Nesta segunda-feira (22), o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) divulgou o resultado das primeiras investigações sobre o assassinato de Daria Dugina e afirmou que o homicídio foi realizado por serviços secretos ucranianos. As autoridades ucranianas negam envolvimento.
A jornalista Daria Dugina, filha do ideólogo nacionalista russo Alexander Dugin, foi assassinada no último sábado (20) por uma explosão a bomba nos arredores de Moscou.
"Foi estabelecido que o crime foi preparado e cometido pelos serviços especiais ucranianos. A autora do crime é uma cidadã da Ucrânia, Vovk Natalya Pavlovna, nascida em 1979", diz o comunicado.
O FSB esclareceu que Natalya Vovk, junto com sua filha de 12 anos, chegou à Rússia em 23 de julho e alugou um apartamento no prédio onde Dugina morava para coletar informações sobre ela.
Segundo o órgão, após a explosão controlada do carro de Dugina, Vovk e sua filha dirigiram pela região de Pskov e saíram da Rússia pela Estônia.
Daria Dugina tinha 29 anos. Ela se formou na Faculdade de Filosofia da Universidade Estadual de Moscou, atuando como especialista em Relações Internacionais e comentarista política do Movimento Eurasiano Internacional, fundado e liderado por seu pai, com quem também compartilhava a defesa das ações militares da Rússia na Ucrânia.
O presidente russo, Vladimir Putin, enviou um telegrama de condolências à família de Daria Dugina, que foi publicado no site do Kremlin. De acordo com o líder russo, a morte de Dugina foi "um crime vil e cruel que acabou com a vida de Daria Dugina, uma pessoa brilhante e talentosa com um verdadeiro coração russo".
"Jornalista, cientista, filósofa, correspondente de guerra, ela serviu honestamente ao povo, à pátria, provou com atos o que significa ser um patriota da Rússia", disse Putin.
Influência superestimada na política russa
Após a notícia sobre a morte da jornalista russa, foi levantada a suspeita de que o atentado poderia ter sido planejado contra o próprio Alexander Dugin. Relatos apontam que o cientista político deveria estar no mesmo carro da filha e teria optado por ir em outro automóvel na última hora, após ambos terem participado de um festival nos arredores de Moscou.
Muitas vezes apontado como "ideólogo" do Kremlin e grande influenciador da política de Vladimir Putin, Dugin é visto por analistas russos como alguém superestimado e sem influência direta nos rumos da política russa nas últimas décadas.
De acordo com o analista sênior do International Crisis Group para a Rússia, Oleg Ignatov, "Dugin nunca foi um ideoólogo do Kremlin". Ao Brasil de Fato, o cientista político destaca que não há nenhuma evidência de que Dugin e o presidente russo tenham sequer se encontrado alguma vez na vida.
"Ele tinha muita popularidade entre militares ligados ao Ministério da Defesa, possivelmente dentro do FSB, mas ele nunca foi popular dentro da administração presidencial da Rússia, nunca foi um especialista do Kremlin", aponta Ignatov, destacando que na Rússia existe um grupo de analistas acadêmicos apoiados diretamente pelo Kremlin.
Ideólogo russo Alexander Dugin faz um discurso durante o comício "Batalha por Donbass" em apoio às autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, em 18 de outubro de 2014, em Moscou, / STR / Agência de Notícias de Moscou / AFP
Ele destaca, entretanto, que certamente o ideólogo alcançou uma grande popularidade entre segmentos militares do Ministério da Defesa da Rússia, onde ele tinha boa articulação. E essa relevância aumentou substancialmente após a crise ucraniana em 2014. Neste ano, Alexander Dugin apoiou de maneira veemente a anexação da Crimeia pela Rússia.
O analista explica que as teses de Dugin eram consideradas radicais para os padrões da política externa da Rússia na primeira década deste século. No entanto, a relevância de Dugin aumentou substancialmente após a crise ucraniana em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. Alexander Dugin já defendia a anexação da Crimeia pela Rússia em 2008, na ocasião do conflito entre Rússia e Geórgia.
Na época, ele defendia que as tropas russas deveriam ter ido à capital da Georgia, Tbilisi, para derrubar o presidente Mikhail Saakashvili e, em seguida, tomar a Crimeia, que "de qualquer forma, faz parte da Rússia", segundo Dugin.
"Houve uma convergência entre a radicalização da política externa do Kremlin e as posições radicais de Dugin, houve uma aproximação nesse sentido", afirma Oleg Ignatov.
Por outro lado, o cientista político do International Crisis Group para a Rússia acrescenta que seu papel em relação aos rumos da política externa de Moscou foram sempre exagerados por parte do Ocidente, e mesmo na Ucrânia. Mas, segundo ele, justamente pelo fato da influência de Dugin ser superestimada, o escritor e sua filha podem ter sido alvo de um atentado por simbolizar uma posição radical no contexto da Ucrânia.
*Colaborou Serguei Monin.
Edição: Thales Schmidt
