Tem 30% o neofascismo no Brasil? O que conta para nós é que 70% são contra
“A disputa política desta eleição é entre o Bolsonaro e o Lula”, afirmou o economista João Pedro Stedile em participação no primeiro episódio do podcast Três por Quatro, produzido pelo Brasil de Fato.
O programa volta ao ar com exibições semanais a partir desta sexta-feira (26) e abre a nova temporada com uma conversa sobre os perfis das candidaturas em disputa e as sabatinas apresentadas ao longo da semana pelo Jornal Nacional, da TV Globo.
Ouça aqui:
Stedile, liderança histórica do MST, é comentarista do podcast durante o período eleitoral. Ele lançou a frase que abre esse texto ao comentar as entrevistas concedidas por presidenciáveis à emissora carioca nos últimos dias.
Para o economista, as transmissões reafirmaram o que pesquisas de opinião pública confirmam sobre as tentativas frustradas da elite em construir uma terceira via para as eleições. O clima morno das sabatinas se junta aos elementos que evidenciam a disputa “entre a volta de um projeto de país, que o único que tem são as forças ao redor do Lula, ou a continuidade desse neofascismo maluco do Bolsonaro.”
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João Pedro Stedile alertou que a crise de projetos para o país leva a população a não se orientar pelo debate de ideias, mas sim por simbologias. “O Bolsonaro é o símbolo da direita, do fascismo, das armas, da violência, da mentira. Por isso ele tem os fieis 30%. Mas tem 30% o neofascismo no Brasil? Tem. Sempre tiveram. A direita sempre teve uma base eleitoral forte no Brasil. O que conta para nós é que 70% são contra.”
Tchutchuca também do mercado?
Convidada da semana no podcast, a cientista política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ressaltou que o que Bolsonaro representa não é novidade e que não há moderação possível no comportamento do candidato.
"É importante observar que o Bolsonaro não volta atrás, ele só dobra a aposta. Muita gente fala que ele está moderando (o tom). Imagine uma espiral que sobe. É assim que Bolsonaro se comporta no sentido da truculência da sua fala. Ele está sempre para cima, ascendente, mas ele faz pequenas espirais de ida e vinda."
Ela destacou também que, na entrevista ao telejornal da TV Globo, o candidato colocou em pauta os mesmos princípios de conservadorismo e violência que sempre pregou. "Os principais conteúdos dos sete mandatos dele como deputado federal estavam todos ali (na sabatina). Uma ideia de ordem militarizada e beligerante, que tem a ver com uma ideia de família e sociedade reacionária e nostálgica. Tem ali também uma postura antiestablishment, que está presente também na sua trajetória legislativa, não é uma novidade."
A professora e pesquisadora também mencionou a obediência de Bolsonaro aos interesses do mercado, por mais que ele tente se mostrar uma figura de fora do jogo econômico. "Mesmo que faça programas de distribuição econômica, com matiz eleitoral, a custo de outras políticas públicas muito mais eficazes", o candidato demonstra respaldo aos lucros da elite econômica.
“Ele sempre dá respaldo ao mercado. Sempre que pode, deixa claro que vai respeitar o mercado. A prioridade é a reeleição, o poder dele e dos filhos, mas logo vem a rentabilidade dos investimentos financeiros. Isso é importante, porque muitas vezes a gente cai na esparrela que o Bolsonaro não é um candidato do mercado e todo dia passa uma notícia no jornal dizendo que o mercado rompeu com Bolsonaro. O mercado nunca vai romper com Bolsonaro. Porque ele dá inequívocos sinais que vai respeitá-lo.”
História, música e cultura
A nova temporada do podcast Três por Quatro abre espaço também para a música brasileira. O quadro Quem foi que inventou o Brasil fala sobre a história do país por meio da MPB. Inspirada na série de livros com o mesmo nome, de autoria do jornalista e ex-ministro da comunicação Franklin Martins, a atração tem como ponto de partida uma pesquisa minuciosa realizada por ele.
Ao fim de cada transmissão, o time que está no ar compartilha sugestões culturais com a audiência. Na primeira edição, as indicações foram de Chico Buarque, símbolo da música brasileira, à banda coreana BTS, fenômeno pop global.
O Podcast é apresentado por Nara Lacerda e Igor Carvalho e criado e dirigido por Rodrigo Gomes e Camila Salmazio, que atuam da equipe de jornalismo do Brasil de Fato. Novos episódios são lançados toda sexta-feira pela manhã.
Edição: Rodrigo Durão Coelho