Cubanos e cubanas poderão adquirir dólares estadunidenses, a partir desta terça-feira (23), em casas de câmbio oficiais dentro da ilha, as chamadas Cadecas. A decisão faz parte da Tarefa Ordenamento - reforma econômica implementada a partir de 2021. Com a extinção do peso cubano conversível (CUC), criado em 1994, o dólar passou a circular livremente na ilha.
Inicialmente, o Estado havia mantido a taxa de câmbio US$1 = 24 pesos cubanos para todas as operações. No entanto, a cotação era até cinco vezes inferior ao mercado paralelo. Para conter a fuga de moedas estrangeiros para o mercado irregular, há 20 dias, o Estado anunciou a nova política cambiária, que estabeleceu uma nova cotação para o câmbio oficial peso-dólar, saltando de US$ 1 equivalente a 24 pesos para US$ 1 igual a 120 pesos cubanos.
"Para qualquer sociedade é impossível extinguir totalmente o mercado irregular de moedas, mas a proposta é torná-lo algo ínfimo, residual", diz em entrevista ao Brasil de Fato o cônsul cubano em São Paulo, Raúl González.
A compra de dólares pelo Estado na nova cotação foi iniciada no dia 4 de agosto, já a venda começou apenas nesta terça-feira (24). A presidenta do Banco Central de Cuba, Marta Wilson, afirmou que a venda de dólares por instituições estatais só é possível graças ao aumento de arrecadação de moedas estrangeiras a partir da nova taxa de câmbio.
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O governo dispôs 37 casas de câmbio oficiais em toda a ilha, que oferecerão os dólares somente em dinheiro em espécie, já que, por conta do bloqueio econômico, Cuba não pode realizar transações financeiras com a moeda estadunidense. Da mesma forma, os dólares não poderão ser depositados em contas de bancos cubanos.
"É um mercado que deverá se sustentar por conta própria, o acesso à venda dependerá da aquisição", disse Marta Wilson a meios locais.
Casas de Câmbio estatais de Cuba amanheceram com filas nesta terça (23), após autorização de venda de dólares / Abel Padrón / CubaDebate
O Banco Central ainda permite uma variação de 3% a 5% na taxa de câmbio para a compra e venda da moeda estadunidense. Segundo as autoridades do governo cubano, a nova medida busca estabilizar a taxa de câmbio em 1x120 e busca fortalecer a moeda nacional cubana.
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"O objetivo é desdolarizar a economia, mas isso vai depender do conjunto de medidas que estamos implementando, a consolidação do mercado cambiário é apenas uma delas. A medida que se aumente a produção e a oferta de produtos em pesos cubanos, vamos fortalecer a moeda nacional", defendeu o cônsul Raúl González.
Na última semana, Cuba também passou a autorizar a criação de empresas mistas e o investimento estrangeiro em outros setores além do turismo para abastecer o mercado interno.
"Sempre haverá pessoas que não demandem o valor máximo de US$ 100 e isso permitirá que mais pessoas tenham acesso. A medida que captemos mais divisas e haja maior capacidade de venda, esse mecanismo será ampliado", explicou o ministro de Economia, Alejandro Gil Fernández.
O ministro, no entanto, disse que ainda é necessário aumentar a produtividade da economia cubana para poder incrementar os salários. "O mercado cambiário é uma peça que faltava na economia do país e se insere na estratégia econômica. Isto não só favorece as pessoas que recebem remessas, também forma parte de um processo de recuperação da capacidade de compra em pesos cubanos", concluiu Gil Fernández.
Desde 1962 Cuba enfrenta um bloqueio econômico dos Estados Unidos que gerou cerca de US$ 147,8 bilhões em prejuízos, segundo medições do Estado cubano. Até 1993, a circulação do dólar era controlada na ilha, já que, devido às sanções, a moeda não poderia ser comercializada pelo Estado cubano. Com o fim da União Soviética, Cuba passou a autorizar a circulação do dólar até 1994, quando criou o peso cubano conversível (CUC), moeda com câmbio fixo que era utilizada no lugar do euro e do dólar tanto para turistas como para cidadãos cubanos.
Edição: Thales Schmidt
