Na terça-feira (24), a população acompanhou nos mais diversos noticiários, a decisão do ministro Alexandre de Morais (STF) em determinar busca e apreensão na casa de oito empresários apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) suspeitos de participação e incitação de atos antidemocráticos, no próximo dia 7 de setembro e nas eleições de outubro. A decisão foi baseada em uma reportagem do site “Metrópoles” que denuncia a troca de mensagens golpistas caso o ex-presidente Lula, candidato do PT, seja eleito no próximo pleito.
O empresário cearense Afrânio Barreira, proprietário da rede de restaurantes Coco Bambu, é um dos oito investigados. Nesta terça-feira (23), trinta e cinco policiais federais cumpriram os mandados em dez endereços de cinco estados: Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Celulares e pen drives foram apreendidos. Além das buscas, o ministro também determinou o bloqueio das contas bancárias e quebra de sigilo; bloqueio nas redes sociais dos empresários, além da tomada de depoimentos dos suspeitos.
Leia também: PF faz ação contra empresários bolsonaristas que defenderam golpe caso Lula seja eleito
As medidas ocorrem no âmbito do inquérito das milícias digitais que investiga a atuação de organizações criminosas no financiamento de atos antidemocráticos, inclusive com uso de verbas públicas. As mensagens golpistas foram trocadas no dia 31 de julho, em um grupo criado no ano passado e denominado de Empresários & Política. O tema surgiu quando José Koury, proprietário do shopping Barra World no Rio de Janeiro, publicou no grupo: "Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, escreveu. Em seguida, o Afrânio Barreira respondeu a mensagem com uma figurinha fazendo sinal de positivo. No mesmo dia, André Tissot, do Grupo Sierra, empresa gaúcha especializada na venda de móveis de luxo, defendeu que uma intervenção deveria ter ocorrido em 2019: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, publicou.
Ameaças e ataques golpistas sempre fizeram parte da narrativa dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Em setembro de 2021, protestos com pautas autoritárias que, extrapolaram o limite da liberdade de expressão, se espalharam pelo país, apoiados pelo próprio presidente. Na época, o ministro Alexandre de Morais também determinou busca, apreensão e mandados de prisão de suspeitos que estariam envolvidos na organização de atos contra as instituições e a democracia no feriado da independência. Este ano, a prorrogação por mais 90 dias do inquérito que investiga as milícias digitais, permitiu a operação da PF e deve contribuir para intimidar a realização de atos contra a ordem pública, financiados por grupos de alto poder econômico e prestígio social.
Contexto: Empresários que integram grupo pró-golpe têm empréstimos do BNDES e dívidas com a União
Além dos nomes citados, o grupo conta com outros empresários declaradamente apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, como Luciano Hang, dona da Havan; José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan; o empresário José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii, que ao defender o golpe no grupo, escreveu: “Golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”.
Em nota, a defesa do empresário cearense Afrânio Barreira, confirmou a apreensão de dois celulares do proprietário do Coco Bambu e informou que o empresário “está com a consciência tranquila, pois a única mensagem enviada foi um emoji sinalizando a leitura da mensagem, sem estar endossando ou concordando com seu teor,” informou.
Em 2018, o site do Tribunal Superior Eleitoral mostrou que o empresário Afrânio Barreira doou R$20 mil para a campanha do então candidato à presidência, pela extrema direita, Jair Bolsonaro. Em 2020, a rede de restaurantes chegou a ser um dos assuntos mais comentados no twitter e desencadeou uma série de protestos e boicotes dos brasileiros depois que a marca serviu um almoço para o presidente no Palácio do Planalto no mesmo dia que o Brasil chegou a marca de cem mil mortos pelo coronavírus. Recentemente, o empresário se envolveu em uma polêmica com o presidenciável Ciro Gomes (PDT) que o acusou de sonegar impostos.
A rede de restaurantes também foi condenada por plágio e concorrência desleal em 2017. Após oito anos, o restaurante Camarões conseguiu na Justiça a condenação do Coco Bambu, sob a alegação de que o restaurante cearense copiou a decoração, uniformes dos garçons, modelo de negócios, pratos e até o cardápio do empreendimento potiguar. Antes de se chamar Coco Bambu, o estabelecimento se chamava Camarões Beira-Mar até mudar o nome por decisão judicial, e iniciar a expansão pelo país.
A rede de restaurantes começou como uma pastelaria, há 31 anos em Fortaleza, e se especializou em pescados e frutos do mar. Atualmente, são 64 lojas em todo o país e o faturamento anual de R$ 1 bilhão.
O que diz a defesa dos outros empresários
José Isaac Peres, sócio-fundador da Multiplan e José Koury, proprietário e idealizador do Barra World Shopping não se pronunciaram.
Ivan Wrobel - Construtora W3
A defesa disse que o empresário “tem um histórico de vida completamente ligado à liberdade. [...] Iremos colaborar com o que for preciso para demonstrar que as acusações contra ele não condizem com a realidade dos fatos”, afirmou em nota.
Luciano Hang - Havan
Por nota, a assessoria informou que o empresário “Segue tranquilo, pois está ao lado da verdade e com a consciência limpa. […] Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu nunca, em momento algum falei sobre golpe ou sobre STF”.
André Tissot - Grupo Sierra
Em nota, a defesa afirmou que o grupo Sierra e o empresário “não irão se manifestar sobre o tema”.
Marco Aurélio Raymundo - Morongo - Mormaii
A defesa de Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, disse que ele “de fato foi contatado hoje pela Polícia Federal, ainda desconhece o inteiro teor do inquérito, mas se colocou e segue à disposição de todas autoridades para esclarecimentos”.
Meyer Joseph Nigri - Tecnisa
Informou, por meio dos seus advogados, que o empresário “mesmo sem ter tido acesso aos autos do inquérito, como era seu direito, concordou em ser ouvido nesta manhã para colaborar com as investigações. Respondeu a todas as perguntas formuladas pela autoridade e rechaçou qualquer envolvimento com associação criminosa ou práticas que visam à abdicação do Estado Democrático ou preconizam golpe de Estado. Ao contrário, reafirmou sua firme crença na democracia e seu respeito incondicional aos poderes constituídos da República”.
A redação do BDF entrou em contato com a assessoria de comunicação da Policia Federal no Ceará, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.
Para receber nossas matérias diretamente no seu celular clique aqui.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia