes sinais de desequilibro emocional. Ufa!
Uma abertura digna de uma das eleições mais marcantes dos últimos, e por que não, dos próximos anos! Diante de tantas coisas, gostaria de me apontar algumas coisas interessantes nas pesquisas de opinião publicadas.
Para começar, é interessante como todas elas apresentaram resultados em linha sem muitas distorções:
-
Quaest (domiciliar): Lula 45% X Bolsonaro 33%
-
IPEC (domiciliar): Lula 44% X Bolsonaro 32%
-
FSB (Telefone): Lula 45% X Bolsonaro 34%
-
Datafolha (ponto de fluxo): Lula 47% X Bolsonaro 32%
Todas elas mostram que não muito mais onde os dois primeiros colocados tirarem votos se não dos demais candidatos (3ª via) e indecisos, também mostra que nem mesmo os tão alardeados benefícios da PEC da compra de votos produziram mudanças significativas.
Tanto a Quaest, quando a FSB mostrou que a avaliação do governo se mantém estável enquanto a avaliação de Jair Bolsonaro segue alta, já a pesquisa Ipec divulgada nesta segunda-feira (15), encomendada pela Globo, mostrou que 57% das pessoas reprovam a maneira como o presidente Jair Bolsonaro está governando o país o que pode indicar que por enquanto Bolsonaro não consegue absorver os “ganhos” de tudo que fez até o momento.
A pesquisa Datafolha também aponta para o mesmo sentido, enquanto o governo tem 43% de reprovação e 30% de aprovação, o presidente teste governo tem uma rejeição superior onde 51% dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum.
O motivo disso pode ser encontrado na pesquisa Quaest onde foi perguntado aos entrevistados o que eles achavam das medidas econômicas do governo. Mais de 60% responderam que veem essas medidas como algo meramente eleitoral enquanto 33% acreditam que de fato o presidente queira ajudar as pessoas. O que é grave!
A sociedade brasileira sempre foi muito personalista, principalmente com política, pesquisas e mais pesquisas mostram que o brasileiro tente a colocar tudo na "conta do presidente". Sejam coisas boas ou ruins. É da natureza da sociedade brasileira.
Um exemplo disso? A pesquisa Quaest mostrou que maioria das pessoas (42%) creditam ao presidente a irrisória redução do preço dos combustíveis nos últimos tempos.
E embora o governo e o núcleo da campanha esperassem uma verdadeira disparada agora na segunda quinzena de agosto, isso não aconteceu. Bolsonaro já fez tudo que poderia fazer, dentro das suas atribuições para “turbinar” a sua intenção de voto. Agora só resta a campanha.
As pesquisas dessa semana também mostram a desidratação dos demais candidatos, o que também reforça a minha última coluna, estamos em reta final e não há mais espaço para outros competidores, quanto mais próximo de outubro, mais acirrada será a disputa entre os dois primeiros colocados, por isso, não dá para gravar uma vitória, tampouco em primeiro turno, embora Lula seja franco favorito.
As pesquisas dessa semana também mostram a desidratação dos demais candidatos, o que também reforça a minha última coluna, estamos em reta final e não há mais espaço para outros competidores, quanto mais próximo de outubro, mais acirrada será a disputa entre os dois primeiros colocados, por isso, não dá para cravar uma vitória, tampouco em primeiro turno, embora Lula seja franco favorito.
Ao que parece, os candidatos menores e os indecisos são uma reserva de votos benéfica para Jair Bolsonaro.
A própria pesquisa Datafolha mostra que o presidente cresceu sete pontos no eleitor de classe média, entre 2 e 5 salários-mínimos, justamente o eleitorado que a terceira via tem em sua maioria. Ou seja, a recuperação não veio no foco das medidas, o leitor que recebe até dois salários-mínimos.
Neste eleitor, Bolsonaro manteve os 23% que havia conquistado na rodada anterior. Lula, por sua vez, oscilou um ponto pra cima, chegando em 54%.
E enquanto Lula lidera entre os católicos, Bolsonaro alcança 49% (subindo 10%) das intenções de votos evangélicos enquanto Lula tem 32%.
Já a IPEC mostra que Lula lidera nas periferias com 44% contra 28% do Bolsonaro e também nos eleitores de menor renda. Seguem os dados:
-
Até 1 salário-mínimo: Lula 60% contra Bolsonaro 19%.
-
Até 2 salários-mínimos: Lula 44% contra Bolsonaro 29%
Bolsonaro precisa fazer com que as medidas aprovadas pelo governo convertam em intenções de votos e redução da sua rejeição, o que não aconteceu nos últimos dias, além disso, como ando repetindo, Bolsonaro tem duas preocupações:
Fazer a disputa chegar no segundo turno e terminar o primeiro turno com menos de 5% de diferença com Lula para se viabilizar. Ao contrário do que muitos pregam, o segundo turno não é e nunca foi uma nova eleição.
Hoje Lula tem mais de 40% dos votos, o que é mais do que a soma das intenções de voto dos outros candidatos, que chega a 42% (sem contar os nulos e indecisos).
Todas as pesquisas ainda mostraram que Bolsonaro não conseguiu sequer ampliar a sua margem de intenções de votos para o segundo turno. Enquanto Lula passa os 50%, Bolsonaro segue na casa dos 30%.
O que mostra que Bolsonaro precisa roubar votos do seu principal concorrente o que mostra que os votos da terceira via não serão suficientes. O que nos faz acreditar que a segunda quinzena de setembro será muito intensa para as duas campanhas já que os candidatos café-com-leite já terão chegado ao limite da desidratação das suas intenções de voto.
E nem mesmo o “roubo” de eleitores é algo garantido, aliás, em uma eleição com um grau de convicção tão alto, essa será a tarefa mais árdua para os dois lados. Ter eleitores atravessando a rua não significa que Bolsonaro vai disparar em votos! Assim como ele fará isso. Se Lula perder 1-2% numa pesquisa, capaz de recuperar na outra. Normal.
Também não me espantaria se Bolsonaro encurtasse sua diferença com Bolsonaro nas pesquisas das próximas duas semanas, afinal de contas ele está no poder e isso faz com que ele ocupe parcelas maiores do noticiário. Se isso será o suficiente para se tornar realmente competitivo, aí são outros quinhentos. Estamos há menos de 50 dias das eleições de primeiro turno.
Até o momento as pesquisas indicam que Bolsonaro não consegue chegar aos 40% de intensão de votos nem no segundo turno. E a rejeição acima dos 50% fazem parte dessa conta. A campanha lulista precisará trabalhar para manter a rejeição do atual presidente nesse patamar ao mesmo tempo que deve evitar que a rejeição do Lula aumente.
Nota de obituário
Se a disputa entre Lula e Bolsonaro está longe de acabar (embora esteja na reta final), essa semana podemos afirmar seguramente que a disputa acabou para a terceira via que se tornou café-com-leite nessas eleições.
As covas que já estavam abertas desde o começo do ano, podem ser fechadas nesta semana. Em setembro faremos a missa de sétimo dia e mandaremos os falecidos para as gavetas.
Mais difícil para Bolsonaro
Está claro que a disputa está mais difícil para o Bolsonaro que precisa enfrentar os desafios gigantescos mencionados acima, mas não se esqueçam, nessa eleição, ganha em errar menos.
Por enquanto seguimos com o cenário de estabilidade, com Bolsonaro oscilando 2 pontos na margem de erro e mantem o ritmo vagaroso de crescimento e mantendo seu patamar de 30% enquanto Lula segue mantendo o seu patamar de 40%.
Bolsonaro ainda não apresentou uma estratégia para roubar eleitores do Lula e converter indecisos e arrependidos com ele, pelo contrário, sempre que ele parte para alguma escaramuça contra o sistema eleitoral, ele assusta esses eleitores, inclusive aqueles que poderia roubar do Lula.
O tabuleiro ainda pode se movimentar de maneira interessante. A campanha lulista vem calibrando a sua estratégia para ampliar a diferença e se defender de forma mais reativa aos ataques do opositor, em breve teremos as campanhas em rádio e TV.
A única coisa que podemos ter certeza é de que este será um período eleitoral histórico e marcante.
Edição: Glauco Faria