Na Colômbia, governo e o Exército de Libertação Nacional (ELN) dão primeiros passos para a retomada das negociações dos acordos de paz. Enquanto o governo suspendeu ordens de captura contra líderes da guerrilha, o ELN libertou seis militares do exército colombiano, que estavam detidos pelo grupo insurgente, no departamento de Arauca, fronteira com a Venezuela.
As ações seriam uma demonstração de "boa vontade" para as mesas de negociação de um novo acordo de paz. Assim que assumiu a presidência, no dia 7 de agosto, Gustavo Petro já havia anunciado a retomada oficial dos diálogos com a maior guerrilha em atividade no país.
"Por decreto autorizei restituir os protocolos e permitir novamente que os negociadores possam reconectar-se com sua organização, suspendemos ordens de captura e de extradição a estes representantes para que comecem o diálogo com o ELN", disse Petro.
Já a liberação dos oficiais do exército foi confirmada pelo Comissionado da Paz, na última sexta-feira (19), afirmando que a "decisão humanitária [do ELN] é um gesto importante para a construção das bases para reiniciar o processo de diálogo".
Sobre la liberación de seis integrantes de las Fuerzas Militares por parte de la guerrilla del ELN: ⬇️ pic.twitter.com/T84gUR8P8j
— Alto Comisionado Paz (@ComisionadoPaz) August 19, 2022
Na primeira semana de agosto, representantes do governo colombiano se reuniram com autoridades cubanas e os negociadores do ELN, em Havana, para determinar detalhes sobre a nova rodada de negociação.
Os diálogos de paz entre o Executivo colombiano e o ELN haviam começado em Havana, com participação de outros países como garantidores da paz, entre eles o Chile, a Venezuela, Noruega e o próprio Brasil. As negociações foram interrompidas em 2018 pelo ex-presidente Iván Duque, que encerrou quatro anos de gestão com um dos mandatos mais violentos da história do país.
Com o governo da coligação Pacto Histórico, a proposta é realizar mesas de diálogo de paz no interior do país, envolvendo além dos guerrilheiros, as comunidades afetadas pelos 58 anos de conflito armado.
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No último fim de semana foi instalado o primeiro "posto de mando unificado pela vida", no departamento de Cauca, região do Pacífico colombiano. A unidade é formada por representantes da força pública, parlamentares que compõem a comissão de paz da Assembleia Nacional e líderes comunitários locais.
O senador Iván Cepeda (Polo Democrático Alternativo), presidente da comissão de paz do senado e membro da base governista, explicou que a nova estrutura se insere na política de "paz total" proposta pelo governo desde a campanha eleitoral.
"Não implica dialogar simultaneamente com grupos armados ilegais que são de distinta natureza, mas também romper com a lógica dos processos de paz realizados até hoje na Colômbia [...] os diálogos estarão acompanhados de protagonismo das comunidades no território", disse Cepeda.
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Cenário do conflito
Cauca é o estado de origem da vice-presidenta, Francia Márquez, e considerado um dos mais violentos do país. Foram 229 líderes sociais assassinados desde 2016, com a assinatura dos acordos de paz entre o governo colombiano e a extinta FARC-EP. Dentre os mortos, 57 pessoas haviam assinados os acordos e iniciado o processo de reintegração social, segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz).
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Além de ser o quarto estado com maior concentração de população indígena e afrocolombiana, e ter 39% da população em situação de pobreza, Cauca também possui reservas de ouro e outros minérios, e é uma das rotas de escoamento de produtos pelo Oceano Pacífico. Por reunir todas essas características, o departamento tornou-se uma zona de disputa entre grupos armados, exército, o garimpo, paramilitares e o narcotráfico.
De acordo com o Indepaz há a presença de pelo menos dois grupos paramilitares (Autodefesas Gaitanistas da Colômbia e Águias Negras), assim como cinco frentes das dissidências da FARC-EP e três comandos do ELN.
O estado também concentra cerca de 17,3 mil hectares cultivados de coca. Até 2021, o território esteve sob comando militar do general Jorge Hernando Herrera Díaz, que passou de chefe da 29ª Brigada de Cauca a comandante da 6ª divisão do exército nacional, até ser afastado do cargo, em fevereiro deste ano, após ter vínculos com grupos narcotraficantes revelados.
A Colômbia é considerada o maior produtor de cocaína do mundo, com cerca de 171 mil hectares cultivados, segundo relatórios das Nações Unidas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho