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Opinião

Resenha | Aos interessados em teatro e luta de classes

Sobre a profissão do ator traz a visão de Brecht, um dos mais inovadores dramaturgos da história, sobre atuação teatral

28.ago.2022 às 16h29
São Paulo (SP)
Iná Camargo Costa

Para Brecht, autor da peça Schweyk na 2ª Guerra Mundial, só o que tem importância histórica deveria ser mostrado - BERTRAND GUAY / AFP

Como disse um militante da causa socialista no Brasil, vivemos num tempo em que, sem paradoxo, a classe dominante exibe uma afiadíssima consciência de classe enquanto o proletariado mal sabe o que é isso. Este nem ao menos percebe que seus interesses são diametralmente opostos aos da classe dominante e, por isso, adere a projetos políticos que só contemplam a continuidade da dominação. Estamos, já em homenagem ao livro objeto desta resenha, propositalmente assumindo a máscara de ignorante do papel desempenhado por partidos tidos como de esquerda entre nós para contribuir com tal descalabro.

Como parte da classe trabalhadora, atores sofrem da mesma síndrome e a expõem de maneira muito evidente (nos palcos, nas telas e nas plataformas digitais), uma vez que se transformaram em instrumentos de precisão para o cultivo e a disseminação dos valores ideológicos da dominação: individualismo exacerbado, empreendedorismo, competitividade alucinada e uma infinidade de etcéteras.

Um livro como Sobre a profissão do ator não tem nada a dizer à chamada "classe" teatral integrada na coreografia geral das nossas artes cênicas na disputa em graus variados por celebridade nas mídias antigas (como os palcos) e recentes (como as plataformas digitais). Em compensação, os que já ouviram falar em Brecht e teatro épico, e se interessam pela briga de martelo e foice no escuro que eles pressupõem, podem começar a festejar esta publicação pois, para variar, o Mestre aqui objetivamente suprassume tudo o que já foi produzido, desde o século XVIII, sobre a arte de representar gente em cena. E pela razão que ele mesmo enuncia: adota o ponto de vista mais exigente possível, que é o dos trabalhadores na luta de classes. Isto significa suprassumir as técnicas dramáticas da representação de relações interpessoais através das épicas da representação das determinações de classe das relações interpessoais.

O livro foi organizado por Werner Hecht e publicado na Alemanha em 1970. Publica-se no Brasil agora, passado meio século, graças ao empenho da Editora 34 e dos tradutores (militantes da causa) Laura Brauer e Pedro Mantovani, que ainda produziram uma introdução muito didática, e por isso mesmo bem vinda, além de notas extremamente esclarecedoras. É bom avisar desde já que a própria organização do livro é brechtiana: Hecht tratou de dar títulos a vários textos de modo a neles evidenciar que Brecht pressupõe o conhecimento do trabalho de Stanislavski.

Não se pode atribuir exclusivamente à ditadura que nos martirizou nos 21 anos transcorridos entre 1964 e 1985 a responsabilidade pela ausência entre nós do Brecht preocupado com o trabalho do ator épico. Há outros responsáveis pela tese maledicente de que ele não se interessava por esta parte essencial à plena realização do espetáculo e pelo silêncio em torno deste livro, mas não mergulharemos neste pântano.

Uma das razões para a persistência da referida tese é apresentada por Laura e Pedro na Introdução, nota 4: o desafio que enfrentou o dramaturgo e diretor dialético nestes textos foi o de elevar ao plano do conceito os resultados da experimentação cênica (sobre este item, vejam-se neste volume os elogios aos trabalhos de atrizes como Helene Weigel e Therese Giehse, bem como de atores como Ernst Busch, entre outros). Brecht tratava de enfrentar as dificuldades dos atores (e do público) para compreender o teatro épico em seu contexto histórico que, nunca é demais lembrar, é o da luta revolucionária dos trabalhadores: eis o ponto que nos interessa.

Como insiste Brecht, a profissão de ator está submetida, como todas as demais, às relações capitalistas de produção: o ator é assalariado e o valor do seu trabalho é definido no mercado pela luta de classes. Teatro, cinema, televisão e demais praças de exposição do trabalho do ator podem e devem ser pensadas em conjunto, pois estamos falando de indústria cultural, como queria Adorno e como se designa o setor nos Estados Unidos. Brecht acrescenta que este é um ramo do tráfico de entorpecentes (como as igrejas, acrescentemos). Quanto aos atores (uma especialidade entre inúmeras outras), seu treinamento deve torná-los aptos a produzir os sonhos que, segundo os publicitários (críticos incluídos), "o público deseja consumir". Até Hegel, na Filosofia do direito, já observava que primeiro se produzem as commodities e depois se buscam os consumidores. Parte importante da técnica do ator desta indústria tem por meta apassivar o público, isto é, extinguir nele a relação ativa, inteligente e igualmente artística com o espetáculo, de modo a produzir a seguinte correlação: quanto maior a arte do ator, menor a do espectador.

Mas desde o século XIX há um teatro sintonizado com a luta dos trabalhadores que se empenha em expor e criticar a convivência social. Na prática e na teoria, o teatro épico é uma síntese dessas experiências. Este livro de Brecht é destinado aos candidatos a atores neste teatro (que não se restringe ao épico, nunca é demais lembrar). Aqui eles são convidados, antes de mais nada, a estudar muito. Só assim aprenderão a entender a diferença entre seu ponto de vista, o do dramaturgo, o da obra e os dos personagens, que desde século XX são designados como figuras porque não correspondem mais ao conceito burguês de personagem. Entenderão que é essencial o estudo da peça como um todo, que esta e cada uma das cenas têm uma estrutura pensada e que o ator precisa se apropriar do pensamento que as estruturou; aprenderão a identificar (isso mesmo!) as contradições e a hierarquizá-las. Sobretudo: aprenderão que em cena atores sempre respondem por dois “eus”: o seu próprio e o da figura a representar. É isto que os habilita, por exemplo, a criticar suas figuras com simples gestos. Aqui também se aprende a historicizar, ou identificar relações de tempo, espaço e relações sociais sem nunca perder de vista que os conteúdos das peças estão em permanente mutação.

Mais algumas coisas que se aprendem: a surpreender-se, ou distinguir o habitual do inusitado, ou o contrário, tornar o habitual esquisito, estranho. Ficar ao mesmo tempo atento e distraído e chamar sempre a atenção do espectador, não para a sua pessoa e sua técnica inexcedível, mas sim para o assunto de que trata a peça. Este é um dos feitos de Helene Weigel. Ou então, o feito de Therese Giehse: elaborar uma concepção de sua figura que dizia respeito à encenação como um todo. Estamos, é claro, falando em diferentes maneiras de produzir os famosos efeitos de estranhamento. É preciso acrescentar que eles estabelecem a relação mais livre possível com o espectador, pois a cena é produzida para produzir conhecimento. Ainda mais importante: estamos no espaço da diversão (é teatro!) e quem não ensina divertindo e não diverte ensinando não tem nada a fazer no teatro: o teatro deve ser um lugar agradável. Atores e atrizes são aqui desafiados a atuar de tal forma que o público se empenhe em voltar e ver o espetáculo novamente para apreender tudo.

Como o ator que só se interessa por si mesmo não passa de um burguês, o ator brechtiano rejeita enfaticamente esta atitude, assim como rejeita a definição burguesa de espectador – uma figura passiva, deficiente mental, disposta a ser hipnotizada por meia dúzia de truques ilusionistas baratos. O ator do teatro épico sabe que o público é dotado de inteligência, informado e capaz de se comportar diante dele como um historiador, interessado em processos históricos, nos modos como a sociedade muda.

Para Brecht e para este espectador, só o que tem importância histórica deveria ser mostrado. E história é a história da luta de classes. Tudo isto e muito mais está neste livro em boa hora editado no Brasil.

Editado por: Thalita Pires
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